ARTIGO

A morte de Micaela não pode ser naturalizada

A população do Rio Grande do Norte pede justiça e paz. Jovens como Micaela não podem continuar tendo suas vidas e os seus sonhos interrompidos.
A morte de Micaela não pode ser naturalizada

Manifestação contra morte de Micaela percorreu ruas de Nova Parnamirim, em Natal (RN). Foto: Divulgação

Micaela Ferreira era uma jovem trabalhadora, amada por amigos e familiares, que acabara de transferir seu ponto comercial para o Shopping Ayrton Senna, na Zona Sul de Natal (RN), em busca de segurança. No dia 13 de julho, quando deu início ao expediente de trabalho, a cabeleireira e barbeira de apenas 26 anos não imaginava que aquele seria o último dia de sua vida.

Durante uma tentativa de assalto a carro-forte, Micaela foi feita de refém por assaltantes e, em meio a troca de tiros, foi atingida com um tiro na cabeça. Não resistiu ao ferimento e morreu, adentrando para as estatísticas de homicídio em um estado marcado pela crescente violência e pela ausência de políticas eficazes de segurança pública.

Não podemos permitir que Micaela se torne apenas um número a mais no mapa da violência que apavora a população do Rio Grande do Norte. A imensurável dor que aperta o peito dos seus pais deve alimentar a nossa indignação e nos convocar a lutar por paz e justiça. De acordo com dados do Observatório da Violência Letal Intencional (OBVIO), o RN chegou ao mais alto índice de letalidade de sua história. Foram mais de 1.115 homicídios em menos de seis meses, o que significa um crescimento de 27,6% em relação ao mesmo período de 2016.

Se é verdade que o crescimento da violência não é apenas um fenômeno estadual, também é verdade que, hoje, de cada 300 homicídios cometidos no mundo, 1 acontece em nosso estado. A média de 6,8 homicídios por dia vem acompanhada da também cruel invisibilidade da maioria absoluta das vítimas: jovens, negros, pobres, moradores de periferia.

Faz-se urgente e necessário debater, de forma democrática e participativa, uma política de segurança pública intersetorial, que não seja sinônimo de contenção e repressão da população pobre. Precisamos investir em políticas de prevenção da violência, buscar mecanismos de financiamento e trabalhar a repressão de maneira qualificada. Segurança pública não pode ser vista exclusivamente como “caso de polícia”.

No momento em que o país atravessa aquela que pode ser considerada a mais grave crise institucional desde o término da ditadura e adota medidas que aprofundam a desigualdade e a injustiça social em nosso país, a crise da segurança pública desponta como a crise das crises. Ao congelar os investimentos públicos durante 20 anos e eliminar direitos trabalhistas da população mais pobre e vulnerável, o governo ilegítimo contribui para agravar a problemática da violência em âmbito nacional.

A população do Rio Grande do Norte pede justiça e paz. Jovens como Micaela não podem continuar tendo suas vidas e os seus sonhos interrompidos.

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