Aécio e Caiado articularam movimentos espontâneos, diz tucana arrependida

Aécio e Caiado articularam movimentos espontâneos, diz tucana arrependida

Cyntia Campos
21 de novembro

No último domingo (20), Dia Nacional da Consciência Negra, os notórios grupos de direita Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua convocaram uma manifestação para a mesma hora e local (14 horas, na Avenida Paulista) da tradicional marcha da Consciência Negra. A provocação aos militantes e movimentos antirracistas era mais um capítulo da incessante busca dos holofotes, mas a manchete veio de outra direção: na mesma data, a ex-militante do PSDB Daniela Schwery revelava, em entrevista ao site Diário do Centro do Mundo (DCM), as ligações umbilicais do MBL e Vem Pra Rua com Ronaldo Caiado (DEM) e Aécio Neves (PSDB). 

Segundo Schwery, a suposta “espontaneidade” das manifestações de 2013 e as manifestações pró-impeachment é conversa para boi dormir. O processo de desestabilização do governo petista teria sido encabeçado e financiado por caciques Aécio e Caiado. As denúncias da ex-tucana não chegam a ser totalmente inéditas. Há muito que já se sabia do financiamento do banqueiro Jorge Paulo Lehmann ao Vem Pra Rua e da presença de dinheiro dos irmãos Koch—megainvestidores americanos ligados a movimentos ultraconservadores—na organização das “genuínas” marchas de 2013.

O que Schwery aponta, porém, é que a instrumentalização desses “movimentos espontâneos” foi muito mais articulada do que apenas dar um dinheirinho para os meninos se expressarem. “Espontâneo o cacete. Eu fui a uma reunião quando o Vem Pra Rua estava querendo surgir no cenário com o Rogerio Chequer. Era gente que não queria aparecer, sempre ficou escondida, não subia nos carros de som. Essa turma é PSDB”, conta a ex-tucana.

Não surpreende

O senador Paulo Rocha (PT-PA) não ficou surpreso com as revelações de Daniela Schwery. “Desde 2003, quando assumimos o governo, a direita brasileira trabalha para nos varrer do mapa”, lembrou ele, citando a manifestação do ex-senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), um dos próceres da direita nos anos 80 e 90 que pretendia “acabar com essa raça [o PT]. Vamos nos ver livres dessa raça por pelo menos 30 anos”.

Para Paulo Rocha, o PT, os governos petistas e os movimentos sociais progressistas — cada um a seu modo e na sua esfera de atuação — deveriam ter sido mais atentos à leitura estratégica das movimentações da direita no Brasil ao longo dos 13 anos em que Lula e Dilma estiveram à frente do Executivo. No que diz respeito ao PT, o senador lembra que o partido deixou de radicalizar a democracia, avançando em mudanças estruturais, como a reforma política—“para reduzir a influência do poder econômico”—e a reforma tributária, para garantir que os mais ricos passassem a efetivamente contribuir para o financiamento do Estado.

Infiltração e embuste

Quanto a Daniela Schwery, ela sabe o que diz, já que foi uma das pioneiras das “campanhas espontâneas” contra os governos petistas. São delas os célebres vídeos conclamando a população a ir para as ruas “contra a ditadura comunista que seria a reeleição de Dilma’. Hoje ela se diz “enganada pelo PSDB”, partido do qual se desfiliou. Na entrevista ao DCM ela afirma que MBL, Vem Pra Rua e quejandos não têm nada de movimento social. “São profissionais da comunicação. Eles estudam as massas e tal. Eles foram se infiltrando e forjando ser algo espontâneo”.

A cúpula do processo segundo a tucana arrependida, seriam os senadores Aécio Neves e Ronaldo Caiado. “A cúpula dessa galera não era clara pras pessoas. E quem conduziu dessa maneira foi o Aécio junto ao Caiado, que fizeram um acordão para que o pedido de impeachment produzido pelo Helio Bicudo fosse adiante numa grande jogada. Caiado pagou a Carla Zambelli [líder de uma organização que se apresenta como “Varre Brasil”] para liderar esse processo todo de empurrar o impeachment do Bicudo, por isso queremos CPI desses ‘movimentos”.

A intenção de toda essa movimentação, segundo Schwery, seria evitar que a Operação Lava Jato chegasse aos caciques tucanos e seus aliados. “O FHC, se você perguntar ele vai dizer que não, mas ele aceita voltar [numa eleição indireta, após a derrocada de Temer]. Deve estar com o c… na mão com o avanço da Lava Jato e já fez as continhas de que antes de 2018 a operação chegaria nele. Então o Xico Graziano [um dos principais assessores do ex-presidente, autor do artigo “Volta, FHC”] já veio arquitetando isso, visando o foro privilegiado”.

 

Leia a íntegra da entrevista de Daniela Schwery ao Diário do Centro do Mundo

 

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