No Senado

União estável entre pessoas do mesmo sexo tem avanço legal

Apesar da aprovação, senadores conservadores articulam manobra para frear tramitação do projeto
União estável entre pessoas do mesmo sexo tem avanço legal

Foto: Agência Brasil

No momento em que a população brasileira presencia o maior desmonte das políticas sociais e retirada de direitos adquiridos das últimas décadas, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou nesta semana, em turno suplementar, substitutivo do senador Roberto Requião (PMDB-PR) ao projeto que permite o reconhecimento legal da união estável entre pessoas do mesmo sexo (PLS 612/2011).

A matéria iria à análise da Câmara dos Deputados. Porém, o senador Magno Malta (PR-ES) adiantou durante a discussão do projeto a intenção de apresentar recurso fazendo com que o projeto ainda seja analisado pelo plenário do Senado. De acordo com a avaliação dele, o plenário acabará com “essa aberração”. Eduardo Lopes (PRB-RJ) e Wilder Morais (PP-GO) também anunciaram votos contrários ao projeto. Caso o projeto não seja alvo de recurso, ele seguirá para análise da Câmara.

Atualmente, o Código Civil reconhece como entidade familiar “a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. Com o projeto aprovado, a lei será alterada para estabelecer como família “a união estável entre duas pessoas”, mantendo o restante do texto do artigo.

O texto determina ainda que a união estável “poderá converter-se em casamento, mediante requerimento formulado pelos companheiros ao oficial do Registro Civil, no qual declarem que não têm impedimentos para casar e indiquem o regime de bens que passam a adotar, dispensada a celebração”.

A conversão em casamento da união estável entre pessoas do mesmo sexo já é autorizada por juízes. No entanto, há casos de recusa, fundamentada na inexistência de previsão legal expressa. O projeto de lei tem como objetivo eliminar as dificuldades nesses casos, mas não permite o chamado “casamento direto”, em que o casal passa por um processo de habilitação, mas não precisa comprovar união estável.

No relatório, Roberto Requião lembrou decisão de 2011 do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconhece o direito à formalização da união entre casais homossexuais. Ele observou, no entanto, que é responsabilidade do Legislativo adequar a legislação em vigor ao entendimento consagrado pelo STF.

Na avaliação da senadora Regina Sousa (PT-PI), presidenta da Comissão de Direitos Humanos (CDH), o projeto significa um avanço no sentido de garantir a igualdade de direitos aos cidadãos LGBTTT no País.

“É fundamental que num momento de retirada de direitos de toda ordem não só no Brasil, mas no mundo, o Legislativo brasileiro aponte no sentido de ampliar as garantias e os direitos das minorias”, disse a senadora.

Casamento homoafetivo pelo mundo
A partir dos anos 2000 o casamento homoafetivo começou a ser reconhecido como direito em diferentes países. Em 2001, a Holanda foi o primeiro país do mundo a permitir legalmente a união de pessoas do mesmo sexo.

Em 2003 Massachusets foi o primeiro estado dos Estados Unidos a conceder o direito ao casamento para os homossexuais. Em 2005, Canadá e Espanha também passaram a reconhecer tais uniões.

Em 2006 a África do Sul se tornou o primeiro país africano a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. De acordo com a ONU, o país virou o destino de refugiados por homofobia no continente africano.

Em 2010 a Argentina foi o primeiro país na América do Sul a permitir esse tipo de união.

Em 2013 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou que os cartórios do Brasil deveriam celebrar casamentos homoafetivos.

Em 2015 a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que nenhum estado poderia proibir a união de pessoas do mesmo sexo. 13 estados ainda vetavam esse tipo de casamento.

Apesar dos avanços, cerca de 73 países ainda consideram crime as relações homossexuais. O comportamento homossexual é punido com pena de morte em mais de 13 países, de acordo com dados da Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA, em inglês)

Com informações da Agência Senado

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