Manipulação

Como a Folha muda versão para gerar manchetes contra Lula

Acusações de delatores divulgadas com estardalhaço não têm se confirmado em depoimentos
Como a Folha muda versão para gerar manchetes contra Lula

Foto: Reprodução

O jornal Folha de S. Paulo publica hoje matéria baseada em suposto vazamento de delação premiada contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A matéria vem com grande destaque na edição do primeiro domingo após pesquisa eleitoral indicar que, apesar da perseguição movida contra Lula por setores da imprensa e alguns agentes públicos, ele venceria as eleições para presidente da República tanto no primeiro quanto no segundo turno.

No contato feito com a assessoria de imprensa do ex-presidente (leia abaixo a troca de e-mails entre a Folha e a assessoria), a Folha de S.Paulo mudou em poucas horas a versão da sua apuração. Primeiro haveria um “interlocutor de Lula” que teria feito o pedido citado na suposta delação a que a Folha teve acesso. A reportagem informou que o nome desse interlocutor não seria revelado. Depois, o tal interlocutor sumiu em uma informação de última hora que teria chegado na noite de sexta-feira (quando os jornais fecham a maior parte da sua edição de domingo). Fica a impressão de alteração da história, pelo jornal ou por sua fonte, após terem sido questionados sobre a falta de informações básicas. A Folha de S.Paulo também não soube prover nenhum documento ou mesmo informações simples sobre a história que sustenta sua matéria: em que ano ela teria acontecido? Lula deixou a Presidência da República em 31 de dezembro de 2010 e não ocupa nenhum cargo público desde então. Diante de informações genéricas, sem documentos, de origem ilegal, que mudam em poucas horas, não há o que comentar ou dar crédito a suposições.

Por lei, delações não são provas, quanto mais vazamentos de supostas delações, sem documentos, contexto, provas do ocorrido ou sequer o ano em que teria acontecido o fato. Servem apenas para gerar manchetes sensacionalistas contra Lula e sua família.  A Folha de S. Paulo costuma publicar esses ataques contra Lula aos domingos, atribuindo como “presentes”  ao ex-presidente um estádio que é do Corinthians, ou uma piscina que é do Palácio do Planalto.

Supostas acusações de delatores divulgadas com estardalhaço na imprensa não têm se confirmado em depoimentos em audiências, onde mais de 11 delatores chamados como testemunhas de acusação pela Lava Jato foram incapazes de apontar qualquer ato ilegal ou vantagem indevida recebida pelo ex-presidente Lula. A imprensa, que faz estardalhaço de versões sem contexto e distorcidas de supostas delações, não dá destaque algum quando delatores como Paulo Roberto da Costa, Nestor Cerveró ou Pedro Barusco dizem, perante o juízo e com compromisso de dizer a verdade, jamais terem ouvido falar do envolvimento de Lula em ilegalidades ou recebimento de qualquer vantagem indevida (veja vídeo em https://www.facebook.com/Lula/videos/1219752334760431/).

Abaixo, a troca de mensagens entre a assessoria e a reportagem da Folha que mostra as informações faltando na matéria e a mudança de versão na história ao longo do dia.
Em 17 de fevereiro de 2017 13:20, Bela Megale escreveu:

Ola, tudo bem?

Tivemos a informação de que o Alexandrino Alencar, delator da Odebrecht, disse em acordo com a Lava jato que a empresa pagou um orientador de carreira, uma espécie de coach, para ajudar Luis Claudio Lula da Silva na sua carreira no marketing esportivo e na implementação do campeonato Touchdown.

Também temos a informação de que o pedido foi feito por um interlocutor do ex-presidente Lula.

Gostaria de saber se o fato aconteceu e se Luis Claudio, Lula ou a defesa deles gostaria de comentar o assunto.

Poderia nos dar uma resposta até as 19h?

Obrigada.

Bela

 

Em 17 de fev de 2017, às 14:04, Ass. de Imprensa – Instituto Lula escreveu:

Caros,

Imagino que seja para a manchete de domingo. Sempre é bom receber esses contatos na sexta, é bom saber que mantemos alguma relevância.

Esse interlocutor tem nome?

Atenciosamente,

 

Em 17 de fevereiro de 2017 14:12, Bela Megale escreveu:

Ola,

Não vamos abordar o nome do interlocutor na matéria.

 

Em 17 de fev de 2017, às 14:24, Ass. de Imprensa – escreveu:

Vocês não sabem o nome do interlocutor, ou sabem e não vão dar?  Sabem dizer o ano do ocorrido, ou isso também não será abordado na matéria?

abraço,

José

 

Em 17 de fevereiro de 2017 14:34, Bela Megale escreveu:

Chrispiniano, não iremos citar o nome e o ano. Pode passar o contato da assessoria do luis Claudio?

 

17 de fevereiro de 2017 15:17

De:  Ass. de Imprensa – Instituto Lula

Enviado: sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017 15:17

Para: Bela Megale

Cc: Walter Henrique Nunes

Assunto: Re: Questão matéria luis Claudio

Caros

segue a resposta da assessoria do ex-presidente:

A pergunta, e pelo que você me diz também a matéria, baseiam-se em suposta delação para obtenção de benefícios judicias que deveria estar sob sigilo, sem apresentar transcrição, documento, contexto, época do ocorrido ou qualquer informação básica que permita até compreender o que está sendo perguntado. Não vamos comentar supostas informações incompletas baseadas em supostos documentos fora de contexto que estariam sob sigilo judicial.

 

Em 17/02/2017, às 20:23, Bela Megale  escreveu:

Chrispiniano,

Desculpe, mas tivemos a correção de uma informação há poucos instantes. O pedido da contratação do orientador profissional teria partido do próprio ex-presidente Lula.

Esse dado constará na matéria. Se quiser enviar alguma resposta sobre o fato, pode encaminhar até sábado, amanhã às 11h, ou hoje até qualquer hora.

Obrigada

Bela Megale

Folha de S. Paulo

 

Em 17 de fev de 2017, às 20:28, Ass. de Imprensa – escreveu:

Mantenho a nota, ainda mais porque a história vai assim mudando conforme avança o dia.

Você tem documento sobre o assunto, que comprove essa líquida apuração?

Atenciosamente,

Jose

 

Em 17/02/2017, às 21:29, Bela Megale escreveu:

Olá, não abrimos os documentos que tivemos acesso. Obrigada

Reprodução autorizada mediante citação do site PT no Senado

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