CPI Cachoeira: radialista diz que foi pago com caixa 2 de Perillo

Bordoni acusou o governador Perillo de ter mentido em seu depoimento à CPI do Cachoeira.

cpmi_interna

Em  depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a organização criminosa chefiada por Carlos Augusto Ramos, o  Carlinhos Cachoeira,  o radialista Luiz Carlos Bordoni atacou seu antigo empregador, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Disse que o tucano fazia pagamentos com dinheiro arrecadado de caixa dois de campanha e o acusou de ter mentido em seu depoimento à Comissão.

Bordoni bateu boca com a tropa de choque formada pelos parlamentares da oposição, particularmente o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), que se mostrou apoplético em vários momentos, além de ser xingado de vagabundo e mentiroso pelo senador Mario Couto (PSDB-PA). Imune à tentativa de desqualificação, Bordoni garantiu que é honesto e reconheceu ter recebido dinheiro de caixa dois por serviços prestados a várias campanhas eleitorais do atual governador de Goiás, Marconi Perillo, o que pode configurar crime de sonegação fiscal tanto para quem pagou, quanto para recebeu.

“Nós recebemos dinheiro por fora em todas as campanhas. Nós trabalhamos para um patrão que sabemos que luta para arrecadar recursos de campanha. Quando você recebe em dinheiro e que você possa comprovar a origem, tudo bem. Mas, eu pergunto: como depositar dinheiro que você não sabe de onde vem?” disse, respondendo a questionamentos sobre por que pedia que parte dos depósitos nas contas de sua filha Bruna.

O depoente tentou  demonstrar, de um lado, que era muito bem informado sobre irregularidades cometidas pelo governador tucano, já que fazia suas campanhas políticas desde 1998. De outro, quis mostrar-se ingênuo, ao insistir que  não tinha contrato assinado sobre sua participação na campanha de Perillo para governador e acreditava que era ao contratante que cabia a responsabilidade pelo recolhimento de tributos por pagamentos recebidos.

Segundo Bordoni, parte do que recebeu por seu trabalho foi pago pelo próprio Perillo e outra parte foi paga, sem que o jornalista soubesse, por empresas ligadas ao contraventor Carlinhos Cachoeira. “Fiz um trabalho limpo, mas fui pago com dinheiro sujo de caixa dois”, declarou, acrescentando que Perillo “faltou com a verdade” ao depor na CPI.

Campanha

O jornalista explicou que pediu R$ 200 mil para fazer a  campanha do tucano ao governo de Goiás em 2010. Acabou aceitando uma contraproposta que incluía o pagamento de R$ 120 mil e outros R$ 50 como bônus em caso de vitória.

Afirmou que recebeu R$ 40 mil das mãos do governador. O pagamento, garantiu, foi feito em dinheiro, entregue em um envelope amarelo que teria sido retirado de um freezer.

Embora tenha assegurado que não trabalhou para a Art Mídia, admitiu depois ter recebido R$ 33 mil da empresa. A terceira parcela, de R$ 10 mil, teria sido entregue pelo tesoureiro de campanha, Jayme Rincón, que deveria ter falado também à CPMI, mas apresentou atestado médico justificando sua ausência. No início de seu depoimento, Bordoni chegou a afirmar que “engoliria” a nota fiscal da Art Mídia se o nome dele constasse na nota fiscal.

“Faltaram R$ 90mil, que foram depositados em duas parcelas de R$ 45 mil nas contas de minha filha Bruna”, garantiu. Perguntado sobre por que o dinheiro era depositado nas contas da moça e não em suas próprias contas, respondeu que a filha é responsável por todos os seus pagamentos.

Bordoni sugeriu à CPI que investigue o irmão do governador, Antonio Perillo, e “siga os passos” de uma consultora financeira de “graúdos e famosos” citada em conversas de Cachoeira. Entre os clientes da consultora, disse, estariam Lady Gaga.

Bate-boca

Durante o depoimento, o jornalista provocou uma acalorada discussão com parlamentares da oposição ao afirmar que alguns deles não teriam interesse em investigar a relação de Carlos Cachoeira com políticos. “Alguns dos senhores não estão preocupados em esclarecer coisa alguma”, afirmou.

Logo após proferir a frase, alguns parlamentares deram murros na mesa em protesto. “É um vagabundo”, gritou o deputado Rubens Bueno (PPS-PR). “Vagabundo”, emendou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Ao lado de Bordoni, o vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), cochichou no ouvido do depoente. “Se comporte”. O presidente da Comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) interveio. “Entendo as emoções de vocês (parlamentares). Espero que o senhor tenha mais respeito com essa comissão”, afirmou.

Sonegação

Respondendo ao senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) sobre por que não havia declarado os recursos que teria recebido em dinheiro vivo das mãos do governador Marconi Perillo, enrolou-se. “Eu usei o dinheiro para pagar minhas contas, esquivou-se. Por fim, admitiu: “eu não quis declarar”.

O dinheiro recebido nas contas da filha foram declarados, mas o Imposto de Renda está sendo recolhido em parcelas, a partir do dia 30 de abril – quando os contribuintes com imposto a pagar referentes a rendimentos de 2011 devem recolher a primeira de seis parcelas.

O senador Pedro Taques (PDT-MT) pediu ao vice-presidente da CPMI, Paulo Teixeira (PT-SP) que interviesse para manter a ordem quando o depoente respondeu à provocação do tucano Álvaro Dias (PR) com ironia. Dias perguntou se era verdade que Bordoni havia sido abduzido por extraterrestres, conforme o jornalista declarara em entrevista. Bordoni fez piada: “Estive em outros planetas, com todas as pessoas que passaram essa informação pro senhor. Elas estavam todas muito bem”.

A ex-chefe de gabinete de Marconi Perillo, que também deveria ter testemunhado hoje, conseguiu, na Justiça, o direito de se manter em silêncio e foi logo dispensada.

Giselle Chassot

Leia mais:

“Versão de Perillo para venda da casa não resiste”, afirma Odair Cunha

Depoimentos: prossegue a “fase governadores” na CPMI do Cachoeira

To top