Delcídio diz que o PT deve ouvir Lula e iniciar etapa de mudança e renovação

Delcídio diz que o PT deve ouvir Lula e iniciar etapa de mudança e renovação

Delcídio: Se o PT não renovar, se o PT não se reciclar, não avaliar toda essa experiência que nós vivenciamos, uma experiência transformadora no País, nós vamos ficar para trásO líder do Governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), ao sair de mais uma reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), por ele presidida, foi cercado pelos repórteres da rádio e TV Bandeirantes,  de São Paulo, que queriam sua avaliação sobre as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assunto que galvanizou a política desta terça-feira (23). Leia, abaixo, como se deu o encontro com os repórteres:

Rádio Bandeirantes – O quê que aconteceu com o Lula para fazer aqueles comentários?

Delcídio do Amaral – Eu acho que é preciso conhecer bem o contexto em que o presidente Lula fez esses comentários. Ele é militante, independentemente de ter sido presidente da República. É a maior liderança que nós temos. Agora, dentro desse contexto todo, uma coisa ele enfatizou e no meu ponto de vista tem grande relevância: o PT precisa mudar. Se o PT não renovar, se o PT não se reciclar, não avaliar toda essa experiência que nós vivenciamos, uma experiência transformadora no País, nós vamos ficar para trás. Isso não é diferente. Ele falou isso inclusive com Felipe González que teve a mesma experiência quando foi primeiro-ministro da Espanha com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). Perdeu as eleições, quer dizer, saiu do poder, do comando da Espanha, se reciclou, entendeu os sinais da sociedade e depois voltou.  Foi novamente eleito e comandou a Espanha por mais alguns anos. Então é natural. Acho que o presidente Lula, nesse aspecto, foi muito contundente e realista com o que estamos vivendo.

Rádio Bandeirantes – O que aconteceu até hoje na história do PT e até recentemente, são as decisões do ex-presidente sendo tomadas como verdades absolutas dentro do partido. Escolha de candidatos, a própria presidenta Dilma Rousseff. Então, qual é a parcela culpa que ele tem no partido?

Acho que quando você milita num partido e tem uma posição como a que o presidente Lula ocupa no Partido dos Trabalhadores, isso é natural da política. Você acerta e você erra. Só não acerta quem não faz. E acho que na política você toma decisões que te levam a uma reavaliação de uma série de coisas que resultam na validação dos acertos das decisões, correções de rota. Isso é da política, é natural. E o País ganhou uma dinâmica diferente inegavelmente. Acho que o Brasil que temos hoje não é o Brasil de doze anos atrás, de vinte anos. O Brasil mudou, teve um processo de inclusão forte, as pessoas tiveram acesso à informação, a bens de consumo. A sociedade avançou na educação, avançou no emprego e, claro, isso traz uma série de desdobramentos. Nós precisamos compreender esses passos e melhorar. Tem uma letra do Gilberto Gil que diz assim: prezado amigo Afonsinho eu continuo aqui mesmo. Aperfeiçoando o imperfeito, dando um tempo, desprezando a perfeição. Por que a perfeição é uma meta. A vida é assim. A gente vai vivendo, vai ajustando, vai reconsiderando. Tem que ter humildade para saber o que gente acertou, o que a gente errou e o que precisa rearrumar, e a vida continua.

TV Bandeirantes – O senhor não acha que pode ter uma revolta na base por ele ter criticado de que a base só quer cargo, só eleição, não pode ter um enfraquecimento da base aliada?

Não. Não. Você tem um governo de coalizão e partidos na base. Isso não é nenhuma surpresa aqui no Brasil, em qualquer lugar do mundo os partidos compõem a base do governo e ajudam o governo na administração. Isso é natural. Agora é evidente que não pode colocar como pauta única e exclusivamente cargos. Acho que é essa a conotação que o presidente Lula deu, ou seja, você tem que colocar como prioridade as políticas. Políticas públicas que o País vai promover sob o ponto de vista econômico, sob o ponto de vista social. É inegável que os partidos que estão na nossa base vão participar do governo. É natural isso.

Rádio Bandeirantes – Qual é a mudança efetiva que o partido vai fazer?

O presidente Lula foi muito correto ao colocar a necessidade de renovação de quadros, de lideranças. Acho isso absolutamente sadio, natural. Você pode ver em qualquer lugar. Instituições que tiveram sucesso, não só políticas, mas empresariais, elas souberam compreender que você, por melhor que seja um quadro, chega num momento até para dar perspectivas tem que trazer novos talentos, novas lideranças para a gente prosperar, para avançar. Isso é lei da vida. Eu cuido das minhas filhas para que elas sejam melhores do que eu fui, e elas, se Deus quiser, vão viver para que meus netos sejam melhores do que elas e melhores do que eu. Então, na política tem que fazer isso. Estruturas que se sedimentam há muito tempo chegam uma hora em que você não consegue mais exercitar a criatividade. Até em empresas você pode ser até um Pelé, bateu cinco anos comandando essa empresa você tem que sair. Sair por quê? Para dar oportunidade para quem chega, quem tem novas ideias. Acho isso extremamente sadio. A gente não pode encarar como critica, a vida é assim.

TV Bandeirantes –  Como a presidenta Dilma viu as críticas do presidente Lula, dizendo que ela mentiu na campanha e que o governo está no volume morto.

A presidenta Dilma não fez nenhum comentário. Estive com ela na reunião de coordenação política (segunda-feira) e nós discutimos aquilo que o Legislativo está cuidando que é a questão da desoneração, o próprio fator previdenciário, os próximos desafios que temos pela frente. A presidenta Dilma não fez qualquer comentário a respeito até porque numa reunião de coordenação, vocês hão de convir, não dá para fazer um debate ampliado, com muitas pessoas. São questões que tem que tratar com cautela e não tenho dúvida que a presidenta Dilma está avaliando esse contexto. Você precisa dialogar, entender e a presidenta Dilma e o presidente Lula são suficientemente experientes e maduros para alinhar a conversa se tiver alguma dissincronia entre o pensamento de um e de outro.

 Marcello Antunes

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