Delcídio do Amaral mostra preocupação com os leilões do pré-sal

O senador referiu-se à possibilidade de a Petrobras ter de assumir uma participação de 30% de todos os blocos exploratórios do pré-sal.

 


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A Petrobras precisa de recursos para seu
plano estratégico

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) afirmou que é preocupante a possibilidade de a Petrobras ter de assumir uma participação de 30% de todos os blocos exploratórios na área do pré-sal que forem disputados no leilão da 12ª Rodada de Licitação que acontecerá dia 21 de outubro. O senador expôs essa preocupação à diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, que participou nesta quarta-feira (28) de audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado (CI).

“Hoje há defasagem entre o preço lá fora e o valor do que se vende combustíveis, agora agravada com situação do câmbio. A Petrobras precisa de recursos para seu plano estratégico. Como a ANP vê os 30 % obrigatórios, porque qualquer lance terá de aportar 30% como operadora exclusiva do pré-sal. Isso não tira o objetivo dos blocos mais compatíveis com seus resultados ou com aquilo que se pensa e projeta no meio e longo prazo”, questionou Delcídio.

Magda Chambriard ponderou que na condição de diretora da agência tem de cumprir a lei, e que a sociedade e o Parlamento discutiu o modelo de partilha por três anos. “A partilha traz uma possibilidade, pelo lado econômico, que permite no pré-sal o ajuste na economicidade dos custos de exploração. No caso do campo de Libra (bacia de Santos), comporta um bônus de R$ 15 bilhões. A Shell adquiriu no Alaska uma área e pagou 3 bilhões. Gastou uma fortuna para perfurar no meio do gelo e numa comparação entre lá e aqui, R$ 15 bilhões não é um absurdo”, disse.

Ela acrescentou que a todas as empresas do setor petrolífero do mundo passam neste momento por ajustes. “Na década de 1970, as companhias petroleiras estatais não detinham 85% das reservas globais. Em 2012, as estatais detém 90% das reservas. Portanto, não é ruim. A estatal não sai perdendo e no caso da Petrobras o grande desafio é ter acesso a reservas”, afirmou.

A diretora-geral da ANP fez uma previsão de que o Brasil retomará a autossuficiência na produção de petróleo até o fim do ano. “Nosso parque de refino tem capacidade para processar dois milhões de barris por dia. Deixamos de ser autossuficientes por conta da manutenção de poços tanto da Petrobras quanto de outras empresas, mas vamos chegar ao fim do ano com 2,280 milhões por dia, o que diminui a importação”, disse ela.

Em resposta ao senador Delcídio do Amaral, que também chamou atenção para o cronograma de manutenção dos poços da Petrobras, que paralisam suas atividades, e também para o aumento da importação de derivados de petróleo, principalmente de gasolina, Magda Chambriard afirmou que a manutenção é absolutamente necessária, porque “é nosso passaporte para dobrar as reservas e uma garantia para se evitar acidentes (vazamentos).”

Ela reconheceu que a preocupação de Delcídio faz sentido porque hoje a ANP faz a atualização de dez campos de petróleo, a chamada desplotação. “Essa discussão é um embate entre operadoras e a ANP, que está exacerbado, mas o que nós sentimos é que precisamos de mais investimentos”, afirmou.

Pré-Sal
A diretora-geral da ANP disse que 13 empresas nacionais e estrangeiras já retiraram documentos relacionados à 12ª Rodada de Licitação de blocos petrolíferos na camada do pré-sal. O leilão está previsto para 21 de outubro. Esse novos blocos serão licitados pelo modelo de partilha de produção, onde o governo será remunerado conforme o volume produzido. O contrato de concessão onerosa é muito fixo. O governo recebe 10% de bônus e, dependendo da alta produtividade, recebe de 0% a 40% em Participação Especial.

Riqueza finita
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) questionou Magda Chambriard sobre quais perspectivas deve-se ter já que o petróleo, principalmente o encontrado nas reservas da camada do pré-sal, não é renovável e que tal riqueza terá um tempo de exploração até acabar. Ele também perguntou sobre a avaliação que tem quanto à destinação dos recursos que serão recebidos pela exploração no modelo de partilha.

Magda Chambriar, ao responder, relembrou que no seu primeiro dia de trabalho no setor petrolífero, em 1º de setembro de 1980, a perspectiva naquele momento era que as reservas seriam extintas num curto período. Mas tais previsões, segundo ela, desconsideravam a inserção da tecnologia na indústria petrolífera. “Até quinze anos atrás, a exploração da bacia de Campos chega até 3,5 quilômetros. A bacia de Santos não indicava ser detentora de grandes reservas, mas com tecnologia descobrimos perfurar dois quilômetros de sal a sete mil metros de profundidade de fazer nova descoberta”, afirmou. “Os Estados Unidos tem uma bacia sedimentar maior que a nossa, só que eles já perfuraram 4,5 milhões de poços e nós apenas 27 mil. Portanto, ainda temos um longo caminho para o Brasil é que um país continental e rico”, enfatizou.

Ela defendeu investimentos na indústria petrolífera já que até 2015 o conjunto de empresas sediadas no Brasil fará investimentos de R$ 405 bilhões. “Sou defensora de forte multiplicação da infraestrutura. Podemos citar a indústria naval, ligado ao setor, que foi extinta lá atrás mas que foi retomada a partir de 2003. Mas o tempo de maturação dessa indústria é longo e por isso os investimentos têm que ser contínuos”, disse. E a política de conteúdo local já resultou na certificação pela ANP de 23.042 empresas aptas a fornecer para o setor petrolífero, gerando negócios de R$ 16,5 bilhões. “Para cada emprego criado num empresa petrolífera, outros seis são criados nas empresas que compõem a cadeia de suprimentos”, destacou.

Marcello Antunes

 

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