Pedidos de empréstimos

Desempenho de consultas ao BNDES retrocedem a 2002

Média de consultas retorna ao período dos governos tucanos, sem comparação ao recorde de 60.498 consultas em setembro de 2010, no segundo governo de Lula
Desempenho de consultas ao BNDES retrocedem a 2002

Foto: Leo Pinheiro/Valor

As consultas de pedidos de empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a primeira fase de uma operação de crédito, caíram 21% entre janeiro e fevereiro deste ano na comparação com o mesmo período de 2016. Foram feitas 9.689 consultas, no valor equivalente a R$ 107,8 milhões.

Esse desempenho, pífio, corresponde à performance do banco no período anterior a 2002, quando a média mensal de consultas variava de 2.500 a 4 mil, segundo a economista Esther Dweck. O número de consultas entre janeiro e fevereiro corresponde a pouco mais de 10% do recorde obtido somente em setembro de 2010, quando registrou 60.498 consultas. Isso aconteceu no segundo mandato de Lula e a economia estava no seu auge.

Nesta semana, o BNDES divulgou os dados do primeiro bimestre deste ano e todas as fases de uma operação de crédito tiveram desempenho ruins. Os enquadramentos caíram 28% em relação ao primeiro bimestre de 2016; as aprovações cederam 23% e os desembolsos, quando efetivamente o dinheiro é liberado, recuaram 16%.

Como se vê na imprensa, a presidenta do BNDES Maria Silvia Bastos escolheu à dedo os jornalistas para falar do “novo momento” do banco, na realidade agora mais elitista e seletivo, como nos tempos do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. O céu de brigadeiro cantado em verso e prosa só existe nas folhas dos jornais. Na prática, esmiuçando os números do banco, a verdade é outra.

[blockquote align=”none” author=”Esther Dweck, economista”]“Isso é reflexo da destruição das políticas de conteúdo nacional ampliada de forma mais agressiva e evidente no setor de petróleo e gás, mas cuja ameaça causa efeitos em diversos outros segmentos”[/blockquote]

Os desembolsos para as indústrias caíram 47% no bimestre e 18% em doze meses. Para infraestrutura, a queda dos desembolsos foi de 10% no bimestre e 51% em doze meses. A aprovação de empréstimo para esta área caiu 39% para R$ 2,7 bilhões entre janeiro e fevereiro deste ano em relação a igual período do ano passado e a queda em doze meses ficou em 50%.

Os desembolsos para as regiões em doze meses mostram a seletividade desse “novo momento” do BNDES. A queda dos desembolsos para a região Norte foi de 60%; para a Nordeste, 47%; para o Sul, 25% e para o Centro-Oeste, 15%. Até a região Sudeste, mais rica do País, teve queda: 25%.

A presidência do banco vangloriou-se ao destacar, por sua vez, o crescimento de 11% dos desembolsos para a agropecuária, único setor que conseguiu ficar no azul. Também comemorou o crescimento do Programa de Apoio ao Fortalecimento da Capacidade de Geração de Emprego e Renda (BNDES Progeren), cuja liberação somou R$ 1,25 bilhão no primeiro bimestre, com alta de 276% em relação ao primeiro bimestre de 2016.

No entanto, uma lupa deve ser colocada sobre essa linha de crédito, a Progeren, até porque houve o aumento do índice de desemprego nos dois meses do ano. Logo, essa linha poderia estar em uso pelas empresas para financiar suas demissões, não o contrário, para gerar empregos.

A economista Esther Dweck elencou alguns pontos relevantes sobre a inversão de rota do BNDES sob administração do governo ilegítimo. São eles: o Brasil enfrenta a maior crise econômica de sua história, com queda de 7,2% do PIB, cerca de 20% no PIB da indústria de Transformação e mais de 12,6 milhões de desempregados.

Neste momento de crise, ao invés de incentivar a recuperação, o governo promove um ataque sem precedentes aos principais instrumentos de promoção da indústria nacional. Ao mesmo tempo, desconstrói o Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Os dados do BNDES mostram que os desembolsos somaram apenas R$ 76 milhões entre janeiro e fevereiro, uma queda de 96% em relação ao mesmo período de 2016 e queda de 90% em doze meses.

“Isso é reflexo da destruição das políticas de conteúdo nacional ampliada de forma mais agressiva e evidente no setor de petróleo e gás, mas cuja ameaça causa efeitos em diversos outros segmentos”, apontou a economista.

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