Golpe tem um forte componente misógino, alerta Gleisi

Golpe tem um forte componente misógino, alerta Gleisi

Gleisi: “Todas as teses sobre crimes em ações e decisões da presidenta foram pulverizadas, estilhaçadas, dissolveram-se no arA misoginia é um componente do processo contra a presidenta da República que não pode ser ignorado, afirmou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Ela tomou como exemplo o comportamento dos senadores partidários do impeachment durante o interrogatório de Dilma, na segunda-feira (29).

“Ao longo dessas sessões de julgamento, todas as teses que sustentavam haver crimes em ações e decisões da Presidenta foram pulverizadas, estilhaçadas, dissolveram-se no ar. Ainda assim, irritantemente, essas argumentações, já esmigalhadas, foram repetidas uma, duas, mil vezes. Falas às vezes agressivas, deselegantes, irônicas e até mesmo cínicas”, relembrou a senadora em pronunciamento ao plenário, nesta terça-feira (30)

Para Gleisi, não há dúvidas de que o comportamento da maioria teria sido diferente ao longo de todo o processo, caso o chefe do Executivo que estivesse sendo julgado fosse um homem. Some-se a isso a origem política e social de Dilma: “Uma Presidente de fora do círculo dominante. De esquerda, portanto, desajustada da normalidade que vem desde 1889 e, ainda por cima, mulher e sem marido”. Ainda assim, a eleição da primeira mulher à Presidência, em um país como o Brasil, tem e terá impacto profundo entre as mulheres e os brasileiros mais pobres.

“Mesmo que não confessem, é claro que isso incomoda muita gente, e a tentativa de derrubada da Presidente tem esse ingrediente: mandar a mulher de volta para casa, de preferência para a cozinha”, resumiu Geisi. Basta ver o ministério 100% masculino do interino Michel Temer e o rebaixamento das estruturas ministeriais de promoção das mulheres. Sem contar a pauta midiática: “bela, recatada e do lar”, lembra a senadora.

A senadora destacou a “impressionante capacidade das classes dominantes de fazer girar a roda da história para trás. É assombrosa essa tendência inelutável de recuar, de voltar no tempo, de não aceitar qualquer avanço que possa significar um arranhãozinho que seja, insignificante, em seus privilégios”. Ter como primeira mulher presidenta não uma filha das oligarquias—uma esposa de alguém? — mas sim uma guerrilheira, comprometida com os mais pobres não foi assimilado pelas elites. Ainda mais quando esta mulher sucedeu ao operário nordestino, a criança retirante marcada para morrer de fome, Luiz Inácio lula da Silva.

“Toda vez que avançamos em conquistadas sociais em décadas passadas com Vargas ou Goulart, ou nos anos recentes com Lula e Dilma, sob os mais cínicos e despudorados pretextos, marretam o povo e suas tímidas conquistas”, relembrou Gleisi. “Ontem, era o espectro do comunismo. Agora, essa ridicularia de pedaladas e irresponsabilidade fiscal”.

Se for vitoriosa essa movimentação pela restauração de privilégios e pela retomada de modelos excludentes—lucrativos apenas a uma minoria—, o País estará caminhando na contramão da “paz social” que os golpistas alegam ter patenteado. “Pela primeira vez em nossa história de mais de 500 anos, elegemos o povo brasileiro e os interesses nacionais como protagonistas da República. É contra isso que as forças do obscurantismo, os escravocratas sempre se insurgiram. Podem até passar momentaneamente, mas estão com os seus dias contados. O povo, que provou o gosto de ser sujeito da sua história, não vai voltar ao chicote”.

Cyntia Campos

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