mobilizações

‘Interesses contra os quais lutamos são grandes e poderosos’

Gleisi: precisamos de mais mobilizações para enfrentar interesses internos e externos
‘Interesses contra os quais lutamos são grandes e poderosos’

Foto: Alessandro Dantas

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), líder do seu partido no Senado, considera que a greve geral de 28 de abril, assim como os movimento dos dias 8 e 15 de março, foram muito importantes para dar o recado da sociedade brasileira ao Congresso Nacional de que as reformas trabalhista e da Previdência não interessam ao país nem ao povo. No entanto, diante dos enormes interesses por trás dessas reformas, as mobilizações ainda não são suficientes para barrá-las e serão necessárias “muitas outras manifestações da sociedade para que o Congresso Nacional realmente escute”.

“Estamos lidando com forças poderosas, internas e externas, que estão apostando tudo nessas reformas”, afirma a senadora. O sistema financeiro, a grande mídia, “braço operativo e publicitário desses interesses”, e setores do empresariado querem aumentar os lucros retirando direitos dos trabalhadores, avalia.

Na questão da Previdência, os interesses são ainda maiores. Nesse caso, “a gente também tem esses setores, aliados ainda a um interesse internacional de quem financia a dívida pública brasileira, portanto investe em títulos públicos brasileiros”. Eles pretendem diminuir o papel do Estado na área social para ter mais recurso para pagar serviço de dívida, diz.

No contexto dos interesses externos que hoje atuam no Brasil, a senadora comenta, com ironia, a informação divulgada nesta quinta-feira (4), pela rede britânica BBC, de que o Exército dos Estados Unidos participará de exercício militar na Amazônia a convite do Brasil. “Agora nós vamos fazer, entre aspas, a defesa das nossas fronteiras e da nossa Amazônia, da nossa enorme reserva ambiental com a ajuda dos americanos, assim como estão nos ajudando com a Petrobras?”

Para ela, o governo é responsável pelo recrudescimento da violência contra trabalhadores, índios, manifestantes, sem-teto e opositores. “E essa questão da intolerância, da violência, do fascismo, é incentivada por esse governo que está aí.” Segundo Gleisi Hoffmann, “esse é um governo que abriu as portas do inferno para que todos os males pudessem pairar sobre a sociedade brasileira.”

Qual sua avaliação da reunião de quarta-feira das centrais sindicais com os senadores e Renan Calheiros, líder do PMDB?

Muito positiva. Primeiro, claro, pela união do movimento sindical. Nós tínhamos todas as centrais representadas. Segundo, porque estávamos lá, além do senador Renan, que é líder do PMDB, eu, que sou líder do PT, com nossos senadores; o líder da Rede, senador Randolfe (Rodrigues); a líder do PCdoB, senadora Vanessa (Grazziotin); o senador (Roberto) Requião; a senadora Lídice da Matta representando o PSB. Ou seja, tínhamos uma pluralidade recebendo os sindicalistas. A reunião foi muito boa em termos de entendimento do que significa a reforma, da parte dos senadores e da parte dos sindicalistas. E, principalmente, em ter no Senado uma oportunidade de fazer um debate mais aprofundado sobre a proposta que está sendo colocada, sem a correria e sem a imposição da Câmara. Essa foi a principal reivindicação dos sindicalistas e também o nosso entendimento.

Os senadores da oposição queriam que a reforma trabalhista passasse pelas comissões de Direitos Humanos (CDH) e de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), e ela será analisada pela CCJ. Isso pode ser considerada uma pequena vitória?

Eu acho que é, sim. Indica que no Senado haverá mais resistência em relação à reforma trabalhista. Que os senadores querem discutir, que estão abertos a ouvir o movimento social, os sindicatos. Óbvio que isso não impede que a gente faça audiências na Comissão de Direitos Humanos, que nós vamos fazer e já está acontecendo. Mas o fato de termos conseguido colocar a tramitação também pela CCJ já vai ajudar muito na ampliação do prazo para fazer o debate da matéria.

Qual a importância do senador Renan hoje, sua liderança, do ponto de vista do diálogo com a oposição e interlocução sobre a reforma trabalhista?

Temos de avaliar a conjuntura e o momento que estamos vivendo. O senador Renan é líder da maior bancada do Senado, do PMDB. É a bancada que praticamente decide votações e a condução dos processos na casa. Ao ele abrir uma oportunidade de fazer o debate da reforma trabalhista e se colocar como uma pessoa que pode ajudar esse debate acontecer na Casa sem os atropelos da Câmara, é uma oportunidade que temos que abraçar. Embora a gente tenha diferenças com o senador Renan em várias matérias, diferenças de postura, não é esse um momento para fazer um julgamento e dispensar um apoio que pode ser muito importante aos trabalhadores brasileiros, independentemente dos motivos que o levam a isso.

A avaliação é de que ele pode ser decisivo?

A avaliação é de que ele é muito importante nesse processo por ser líder da maior bancada de senadores no Senado da República e ter influência na Casa.

As manifestações e principalmente a greve geral, por mais que tenham sido grandes e importantes, são suficientes para barrar as reformas, considerando que o governo continua “tratorando”, como ontem (3 de maio), por exemplo, quando a comissão especial da Câmara aprovou a reforma da Previdência?

Não tenho dúvidas de que a greve foi um movimento grande, uma grande greve, muito importante para dar o recado da sociedade, mas não o suficiente. Nós vamos precisar de muitas outras manifestações da sociedade para que o Congresso Nacional realmente escute. Estamos lidando com forças poderosas, internas e externas, que estão apostando tudo nessas reformas, tanto a trabalhista como da Previdência. Na reforma trabalhista, o sistema financeiro, a grande mídia, que é o braço operativo e publicitário desses interesses, um setor do empresariado que quer melhorar os seus lucros retirando direitos dos trabalhadores através da reforma trabalhista.

E no caso da reforma da Previdência, a gente também tem esses setores, aliados ainda a um interesse internacional de quem financia a dívida pública brasileira, portanto investe em títulos públicos brasileiros, (interesse) que é de diminuir o papel do Estado na área social para ter mais recurso para pagar serviço de dívida. Os interesses contra os quais estamos lutando e lidando são muito grandes e poderosos.

Por falar em interesses internacionais, a BBC noticiou há pouco que o Exército dos Estados Unidos participará de exercício militar na Amazônia a convite do Brasil…

Isso é escandaloso. O que se quer com isso? Agora nós vamos fazer, entre aspas, a defesa das nossas fronteiras e da nossa Amazônia, da nossa enorme reserva ambiental com a ajuda dos americanos, assim como estão nos ajudando com a Petrobras? Assim como vão nos ajudar comprando as terras brasileiras? É de se questionar muito o momento que nós estamos vivendo e a fraqueza e a fragilidade desse governo, que abre as portas do Brasil e não faz nenhuma resistência a esse ataque.

Diante desse enorme poderio internacional, com interesse que vai desde as reformas no Congresso e passa por exercícios militares, até que ponto os movimentos sociais, as centrais, os deputados e senadores de oposição vão ter força para barrar esse processo?

Essa força de que você fala será na realidade resultado de um acúmulo que precisamos fazer. A greve foi importante, assim como o movimento do dia 15 de março, como 8 de março, a atuação unificada do movimento sindical, como a radicalização no Parlamento de enfrentamento às reformas, a conversa com a sociedade. Ou seja, estamos num processo de acúmulo de forças pra mostrar exatamente ao governo, ao Congresso e a esses interesses, que nós temos capacidade de resistir. Por isso que não é a greve, embora seja grande e forte, que vai conseguir barrar. Vamos precisar acumular mais forças, portanto fazer mais movimentos, mais greves, mais conversas com a sociedade para fazer essa barreira, e não deixar que as reformas e a entrega do país aconteçam.

Na questão dos direitos humanos – objeto de um discurso seu, recente, na tribuna do Senado – estamos vendo pessoas assassinadas no Mato Grosso, prisão de gente do MTST, massacre dos índios, o estudante barbaramente agredido por um capitão da PM em Goiás… Onde vai parar essa escalada de violência?

Também depende do acúmulo de forças e da luta que vamos fazer na sociedade. Por isso que o nosso papel, inclusive dos parlamentares de oposição, é mais importante nas ruas, no fortalecimento dos movimentos sociais, do que atuação no Parlamento. Lá, vai ser sempre a consequência da força que a gente acumular. E essa questão da intolerância, da violência, do fascismo, é incentivada por esse governo que está aí. Porque, ao não respeitar os movimentos sociais, não ter mediação, colocar os seus ministros para enfrentar os movimentos, composto só por gente da classe dominante, os ricos, brancos, que até outro dia não tinha mulher, esse governo passa para a sociedade que quem tem preconceito e é intolerante está liberado a atuar. Aí temos isso nas forças policiais, que já são formadas – pelos governos, pelo establishment – como forças militares que têm inimigo a combater, e dá o resultado que deu em relação a esse rapaz (Mateus, em Goiás) e tantas outras situações, e também estimula quem quer fazer justiça pelas próprias mãos, como os que mataram os trabalhadores em Colniza, no Mato Grosso, no Maranhão com os índios, e tantos outros casos que temos visto vicejar na sociedade. Ou seja, esse é um governo que abriu as portas do inferno para que todos os males pudessem pairar sobre a sociedade brasileira. Com a sua prática, com o seu discurso, com a sua forma de atuação, incentiva isso.

O que se pode esperar dos congressos estaduais do PT?

Vão ser congressos muito importantes para animar e estimular a militância para nosso congresso nacional em junho. São congressos grandes, resultado da eleição dos delegados por eleição direta que fizemos no partido. Não tenho dúvida sobre a responsabilidade que o PT tem diante dessa conjuntura e desse momento que nós vivemos. E do protagonismo que ele tem que ter. Não o protagonismo como hegemonia, como força comandante, mas para animar a militância e seus filiados e também compor um campo de esquerda na sociedade brasileira para trazer de volta a esperança no resgate do Brasil.

Qual sua opinião sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de mandar soltar José Dirceu?

Acho que o Supremo retomou o seu papel de se conduzir pelo devido processo legal. É esse o papel dele, fez isso baseado nas regras do Direito Penal que nós temos, e isso é importante pra segurança jurídica da sociedade. É não politizar um processo judicial.

To top