Lindbergh quer audiência pública para ouvir as famílias da Baixada Fluminense

Lindbergh quer audiência pública para ouvir as famílias da Baixada Fluminense

Lindbergh: “Foi muito forte tudo aquilo que escutamos”A Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado que investiga o assassinato de jovens no Brasil vai realizar uma audiência pública na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, uma das regiões do País com maior incidência de homicídios, especialmente de vítimas na faixa etária até 29 anos. A proposta foi apresentada pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), relator da CPI, na reunião do colegiado realizada na noite da última segunda-feira (9), quando a comissão discutiu a criminalização da juventude.

A audiência pública da segunda-feira reuniu representantes das entidades de direitos humanos Viva Rio, Sebastião Correia dos Santos, Amanhecer Contra a Redução, Wesley Teixeira Silva, da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (ANCED), Vinícius Miguel, e o Coordenador do Programa de Adolescência e Cidadania da UNICEF, Mário Volpi.

Lindbergh considera essencial levar a CPI até a Baixada Fluminense para dar oportunidade a lideranças locais da área de direitos humanos e, especialmente, às famílias das vítimas de apresentarem seu relato à comissão, a exemplo do que foi realizado no Rio de Janeiro, na última sexta-feira (6), quando a comissão se reuniu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil e ouviu especialistas em segurança, parlamentares, representantes de entidades e dezenas de mães de jovens mortos pela polícia, pelas milícias e pelo tráfico.

Para o senador, a principal contribuição da audiência realizada no Rio foi exatamente ouvir as famílias. “Foi muito forte tudo aquilo que escutamos”. Além da dor, as mães das vítimas demonstraram muita clareza sobre o contexto no qual seus filhos foram mortos, ressaltou. “É importante a clareza delas quanto à segregação de classe e de raça que existe no País e que são vividos no cotidiano”. O senador informou que a CPI já estuda fazer uma publicação específica com os depoimentos dessas mães—o relatório da CPI também será publicado pelo Senado.

Reabertura do caso Eduardo
Lindbergh reiterou que vai pedir a reabertura das investigações sobre a morte do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, abatido no Complexo do Alemão com um tiro de um policial, durante uma operação. A Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio de janeiro aceitou a alegação dos policiais de que teriam agido “em legítima defesa”. “Não podemos aceitar essa decisão de legítima defesa: a vítima foi um garoto de 10 anos, que estava com um celular na frente da sua casa”, afirmou o senador. “É uma alegação sem sentido”.  

O caso agora está com o Ministério Público e Lindbergh já tem uma audiência agendada com o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Vieira, na próxima sexta-feira (13), às 11 horas, para pedir que a morte de Eduardo seja investigada mais a fundo.

Epidemia de assassinatos
Os representantes de entidades ouvidos pela CPI na noite de segunda-feira reforçaram a convicção de que já vem sendo formada pelos integrantes da comissão de que o Brasil vive uma verdadeira epidemia de assassinatos, especialmente de jovens negos moradores das periferias. Desde maio, quando a CPI iniciou seus trabalhos, já foram ouvidas mais de uma centena de pessoas, que apresentaram números estarrecedores.

O Brasil é campeão em números absolutos, de homicídios, no mundo. Em 2012, último ano já tabulado pelas pesquisas, foram 56 mil assassinatos. Mais da metade das vítimas tinham menos de 29 anos e, desses, 77% eram negros ou pardos. “Violência no Brasil tem cor, sim!”, destaca Lindbergh.

Guerra às drogas seletiva
O senador vem alertando de que a chamada “política de guerra às drogas” vem dando uma nefasta contribuição no incremento dessa violência seletiva que sobressalta as periferias do País. “Essa guerra às drogas acontece de forma diferenciada no território. Existe tráfico em Copacabana, em Ipanema, no Leblon [bairros nobres do Rio de Janeiro], mas nunca vimos um caveirão entrando numa operação nesses bairros da zona sul”, aponta Lindbergh.

Os chamados caveirões são veículos blindados usados pela polícia para entrar nas comunidades mais pobres do Rio de Janeiro. “Às vezes, entra a polícia com um caveirão, dando tiro para tudo que é lado em confronto, a quantidade de vítimas inocentes que acabam sendo atingidas é enorme. Então, há, sim, um tratamento diferenciado no território da cidade, há, sim, um tratamento diferenciado, de acordo com a classe social e com a questão racial também. É impressionante o estigma”, relata o senador.

 

Cyntia Campos

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