“O Brasil precisa deixar de ser pequeno”, afirma o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem a política implantada por Temer após o golpe parlamentar de 2016 amesquinhou as políticas de soberania e desenvolvimento e a inserção altiva e autônoma do País no cenário internacional.
Lula participou, na noite desta segunda-feira (24), em Brasília, do encerramento do seminário “Estratégias para a Economia Brasileira – Desenvolvimento, Soberania e Inclusão”, promovido pelas bancadas do PT na Câmara e no Senado, em parceria com a fundação Perseu Abramo. O evento reuniu economistas do campo progressista para debater propostas que permitam a retomada do crescimento econômico com inclusão social e redução das desigualdades, a grande marca dos 13 anos de governos petistas.
Para o ex-presidente, o Brasil de Temer caminha na contramão do mundo, em política econômica, já que fez uma opção anacrônica pela uma abertura predatória aos interesses das grandes corporações multinacionais. Ele destacou que a globalização neoliberal já foi abandonada pelos países centrais do capitalismo, diante das crises que vêm enfrentando. “Agora que todos eles viraram protecionistas, Temer quer que o País abrace a globalização”.
[blockquote align=”none” author=”Luiz Inácio Lula da Silva”]O Brasil de Temer não é mais dos brasileiros[/blockquote]
Nos anos 80 e 90, capitaneados pelos governos de Margareth Tatcher, no Reino Unido, e Ronald Reagan, nos EUA, o PT alertava que a globalização permitiria que o grande capital “transitasse livremente, sem passaporte, pelo mundo inteiro, sem que o povo trabalhador tivesse os mesmos direitos e as empresas de países pequenos ou médios não tinha a mesma liberdade de transitar”, lembrou Lula. Depois da crise de 2008, as potências ocidentais entenderam que era preciso rever a política, trazer as empresas de volta a seus países e gerar empregos.
“Mas agora, o Brasil não é mais dos brasileiros. É a volta do complexo de vira-latas da elite brasileira”, afirmou Lula sobre as políticas de entrega do patrimônio nacional, como a Petrobras e as reservas do pré-sal, aos interesses estrangeiros.
O FMI não mandava aqui
O ex-presidente manifestou indignação com a declaração de Alejandro Werner, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), para quem a reforma da Previdência seria “imperativa para o Brasil”. Lula lembrou que em seu governo o País quitou sua dívida com a instituição e chegou a emprestar US$ 10 bilhões ao FMI, na crise de 2008.
“O FMI não tem autoridade moral de dar nenhum palpite sobre o que nós devemos, queremos e podemos fazer na nossa economia. Foi por isso que tomamos a decisão de deixar de dever ao FMI, para que nunca mais desse palpite aqui. Nós sabemos tomar conta do nosso nariz”.
Depoimento em Curitiba
Lula reiterou que está ansioso pela oportunidade de prestar seu depoimento no processo da Operação Lava Jato, marcado para 3 de maio. “Quero comparecer, porque será a primeira oportunidade de não ser atacado pela imprensa, pela justiça, pelo Ministério Público. Vou ter, de viva voz, o direito de me defender. O horário é meu. Faz três anos que estou ouvindo. Agora eu vou falar”.
Sobre a possibilidade de adiamento do depoimento, como foi aventado nesta segunda-feira pelo juiz Sérgio Moro, Lula afirmou que a data é indiferente. “Eu não marquei o dia 3, nem desmarquei o dia 3. Quem marca é o juiz Moro”.
Regulação da mídia
Irônico, ele dirigiu cumprimento especial à imprensa “tão democrática e que me trata maravilhosamente bem. Eu os amo de coração”. Entre as mudanças estruturais que defendeu para garantir a democracia e a soberania, ele deu um recado claro: “Nós vamos ter que regulamentar os meios de comunicação neste País”.
O ex-presidente ressaltou que não defende uma regulamentação como a cubana ou a chinesa. “Eu quero uma regulamentação como a da Inglaterra. Quero que [os meios de comunicação] sejam democratizados de verdade, que meia dúzia de famílias não detenha o monopólio dos meios de comunicação”
O seminário “Estratégias para a Economia Brasileira – Desenvolvimento, Soberania e Inclusão” reuniu lideranças petistas como os governadores Wellington Dias (PI) e Tião Viana (AC), o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, ministro nos governos Lula e Dilma, senadores e deputados federais da legenda.
Na primeira mesa do evento, os professores de Economia Fernando Sarti (Unicamp), Vanessa Petrelli (UFU) e José Sérgio Gabrielli (UFBa), ex-presidente da Petrobras, e o deputado federal Enio Verri debateram os “Instrumentos de desenvolvimento para a economia brasileira”. À tarde, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e os professores Laura Carvalho (USP), Ricardo Carneiro (Unicamp) e Carlos Bastos (UFRJ) analisam “O cenário internacional e macroeconomia para o desenvolvimento”.
A íntegra do seminário, em vídeo, está disponível neste link
“Estratégias para a Economia Brasileira – Desenvolvimento, Soberania e Inclusão”