Medidas do governo ajudam a provocar deflação em combustíveis

As medidas adotadas pelo governo para amenizar os efeitos do etanol no preço dos combustíveis surtiram efeito. Depois de permanecer em relativa estabilidade em setembro no Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), o grupo transportes iniciou outubro em deflação de 0,01% e encerrou o mês caindo 0,12%, influenciado pelas retrações de 1,33% e 0,46% nos preços do etanol e da gasolina, respectivamente.

O IPC da Fipe avançou de 0,25% para 0,39% entre setembro e outubro, influenciado por alta de 0,66% em habitação. Na leitura anterior, esse grupo havia subido 0,17%. A explicação para esse movimento é o reajuste de 6,83% na taxa de água e esgoto, promovido pela Sabesp em 9 de setembro.

Nos cálculos da Fipe, o aumento contribuiu com 0,08 ponto percentual para a alta do índice geral. Depois de habitação, o grupo alimentação foi o que mais contribuiu para a elevação do IPC-Fipe, ao subir de 0,37% para 0,53% entre setembro e outubro.

Na avaliação de analistas, o efeito de deflação sobre os preços dos combustíveis não deve ter fôlego nem aparecer no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). Segundo o coordenador adjunto do IPC-Fipe, Rafael Costa Lima, a desoneração de impostos sobre a venda de gasolina pode ter influenciado os preços desse combustível.

Já no caso do etanol, a menor demanda nas usinas e a redução de 25% para 20% no percentual de anidro na composição da gasolina pode ter amenizado a elevação dos preços, diz. “O preço vinha muito alto na entressafra e os pedidos de etanol nas usinas caíram muito. Além disso, os próprios consumidores, quando a relação de preço entre álcool e gasolina começa a beirar os 70%, acabam preferindo abastecer com gasolina.”

Antes de a Petrobras reajustar em 10% o preço da gasolina na porta das refinarias, no fim de outubro, o governo reduziu em R$ 0,04 a alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo que incide na importação e venda desse combustível. Por decreto publicado no “Diário Oficial da União” em 27 de setembro, o valor da Cide sobre a gasolina caiu de R$ 0,23 por litro para R$ 0,19 por litro.

Para o economista Felipe Katsumata, da LCA Consultores, é essa medida que provocou a queda do preço da gasolina identificada na pesquisa. Como depois dela a Petrobras aumentou em R$ 0,1062 por litro o preço da gasolina pura para distribuidoras, e o governo contrabalançou o reajuste ao reduzir ainda mais a Cide que incide sobre esse combustível – de R$ 0,192 por litro para R$ 0,091 por litro – o efeito ao consumidor será praticamente nulo a partir de novembro, explica Katsumata.

Mesmo em outubro, sustentam economistas, a deflação de combustíveis não chegará ao IPCA. Na projeção da LCA, o grupo transportes deve se desacelerar em relação a setembro, mas fechará com alta de 0,55%. “O automóvel usado está pressionado e houve reajuste de transporte público e pedágio em Porto Alegre”, observa Katsumata. Ainda assim, o impacto da redução da Cide na gasolina deve ser considerável, já que depois da medida a LCA baixou de 1,5% para 0,05% a estimativa da taxa do combustível no IPCA. O etanol, no entanto, deve sofrer aceleração, já que as previsões de safra “estão muito ruins”, diz.

Nos cálculos da Rosenberg & Associados, o grupo transportes terá alta de 0,53% em outubro no IPCA, mas pode continuar em deflação no IPC da Fipe em novembro, previsão com a qual Katsumata e o coordenador do indicador não concordam. “Acredito que essas medidas devem manter o preço dos combustíveis num patamar não pressionado, ou até se desacelerando”, diz Daniel Lima, da Rosenberg.

Em outubro, o grupo habitação retirou dos alimentos o papel de vilão da inflação na cidade de São Paulo, mas a perspectiva é que, em meados de novembro, os gastos com moradia parem de pressionar a inflação e alimentação volte a ter destaque, na avaliação de Costa Lima. “Esperamos que alimentação seja o motor da inflação nos próximos meses”, disse ele, durante apresentação do resultado de outubro.

“O item manutenção do domicílio, no qual está incluída a taxa de água e esgoto, vai influenciar bastante as duas próximas quadrissemanas do IPC-Fipe, atingindo seu pico na próxima prévia, mas depois deve começar a cair”, previu Lima.

Fonte: Valor Econômico

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