Na mídia: Organização de Cachoeira escolhia secretários de governo

Enquanto isso, juiz suspende processo da Operação Monte Carlo até que as telefônicas entreguem extratos e identificação das ligações grampeadas

Notícias divulgadas pela mídia nesse fim de semana demonstram mais uma vez, e de maneira muito evidente, a intenção do grupo criminoso liderado por Carlos Augusto de Almeida Ramos – o Carlinhos Cachoeira – de atuar diretamente em diversas instâncias do poder, especialmente no estado de Goiás. Enquanto isso, no Judiciário, o  desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, concedeu liminar ao bicheiro que suspende o processo da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal (PF) este ano. O juiz também concedeu habeas corpus nesta semana para que a atual mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, o visite na penitenciária da Papuda, em Brasília.

O processo contra o contraventor, preso desde o dia 29 de fevereiro, ficará parado até que as companhias telefônicas, responsáveis por linhas que foram grampeadas pela PF, forneçam ao Judiciário os extratos telefônicos e a identificação das chamadas interceptadas.

Tourinho Neto quer saber as datas e o detalhamento dos dados que foram acessados a partir da senha fornecida aos policiais, com a permissão judicial para gravar as conversas entre integrantes do grupo do contraventor. A decisão é do dia 24.

Visita autorizada

Andressa Mendonça estava proibida de visitar o companheiro na prisão desde que foi flagrada chantageando o juiz Alderico Rocha Santos, da 5ª Vara Federal, responsável pelo processo em que Cachoeira e mais sete pessoas respondem por corrupção de agentes públicos, violação de sigilo e formação de quadrilha armada.  Andressa chegou a ser presa e só foi liberada depois de pagar fiança de R$ 100 mil à Justiça Federal no final de julho.  A PF também abriu inquérito para apurar o suposto uso de Andressa como laranja de Cachoeira.

A autorização para a visita da noiva de Cachoeira soa estranha, especialmente depois que  a Polícia Federal  identificou um documento que pode dar pistas sobre a venda da casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Policiais federais encontraram um “instrumento de procuração” que tem como outorgante a empresa Mestra Administração e Participações e como outorgada a mulher do bicheiro. A casa vendida por Perillo é a mesma onde Cachoeira foi preso, na Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Todos os indícios da PF apontam que o contraventor foi o real comprador do imóvel. A Mestra aparece como a compradora formal da casa.

O documento pode comprovar que a empresa estava a serviço do bicheiro na negociação do imóvel do governador de Goiás. A venda da casa para a Mestra ocorreu em 13 de julho de 2011. Perillo chegou a dizer que “a acionista majoritária da empresa é uma filha do professor Valter Paulo”, que depôs à CPI, afirmando ser o dono da empresa Mestra.

O professor depôs na CPI e disse ter comprado a casa. Um sócio da Mestra foi convocado pela comissão e se negou a falar. O governador de Goiás, em depoimento à CPI em junho, negou que o imóvel – localizado num condomínio de luxo de Goiânia – tenha sido adquirido por Cachoeira.

A PF cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Andressa em 30 de julho. Ela é suspeita de chantagear o juiz federal responsável pelo caso Cachoeira, na 11ª Vara Federal em Goiânia, e passou a ser formalmente investigada pela PF.

Indicações mal-sucedidas

O Globo deste final de semana conta que, um dia antes de serem presos na Operação Monte Carlo, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o ex-vereador de Goiânia (GO) Wladimir Garcez (PSDB) comandaram articulações sobre nomeações para o primeiro escalão do governo de Marconi Perillo (PSDB) em Goiás. A ação não teve sucesso provavelmente porque, no dia seguinte à conversa, no dia 29 de fevereiro Cachoeira  e Garcez foram presos.

O Superior Tribunal de Justiça investiga como Cachoeira influenciava nomeações no governo goiano. Os diálogos registrados um dia antes da operação dão detalhes dessa atuação. “Temos de vencer mais essa batalha aí. Vai ser uma pedreira se indicarem o Umberto”, dizia Eliane a Wladimir, num diálogo de cerca de cinco minutos. Ela sugere que  o ex-senador Demóstenes Torres  ligue para o governador e indique uma pessoa de nome Adriano – não há detalhes na investigação sobre a identidade do personagem.

O promotor de Justiça Umberto Machado, do Ministério Público (MP) de Goiás, assumiu o cargo de secretário um mês depois, mas deixou a função, em junho, diante das suspeitas de proximidade de outros integrantes do MP com Cachoeira, como o procurador-geral de Justiça (chefe do MP de Goiás), Benedito Torres, irmão de Demóstenes.

Perillo é investigado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), Benedito responde a processo no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), e Demóstenes, depois da cassação no Senado, é alvo de um processo que tramita no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região.

Na conversa com a então chefe de gabinete de Marconi Perillo, Eliane Pinheiro, o ex-vereador Wladmir Garcez, suspeito de fazer a ponte entre a organização criminosa e o governador de Goiás, procura saber de quem partiu a indicação do promotor de Justiça para o cargo. Eliane diz que Umberto foi indicado pelo “conselheiro Ferrari”. O presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Goiás é o conselheiro Edson José Ferrari. Eliane sugere que os três senadores goianos façam uma indicação conjunta para a Secretaria de Meio Ambiente.

Na conversa, Wladimir e Eliane reclamam da atuação do deputado federal Leonardo Vilela (PSDB-GO), que era secretário de Meio Ambiente e deixou a função para disputar a Prefeitura de Goiânia – candidatura bancada por Perillo, mas retirada diante da repercussão do caso Cachoeira. “Vou ligar pro Carlinhos, vou ver o que ele acha. Agora, o Leonardo deu besteira, tô falando com o Leonardo para garantir isso desde que dia, você lembra? Desde dezembro tô falando: “Senta e bate o martelo com o Marconi””, diz Wladimir a Eliane. A conversa é encerrada às 12h12. Sete segundos depois, o ex-vereador liga para Cachoeira.”Umberto é tiro no pé”

Perillo, de novo, nega

Por meio de sua assessoria de imprensa, Perillo sustenta que “não existe na equipe de governo nenhuma indicação feita pelo senhor Carlos Cachoeira”. “Eles falam que estavam articulando contra Umberto, que terminou nomeado. Se Cachoeira tivesse força no governo, indicaria direto com Marconi.”

A assessoria do deputado Leonardo Vilela também “refuta veementemente qualquer ilação sobre participação de alguém na indicação de A ou B na secretaria” e diz que as nomeações são uma exclusividade do governador.

O presidente do TCE, Edson Ferrari, afirma que é amigo de Umberto Machado, mas nega ter feito a indicação. Wladimir e Eliane não retornaram aos contatos da reportagem.

Com informações do Jornal O Globo

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