Na mídia: Ricos insatisfeitos; pobres felizes


“Como ninguém vota em governo que o faz
infeliz, só se pode concluir que uma fatia
majoritária dos brasileiros, especialmente
os pobres, está rindo.”

Em artigo, Clóvis Rossi critica “choradeira das elites” sobre a economia, enquanto mais pobres demonstram estar muito satisfeitos

 

 “Há algo de profundamente errado em um país, um certo Brasil, em que os ricos choram (e de barriga cheia), ao passo que os pobres parecem relativamente felizes”. Este é o início do artigo publicado nesta terça-feira pela Folha de S.Paulo. A crítica refere-se a uma análise da consultoria Grant Thornton (a íntegra é disponível apenas para clientes), que mostra um recorde de pessimismo entre os executivos brasileiros

Rossi critica a visão melancólica dos mais ricos, simultânea a outras que mostram  plena satisfação dos brasileiros com o governo da presidenta Dilma Rousseff, “a ponto de onze em cada dez analistas apostarem, hoje, na reeleição da presidenta”, avalia o colunista, que conclui:

 “Um país em que há pleno emprego e crescimento da renda não pode ser campeão de pessimismo nem pode ficar em 32º lugar, entre 45, no campeonato mundial de pessimismo. É grotesco”, conclui Clóvis Rossi.

Veja abaixo a íntegra do artigo

Quem deveria ficar “nervosinho” – CLÓVIS ROSSI – Folha de S.Paulo

Há algo de profundamente errado em um país, um certo Brasil, em que os ricos choram (e de barriga cheia), ao passo que os pobres parecem relativamente felizes. Na ponta dos mais ricos, refiro-me à pesquisa da consultoria Grant Thornton que mostra um absurdo recorde de pessimismo entre os executivos brasileiros.

Na ponta dos pobres, valem as sucessivas pesquisas que mostram satisfação majoritária com o governo Dilma, a ponto de 11 de cada 10 analistas apostarem, hoje por hoje, na reeleição da presidente. Como ninguém vota em governo que o faz infeliz, só se pode concluir que uma fatia majoritária dos brasileiros, especialmente os pobres, está rindo.

Que a economia brasileira tem problemas, ricos, pobres e remediados estão cansados de saber. Problemas conjunturais (o crescimento medíocre dos anos Dilma ou a forte queda do saldo comercial, por exemplo). Problemas estruturais que se arrastam há tantos séculos que nem é preciso relacioná-los aqui. Daí, no entanto, a um pessimismo recorde vai um abismo. Um país em que há pleno emprego e crescimento da renda não pode ser campeão de pessimismo nem pode ficar em 32º lugar, entre 45, no campeonato mundial de pessimismo. É grotesco.

Grotesca igualmente é uma das aparentes razões para o surto de pessimismo que vem grassando desde meados do ano passado. Seria a diminuição do superavit primário, ou seja, do que sobra de dinheiro nos cofres públicos depois de descontadas as despesas e tem servido exclusivamente para o pagamento dos juros da dívida. Foi por isso que o ministro Guido Mantega apressou-se a divulgar os dados de 2013, para acalmar os “nervosinhos”.

Quem deveria ficar nervoso, mas muito nervoso, não apenas “nervosinho”, é exatamente quem está contente com o governo.

Basta fazer a comparação: os portadores de títulos da dívida pública (serão quantos? Um milhão de famílias? Cinco milhões no máximo?) receberam do governo, no ano passado, R$ 75 bilhões. É exatamente quatro vezes mais do que os R$ 18,5 bilhões pagos às 14 milhões de famílias (ou 50 milhões de pessoas) que recebem o Bolsa Família.

Quatro vezes mais recursos públicos para quem tem dinheiro para investir em papéis do governo do que para quem não tem renda. Seria um escândalo se os pobres tivessem voz. Mas quem a tem são os rentistas que ficam reclamando da redução do que recebem, como se houvesse de fato a mais remota hipótese de que o governo deixe de honrar sua dívida. Fazem um baita ruído com os truques contábeis que permitiram o superavit, mas não dizem que, com truque ou sem truque, a dívida líquida diminuiu este ano, de 35,16% do PIB em janeiro para 33,9% em novembro, última medição disponível.

Ou, posto de outra forma: o governo, supostamente irresponsável, gasta menos do que arrecada e ainda pinga 1,3% de tudo o que o país produz de bens e serviços na conta dos mais ricos e apenas 0,4% na dos pobres entre os pobres. E os ricos ainda choram.

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