Não tem volta – Por Marta Suplicy

Está o maior debate sobre essa tal de nova classe média.

Os políticos deveriam investir nessa conquista, os publicitários sonham em fisgá-la e eu fiquei impactada quando li sobre a força feminina nos que adentraram neste patamar.

 

As mulheres são 99 milhões de pessoas no país. A renda daquelas que pertencem à classe C, cujas famílias recebem entre R$ 1.635 e R$ 5.450, equivale a 47% do total da renda da mulher brasileira.

Essa mulher tem iniciativa, mais escolaridade do que o homem e, a partir dos 16 anos, cartão de crédito. Ela controla as despesas domésticas desde os gastos com roupas masculinas aos eletrônicos e automóvel, valoriza a família e 71% delas priorizam a educação dos filhos e a delas.

Não sei ainda quanto se diferenciam das suas avós que tentavam, com frustração, ser a “Mulher Maravilha”, pois hoje, segundo pesquisa apresentada por Renato Meirelles em evento do portal Tempo de Mulher, a maioria tenta viver em harmonia com os valores tradicionais e o novo papel.

O emprego formal fez a renda feminina saltar 68% entre 2002 e 2011, enquanto a masculina cresceu 43%. Os salários ainda são 30% menores. O desafio e o sonho continuam.

Esta mulher quer conciliar, e tem a família como prioridade. Também quer melhorar de vida, progredir, estudar, embelezar-se, consumir. Para o marketing, ela é uma avenida de acertos e poucos erros: é determinada e vai comprar.

E ela? Ela quer emprego, com chance de progredir e com a menor interferência possível na sua família. Vai ser complicado. Se você está o dia todo fora, a comida, a limpeza e o cansaço não serão iguais aos de quem fica em casa.

Mas, de qualquer modo, o Brasil caminha diferente da Ásia.

Enquanto a brasileira tenta conciliar profissão e família numa missão impossível no mundo do trabalho e competitividade atual, a asiática resolveu postergar ou desistir do casamento devido ao preço que tem que pagar. É melhor ter profissão e independência.

Esse é um problema novo na Ásia, onde o casamento é vivido de forma bem tradicional.

Enquanto na Suécia 55% dos nascimentos ocorrem em casais não casados, na Ásia 2% ocorrem fora do casamento.

O impasse terá ritmos e consequências diferentes. A brasileira quer o pacote todo. Provavelmente os brasileiros já dividem mais os espaços e ela crê nessa mudança que lhe permitirá os dois mundos. Se tudo correr bem, será o novo.

Com novos pactos, costumes domésticos e organização de trabalho inimagináveis hoje.
A asiática, com seus países já conturbados com a diminuição da população feminina (China), terá ainda que enfrentar forte resistência para ampliar seu papel social.

Começamos a entrar na fita, mas o processo ainda está em transição. E não tem volta.

MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta coluna.

Folha de S. Paulo

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