Paim sugere mais recursos para programas de atenção ao índio

Governo informou que foi reforçada a proibição da venda álcool e a fiscalização nas aldeias, diante do número de suicídio entre índios.

Paim sugere mais recursos para programas de atenção ao índio

A livre circulação de bebidas alcoólicas e drogas nas aldeias indígenas, somada à falta de opções de estudo, trabalho e lazer para os jovens, são as principais causas de suicídios entre os índios Carajás no Tocantins, conforme representantes reunidos em audiência pública realizada nesta segunda-feira (12/03), na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS).

Os suicídios de quatro jovens indígenas entre 14 e 17 anos nos dois primeiros meses do ano, além de outras seis tentativas no mesmo período e mais sete casos registrados em 2011, motivaram a realização do debate, proposto pelo senador Vicentinho Alves (PR-TO).

O senador Paulo Paim sugeriu a possibilidade de se fazer uma emenda de comissão para destinar mais dinheiro para os programas voltados para os índios. As comissões do Senado geralmente aprovam emendas por volta do mês de novembro, na última fase de discussão do Orçamento da União para o ano seguinte.

“O que nós podíamos, é fazer um compromisso de procurarmos outros senadores, e que a gente faça uma emenda decente para a questão dos povos indígenas”, sugeriu Paim.

Providências
O secretário especial da Saúde Indígena do Ministério da Saúde (Sesai), Antonio Alves de Souza, apresentou aos senadores, as medidas adotadas desde os casos de suicídios registrados no ano passado, em conjunto com a Funai e o Ministério Público. Conforme informou, foi reforçada a proibição da venda de bebidas alcoólicas para indígenas na cidade de São Félix do Araguaia (MT) e a fiscalização nas aldeias. Segundo representantes dos indígenas, a entrada de álcool e drogas nas aldeias coincidiu com a ocorrência das mortes.

Para Celso Fernandes de Morais, coordenador Regional da Funai em Palmas (TO), é preciso vontade política para melhorar a atuação nas aldeias e maior articulação dos governos federal, estadual e municipal para dar maior eficiência ao trabalho realizado.

Leonídia Batista Coelho, assessora da Secretaria de Justiça do Estado do Tocantins, aponta que as causas de suicídios entre indígenas são conhecidas, assim como suas soluções. Para ela, o problema seria resolvido com ampliação das opções para os jovens e a melhoria das condições de educação e saúde. Ela observa, no entanto, que a maior dificuldade para implementá-las está na falta de articulação dos técnicos dos diferentes órgãos envolvidos.

Na discussão, Vicentinho Alves cobrou a presença da Funai nas aldeias e considerou exagerada a contratação de organizações não governamentais para realizar atribuições da fundação. Para o senador, as políticas para os povos indígenas deveriam ser aglutinadas em uma secretaria ligada à Presidência da República.

Ocorrências
Ao falar aos senadores, Iwrarú Karajá, cacique da aldeia Watau, relatou as mudanças ocorridas na Ilha do Bananal desde que os jovens índios conheceram bebidas alcoólicas e drogas, revelando ainda a falta de fiscalização na região.

“Não existe controle da entrada de bebida alcoólica e droga dentro das aldeias. Traficantes entram à vontade, as aldeias estão dominadas por drogas”, disse, ao cobrar a presença da Fundação Nacional do Índio (Funai) na região e pedir maior segurança nas aldeias.

Ao comentar o assunto, Vicentinho Alves sugeriu a construção de um modelo de segurança que atenda às particularidades das comunidades indígenas.

Também Kohalue Karajá, coordenador de Assuntos Indígenas da Secretaria de Cidadania e Justiça do Tocantins, concordou que o álcool e as drogas estão por trás dos suicídios. No entanto, ele disse que os suicídios foram resultado também de feitiçaria, observando ser esta uma questão cultural muito relevante para os indígenas.

Resgate de valores
A falta de perspectivas nas aldeias, na avaliação de Marcos Terena, membro da organização não governamental Cátedra Indígena Internacional, tem origem nas perdas sofridas pelos povos indígenas quando de seu relacionamento com os considerados não índios. Terena disse lembrar dos Carajás como índios altos e fortes, bons nadadores e remadores. Para ele, é preciso prioridade para o resgate de valores ancestrais.

“Não podemos deixar de ouvir a sabedoria da mulher nas aldeias. São elas que ensinam a língua e o conhecimento. Também é preciso valorizar a parte espiritual. A força dos pajés pode ajudar a recuperar valores ancestrais, para que povos indígenas sintam firmeza nas relações interculturais”, defendeu.

O senador Paulo Paim concordou com Marcos Terena sobre a necessidade de resgatar valores que possam fortalecer a identidade e o orgulho dos jovens índios.

Com informações da Agência Senado

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