Para Lindbergh, golpistas querem fim das políticas contra recessão

Para Lindbergh, golpistas querem fim das políticas contra recessão

Senador defende que a oposição pretende que todas as esferas da vida sejam comandadas pelo grande capital, pelas megacorporações e pelos bancosPara o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), não é apenas a presidenta Dilma Rousseff que está sob ameaça de impeachment no Congresso Nacional. Em artigo publicado pelo portal Brasil 247 a peça que pede o afastamento da presidenta propõe o fim da política fiscal anticíclica. “Querem deixar os pobres e trabalhadores ao sabor da competição individual e das conjunturas econômicas”, explica. Ou, em “economês”, estão fazendo o impeachment das ideias de Keynes. 

John Maynard Keynes é o mais importante economista do século XX. Ele basicamente defende que a economia é cíclica. Tem momentos de alta e momentos de baixa. E, diante dessas alterações, o governo deve intervir. 

Segundo Lindbergh, o governo está sendo condenado por sua política fiscal. “Criminalizar e condenar a existência da política fiscal é sinônimo de impeachment para as ideias de Keynes – o que nem mesmo a literatura econômica durante décadas conseguiu” critica o senador. 

Veja abaixo a íntegra do artigo:  

O impeachment de Keynes 

Os golpistas querem muito mais que o impeachment da presidente Dilma. Eles querem fazer o impeachment das teorias de John Maynard Keynes (1883-1946), o mais importante economista do século XX. Keynes é conhecido por diversas teorias e políticas. Mas, a mais importante ideia do economista é sobre a administração fiscal e as políticas anticíclicas para combater o desemprego e a recessão. 

A economia tem seus ciclos de alta e de baixa. Quando a economia entra em trajetória de desaceleração, as expectativas de trabalhadores e de empresários se tornam pessimistas. Todos passam a evitar gastos para enfrentar as dificuldades futuras esperadas. Então, essas atitudes (legítimas) aceleram o ciclo rumo a uma recessão. Nessas conjunturas, tudo que é decidido no âmbito privado tende a contribuir com a acentuação da tendência em curso. 

Keynes pregava que diante dessas dificuldades, o governo deveria entrar em cena. Deveria reorientar as expectativas através de discursos e políticas econômicas anticíclicas. Se o setor privado está evitando gastar, o governo deveria entrar em cena gastando, por exemplo, realizando obras públicas para recuperar o emprego e reanimar as expectativas. 

Com a economia sendo reativada pelo governo haveria mudança das expectativas e as decisões do setor privado (empresários e trabalhadores) passariam a contribuir com a estabilização do ciclo. Nesses momentos, Keynes aceitava que o orçamento do governo poderia ficar momentaneamente deficitário. O reequilíbrio nas contas do governo viria com a retomada do crescimento e o aumento das receitas públicas. 

Em situações de boom de crescimento, Keynes propunha que o governo agisse também para estabilizar a economia. E nesse caso, seria o momento dos superávits orçamentários. O economista inglês sempre foi um defensor do pleno e da boa administração orçamentária – com equilíbrio quando fosse possível e deficitária quando fosse necessária. 

Não existiu na história econômica nenhum outro autor que tenha detalhado com tanta perfeição o funcionamento orçamentário e suas relações com o emprego e o crescimento. E a história já mostrou o brilhantismo das teses keynesianas quando, por exemplo, influenciaram o New Deal nos anos 1930. Foram as ideias de Keynes aplicadas nos Estados Unidos durante a Grande Depressão que salvaram a economia daquele país quando ninguém mais acreditava numa recuperação. 

São as ideias de Keynes que estão sofrendo impeachment na peça apresentada ao Congresso Nacional que pede o impeachment da presidente Dilma. Em verdade, o que os seus autores querem é que não exista mais política fiscal anticíclica. Querem deixar os pobres e trabalhadores ao sabor da competição individual e das conjunturas econômicas. E mais: se não querem mais a presença do Estado na economia e na sociedade, desejam, então, que todas as esferas da vida sejam comandadas pelo grande capital, pelas megacorporações multinacionais e pelas instituições financeiras. 

Se aprovado o impeachment da presidente Dilma, eles vão fazer o impeachment das ideias de Keynes. 

O governo está sendo submetido à falsa acusação de não ter adotado o recente entendimento do TCU de como deveria ser a administração fiscal ideal: a cada dois meses as receitas do governo devem ser avaliadas e medidas devem ser adotadas. Em caso de queda de receitas, o governo deveria cortar despesas. Com efeito, embora a acusação seja inverídica, cabe dizer que o entendimento do TCU cria amarras ao crescimento. Não existe nada mais anti-keynesiano e recessivo do que essa ideia. Se as receitas caem porque a economia está desacelerando e o desemprego aumentando, então, o governo corta gastos e faz aumentar a desaceleração econômica e provoca mais desemprego ainda? Essa é a proposta de uma economia adormecida, estagnada e com arrocho fiscal permanente. 

Sem política fiscal, uma economia tende a minguar e o desemprego passa a ser natural. Não existe economia forte sem Estado forte. E para a economia, o Estado deve aparecer como regulador, mas principalmente como um orientador de investimentos privados que devem ser estimulados por políticas fiscais potentes. Criminalizar e condenar a existência da política fiscal é sinônimo de impeachment para as ideias de Keynes – o que nem mesmo a literatura econômica durante décadas conseguiu. 

 

Neste ano, os golpistas anti-keynesianos entram para a história apenas como golpistas: sem ideias, sem argumentos, sem teorias. Enquanto isso, mundo afora, 2016 é para muitas universidades e instituições de pesquisa mais um ano de comemoração. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, a obra mais importante de Keynes, está completando 80 anos com muitas atividades de reconhecimento da importância da regulação econômica, das políticas anticíclicas e da defesa do pleno emprego. As ideias de Keynes permanecerão.

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