Primeiras medidas escancaram ranço preconceituoso de golpistas, diz Humberto

Primeiras medidas escancaram ranço preconceituoso de golpistas, diz Humberto

Humberto aos golpistas: “embalem o governo indireto, ilegítimo e putrefato que colocaram no poder”Nem bem adentrou à “avenida”, o governo golpista já decepciona a plateia. A ressaca moral vinda de quem serviu ao golpe contra a democracia na semana passada se revelou bem mais cedo do que se supunha. Foi só primeiro escalão ser anunciado para que os que apearam a presidenta de seu cargo se entreolhassem espantados: era um ministério composto exclusivamente de homens, brancos, elitistas e conservadores. O “carro-abre alas”, como definiu o senador Humberto Costa (PT-PE), em pronunciamento ao plenário nesta segunda-feira (16) é composto por mais ministros citados e investigados em operações policiais atualmente do que antes. 

Eles estão acompanhados do próprio Michel Temer, “que é ficha-suja e está inelegível por oito anos, em razão de condenação pela Justiça Eleitoral, e foi  um dos citados por delatores da Lava Jato”, lembrou o líder do governo no Senado do governo Dilma. Vale lembrar, aliás, que a presidenta nunca foi citada por crime algum. 

Sobre a “seletividade” do novo ministério, que excluiu minorias, o senador definiu: “É como se o golpista em exercício não reconhecesse competência entre os representantes das parcelas mais excluídas da nossa população para poder compor o seu staff”. Isso revela a face mais perversa e mais excludente de um governo que ocupa o Palácio do Planalto por força de um golpe parlamentar. 

Humberto lembrou que desde o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), não se via um primeiro escalão sem mulheres. “Convivam com o fato de que o general-ditador parece ser mais arejado do que o golpista dito constitucionalista” 

O “desfile” golpista prossegue com as linhas mestras que nortearão o governo provisório. O Ministério da Cultura fica relegado a segundo plano, vinculado ao Ministério da Educação. Para piorar, o novo ministro é um dos “cabeças” dos Democratas, partido que “trabalhou incansavelmente para acabar com todas as políticas de ações afirmativas, que ofereceram mecanismos efetivos de ascensão social aos nossos negros por meio das universidades, negros condenados, desde o início da escravidão, à mais odiosa segregação neste país”, destacou Humberto. 

Também ficará a cargo do Ministério da Educação a demarcação das terras quilombolas, o que o parlamentar definiu como “escândalo”. 

Menos médicos

As críticas e ações na Justiça contra o programa Mais Médicos também compõem o desfile de maldades dos golpistas.  “O programa, que hoje atende mais de 70 milhões de brasileiros e, muito provavelmente, será interrompido pelo ranço de uma gente que nunca o aceitou”, criticou. 

Ex-ministro da Saúde, Humberto lamentou também que o novo ocupante de sua antiga cadeira seja a mesma pessoa que que, no ano passado, foi relator do Orçamento-Geral da União e cortou 10 bilhões de reais do Bolsa Família. “A tesourada só não se tornou realidade porque a presidenta Dilma proibiu que o programa mais importante de desenvolvimento inclusivo da nossa história fosse esfacelado pela cegueira de quem só enxerga número na frente, sem se preocupar que há seres humanos por trás deles”, enfatizou. 

Se não bastasse, a Previdência Social, que foi criado em 1974 – durante a ditadura, portanto – acaba de ser extinto. Aposentados e pensionistas serão  transferidos para as mãos de tecnocratas do Ministério da Fazenda. 

Outros programas sociais, como o Bolsa Família, são vistos como “meio de vida para sustentar vagabundo”. Provavelmente por isso, o novo ministro do Desenvolvimento Social, a quem o programa é subordinado, seja um crítico contumaz do programa, “desses que não conhecem a extrema miséria em que vivia parte sensível da população e não têm noção de que o Bolsa Família veio, de fato, para complementar renda, oferecer uma perspectiva de vida e restaurar a dignidade de mais de 36 milhões de brasileiros”, definiu Humberto. 

Para encerrar o carnaval golpista, vale lembrar que quem bateu panelas e foi às ruas para combater a corrupção costumava dizer que o País não aguentava mais a carga tributária. A surpresa dessas pessoas é notar que o novo ministro da Fazenda defende que a meta é diminuir os impostos, embora nesse momento seja preciso aumenta-los. 

A quem agora se diz decepcionado ou confuso, o ex-líder manda um recado: “Todos sabiam e sabem onde essa porta vai dar. Ela já estava escancarada há muito tempo. Então, os que votaram pelo golpe, os que foram às ruas pelo golpe, não se façam agora de inocentes, de desavisados, não tentem se esconder de vergonha em subterfúgios ou histórias para boi dormir. Assumam a posição pró-golpe que tiveram e embalem o governo indireto, ilegítimo e putrefato que colocaram no poder”. 

Quanto aos parlamentares do PT, Humberto garante que vão seguir denunciando o golpe em todos os foros possíveis. “Não haverá acordo nem trégua aos golpistas. Não daremos sossego aos que mancharam a nossa história e jogaram no lixo os votos de mais de 54 milhões de brasileiros”, assegurou 

Giselle Chassot

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