Revelações da relação entre Demóstenes e Cachoeira monopolizam noticiário

Com as informações acrescentadas, nesta sexta-feira à noite, ao relacionamento entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pela Rede Globo e pela revista Carta Capital, ganha corpo também o anúncio feito hoje pelo deputado Vicentinho (SP), em nome da Liderança do PT na Câmara, de que, na semana que vem, parlamentares do PT e de outros partidos vão ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, solicitar investigações sobre o impactante relacionamento entre o senador e o “empresário de jogos” –  classificação técnica utilizada pelos advogados do bicheiro e explorador de caça-níqueis, que chefia uma das mais poderosas organizações de contraventores do Brasil.

“O PT vai pedir ao procurador Roberto Gurgel que investigue mais essa denúncia envolvendo o senador Demóstenes Torres, que se considera como o ‘líder da luta pela ética no Brasil’, e Carlinhos Cachoeira”, disse o deputado, da tribuna da Câmara. A solicitação, acrescentou, “pode ser incluída no pedido de providência já protocolado junto à Procuradoria pelos líderes petistas na Câmara, Jilmar Tatto (SP), e no Senado, Walter Pinheiro (BA), no dia 16 de março”. Deputados e senadores do PSB, PDT e PSOL também assinam a representação.

O advogado de defesa de Demóstenes Torres, Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, também nesta sexta-feira, deu entrada na Procuradoria-Geral da República à petição de uma cópia do inquérito policial que vincula Demóstenes Torres com Carlinhos Cachoeira, traz o blog do jornalista do UOL, Josias de Souza. O advogado do senador declara-se “perplexo” e “indignado”, e que seu cliente está sendo tolhido de direitos essenciais para defender-se das acusações.

Dia 6 de março passado, Demóstenes Torres subiu à tribuna do Senado, para explicar a primeira leva de acusações veiculadas na grande mídia e nas redes sociais, dando notícia que o senador recebera um aparelho de cozinha (fogão, geladeira etc.) importado pelo contraventor, que também acusado de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha no inquérito da operação Monte Carlo, da Polícia Federal. O senador não negou sua amizade com Cachoeira, argumentando que seria descortês perguntar o preço do presente de casamento dado pelo amigo. Recebeu, na ocasião, apartes e apoios de senadores de todos os partidos, inclusive do PT.

A segunda leva de notícias sobre a proximidade entre o senador e o contraventor foi trazida há duas semanas. Cachoeira, que ainda se encontra na prisão federal de segurança máxima de Mossoró (RN), importou 15 aparelhos Nextel, aparentemente configurados para barrar grampos e gravações telefônicas. Segundo conclui o inquérito, para manter conversas protegidas sobre seus negócios.

O estratagema não funcionou. As gravações policiais, obtidas com autorização judicial, revelaram que o senador dirigia-se intimamente ao bicheiro como “professor”, e –  revelação chocante – solicitou empréstimos para pagamento de frete e táxi aéreo, conforme revelou a  edição impressa do O Globo de hoje. A mesma reportagem informa ainda que o inquérito encontra-se à disposição do procurador-geral desde 2009.

Carta Capital publica acusações ainda mais graves contra Demóstenes Torres. Diz a revista que a Polícia Federal identificou também um pacto firmado entre o senador e o contraventor, em vigor há seis anos, pelo qual 30% do lucro de Cachoeira foi aplicado em fundo para financiamento da planejada campanha de Demóstenes Torres ao governo de Goiás, em 2014. A quantia amealhada é estratosférica – R$ 170 milhões, estima o delegado Deuselino Valadares dos Santos, ex-chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, da Superintendência da Polícia Federal de Goiânia.

Diz um trecho da reportagem da revista:

“O senador conseguiu manter a investigação tanto tempo em segredo por conta de um expediente tipicamente mafioso: ao invés de se defender, comprou o delegado da PF.
“Deuselino Valadares foi um dos 35 presos pela Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Nas intercepções telefônicas feitas pela PF, com autorização da Justiça, ele é chamado de ‘Neguinho’ pelo bicheiro. Por estar lotado na DRCOR, era responsável pelas operações policiais da Superintendência da PF em todo o estado de Goiás. Ao que tudo indica, foi cooptado para a quadrilha logo depois de descobrir os esquemas de Cachoeira, Demóstenes e mais três políticos goianos também citados por ele, na investigação: os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).
“Ao longo da investigação, a PF descobriu que, nos últimos cinco anos, o delegado passava informações sigilosas para o bando e enriquecia a olhos vistos. Tornou-se dono de uma empresa, a Ideal Segurança Ltda, registrada em nome da mulher, Luanna Bastos Pires Valadares. A firma foi montada em sociedade com Carlinhos Cachoeira para lavar dinheiro. Também comprou fazendas em Tocantins, o que acabou por levantar suspeitas e resultar no afastamento dele da PF, em 2011.”

Recomenda-se a leitura na íntegra:

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