S&P rebaixa nota do Brasil,mas Fitch e Moodys mantêm grau de investimento

S&P rebaixa nota do Brasil,mas Fitch e Moodys mantêm grau de investimento

Rebaixamento da S&P não indica necessariamente um caminho turvo, sem voltaLendo com uma lupa de bom tamanho, e da forma e maneira que se pretende interpretar, o rebaixamento da nota da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) pode levar a análises de que o Brasil entrou num caminho turvo, sem volta, a princípio.

Não é bem assim e, como diz o ditado, o buraco é mais embaixo. Na tarde desta quarta-feira (9), ao reduzir a nota de risco do Brasil de BBB- para BB+, a agência classificadora de crédito justificou sua decisão dizendo – segundo tradução publicada no site G1- que “os desafios políticos que o Brasil enfrenta continuam apesar da capacidade do governo e vontade de submeter ao Orçamento de 2016 ao Congresso (sic) consistente com a política de ajuste fiscal assinalada durante o segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff ”.

 

A tradução reporta ainda que a “proposta do Orçamento do governo para 2016 mostra mais um desafio para a meta fiscal menos de seis semanas após a última revisão da nota brasileira. Para a S&P, esse desafio ‘poderia significar três anos seguidos de déficit primário e aumento contínuo da dívida se os rendimentos subsequentes ou medidas de cortes de gastos não forem tomadas’”. E continua: “a perspectiva negativa, de acordo com a agência, reflete uma probabilidade de ‘um em três’ de um novo rebaixamento devido à deterioração da situação fiscal do país, e uma mudança potencial da dinâmica política, incluindo uma falta de coesão dentro do gabinete presidencial, ou devido a uma turbulência econômica que nós esperamos atualmente’”.

 

O comunicado traduzido pelo G1 informa ainda que a agência acredita que a situação de crédito do Brasil enfraqueceu desde 28 de julho, quando a perspectiva do Brasil foi revisada para negativa. “No momento, concluímos um aumento elevado do risco para a política de correção fiscal em andamento, principalmente decorrendo da dinâmica fluída no Congresso, associada aos efeitos das investigações de corrupção da estatal Petrobras. Nós temos agora menos convicção na política fiscal do gabinete da presidência”.

 

O esgotamento da capacidade do governo manter subsídios a 56 setores da economia, para enfrentar a crise que se desenvolve desde 2008, já havia disso detectado, assim como era esperada a decisão de retirar tais subsídios – e foi o que o Congresso fez.

O governo também realinhou preços administrados, ou seja, tarifas de serviços públicos, como gasolina, óleo diesel, energia elétrica e outros. O governo Dilma tem feito a lição de casa e na área da política monetária ataca a inflação com juros altos.

A redução da nota pela Standard & Poors quer dizer que haverá uma corrida para retirar dinheiro do Brasil? A resposta é não, porque os investidores/especuladores não agem num efeito carneiro – onde vai um, os outros vão atrás -, porque o Brasil ainda mantém a nota de grau de investimento por outras duas agências de risco ditas sérias, a Ficht e a Moodys, cada qual analisando a situação econômica, financeira e política de seu modo.

A S&P atribui à corrupção da Petrobras ao esgarçamento das contas. A agência pode estar certa ou não, mas é apenas uma entre as diversas interpretações e análises que se queira fazer. Poderíamos olhar o combate à corrupção como algo que não se viu em 2008, quando a mesma S&P deu a nota de grau de investimento para o Brasil.

Naquele momento, os Estados Unidos enfrentavam a mais dura crise desde 1930, com a farra dos títulos lastreados em hipotecas. Em 2011, num texto, o economista Paul Krugman foi categórico ao espinafrar a agência S&P, porque a agência havia dado uma nota belíssima para o risco do banco Lehman Brothers, cujo colapso, escreveu Krugman, “provou um pânico global, uma classificação A no mês em que o banco faliu.

Vem a pergunta: como foi que a agência de classificação de risco reagiu depois da falência do banco ao qual atribuída nota A?

“Ela emitiu um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro”, disse o economista.

Portanto, o olhar para o combate à corrupção na Petrobras pode ter uma leitura de que mal feitos não são aceitos pelo governo e pelo gabinete da presidenta Dilma, que nunca antes na história desse país a corrupção e os corruptos foram tão perseguidos.

É certo que o governo superou a crise de 2008, sendo o último a entrar e o primeiro a sair dela, porque adotou medidas anticíclicas que garantiram o emprego e a renda dos trabalhadores. O governo também reduziu o spread bancário, o ganho dos banqueiros. O governo manteve os programas sociais.

 

Então, a questão fiscal que se coloca é certa, mas o governo adotou as medidas para fazer recuperar sua capacidade de arrecadação. E isto está sendo feito com a ajuda do Congresso Nacional, por mais que também seja uma fonte de pressão por novas despesas. E o Brasil, vamos combinar, mantém intacta sua reserva cambial acima de US$ 370 bilhões.

 

Então, como dizer que o Brasil pode se tornar um mau pagador. Isso só ocorre na cabeça daqueles que torcem quanto pior melhor, mas a realidade pura, nua e simples é que as agências de risco também erram e exageram na dose. A notícia da S&P serve apenas para os especuladores, porque amanhã o preço de uma máquina de lavar continuar o mesmo valor nas Casas Bahia ou no Magazine Luiza, podendo ser parcelada acima de 18 meses.

 

 

Marcello Antunes

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