Sai o chefe torturador da polícia política, entra o líder comunista

Senadora Ana Rita lidera movimento que quer mudar nome de ala do Senado de Filinto Muller para Luís Carlos Prestes

 

Sai o chefe torturador da polícia política, entra o líder comunista

Ana Rita: “Cuida-se de substituir a homenagem
feita a um agente da intolerância por outra
destinada a pôr em destaque um ícone da
resistência à repressão”

A mudança do nome da ala Filinto Müller para Ala Luiz Carlos Prestes avançou mais uma etapa, nesta terça-feira (29), com a aprovação pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Projeto de Resolução do Senado (PRS 36/2011). O texto, que já passou pela análise das Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Educação Cultura e Esporte (CE), segue agora para a Mesa Diretora do Senado. A votação da proposta foi acompanhada pela neta de Luiz Carlos Prestes, Ana Prestes.

“É simbólico que isso seja aprovado no mês que tristemente lembramos o golpe de 1964. Que nós desfilemos a nossa liberdade por alas, ruas e avenidas que levem o nome de nossos libertadores e não de nossos algozes”, disse Ana Prestes, ao agradecer a aprovação.

O projeto foi apresentado pela senadora Ana Rita (PT-ES) em 2011. Para a petista, que preside a CDH, diferentemente de Müller, Prestes foi um defensor da democracia e merece a homenagem. Tanto Filinto Müller (1900-1973) quanto Luiz Carlos Prestes (1898-1990) foram senadores. “É um reconhecimento de sua luta pela democracia durante um período tão difícil da nossa história”, disse.

Em seu relatório, o senador Humberto Costa (PT-PE) avaliou que o projeto assegura o direito à memória e à verdade. “Cuida-se de substituir a homenagem feita a um agente da intolerância por outra destinada a pôr em destaque um ícone da resistência à repressão”, assinalou.

De acordo com a senadora Ângela Portela (PT-RR), existe a possibilidade de o tema ser deliberado na reunião da Mesa Diretora da próxima quarta-feira (30).

Filinto Müller
Mais conhecido por sua atuação como chefe da polícia política de Getúlio Vargas, Filinto Müller nasceu em Cuiabá, no ano de 1900. Com o fim da ditadura, foi eleito senador pela primeira vez em 1947 e exerceu mandatos por 26 anos, com apenas uma interrupção. Em 1973, assumiu a presidência da Casa, mas morreu logo depois num desastre aéreo em Paris. Situado ideologicamente à direita, Filinto Müller colaborou ainda com o regime militar (1964-1985) e é lembrado por Ana Rita pela prática de tortura durante o governo Vargas e sua simpatia pelo nazismo.

Luiz Carlos Prestes
Luiz Carlos Prestes é considerado um dos maiores líderes comunistas da história do Brasil. Ele nasceu em Porto Alegre (RS) em 1898, formou-se em Engenharia Militar pela então Academia Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, em 1919. Em 1924, já capitão, rebelou-se contra as oligarquias dominantes da Primeira República, em um movimento que ficou conhecido como Coluna Prestes.

Líder da Intentona Comunista – movimento para derrubada do governo Getúlio Vargas, capitaneada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1935 –, ele chegou ao Senado ao fim do Estado Novo (1937-1945) e comandou uma bancada de 14 deputados durante a Constituinte de 1946. Teve seu mandato cassado quando o PCB foi declarado ilegal.

Prestes só saiu da clandestinidade em 1979, ano da anistia durante o regime militar. O líder comunista passou então a apoiar o PDT de Leonel Brizola (1922-2004). Prestes faleceu aos 92 anos no Rio de Janeiro.

Com informações da Agência Senado

Confira a íntegra do PRS 36/2011

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