Contínuo diz ter feito saques de R$ 400 mil por dia para ex-conselheiro

Contínuo diz ter feito saques de R$ 400 mil por dia para ex-conselheiro

Hugo Borges revelou ter feito saques em dinheiro que ultrapassam R$ 3,2 milhõesA comissão que investiga os atos de corrupção dentro do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CPI do Carf) ouviu novos envolvidos no escândalo, nesta quinta-feira (3), no Senado. Em uma das oitivas, o contínuo Hugo Borges revelou ter feito saques de até R$ 400 mil por dia e levado os valores para o escritório de advocacia do ex-conselheiro do Carf José Ricardo da Silva, um dos suspeitos de cobrar propinas para manipular julgamentos no órgão.

Borges afirmou que recebia um salário de R$ 1,5 mil por mês. Apesar de prestar serviços de “faz tudo” até o ano de 2013 no escritório de advocacia, ele era contratado pela empresa Terra Fértil, que pertence à família de José Ricardo.

Na audiência, o senador José Pimentel (PT-CE) questionou as movimentações financeiras incomuns de Borges. Entre elas, oito saques em dinheiro de uma conta do escritório de advocacia, que somam mais de R$ 1,2 milhão, e mais 10 retiradas da conta de uma outra empresa, no valor de R$ 2,12 milhões. Borges confirmou ter feito estes e outros saques pessoalmente – muitas vezes em montantes de R$ 400 mil por dia – e que os levava para o escritório de José Ricardo, mas alegou não saber como os recursos eram utilizados.

As transações volumosas, segundo Borges, começaram em 2009, quando José Ricardo teria se juntado ao lobista Alexandre Paes dos Santos – também suspeito de envolvimento nos esquemas de propina. Borges, no entanto, estranhou que houvesse uma movimentação tão alta de dinheiro no escritório, enquanto as contas de água, luz e telefone estavam atrasadas. “A minha suspeita era de que esse dinheiro não deveria ser deles [José Ricardo e Alexandre], não era legal”, disse.

O contínuo afirmou que o escritório recebeu R$ 13 milhões da empresa RBS – afiliada à Rede Globo – por serviços prestados. Ele disse ainda ter visto no escritório os ex-ministros Silas Rondeau (Minas e Energia) e Erenice Guerra (Casa Civil), mas não soube dizer o motivo dos encontros. Ainda segundo Borges, Erenice já não fazia mais parte do governo quando frequentou o local.

Em julho, outra funcionária do escritório de advocacia, Gegliane Maria Bessa Pinto, participou de oitiva reservada, que contou apenas com a presença de senadores. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, ela confessou ter recebido parte do dinheiro sacado em espécie por Hugo Borges.

Ainda segundo o contínuo, ele era tratado “pior do que um escravo” dentro do escritório por José Ricardo. “Ele dizia que eu fazia tudo errado, que não servia para nada”, afirmou.

Suspeita de lavagem de dinheiro
Outro inquirido nesta quinta, o engenheiro agrônomo Flávio Rogério da Silva – irmão de José Ricardo da Silva – classificou como “normal” as transações de empréstimo feitas entre ele e o irmão. Ambos são sócios da empresa Terra Fértil, que em oito anos movimentou R$ 40,71 milhões. Há suspeitas de que parte dessas transações tenham sido para lavagem de dinheiro proveniente de propina, já que as empresas de José Ricardo fizeram depósitos à Terra Fértil em períodos coincidentes com resultados de julgamentos do Carf.

Segundo Flávio, os recursos repassados pelo irmão eram apenas empréstimos e teriam sido pagos no mesmo valor, sem nenhuma cobrança de juro, mesmo se tratando de cifras que podem ter chegado a R$ 3 milhões.

Ainda de acordo com ele, a movimentação financeira alta na empresa agropecuária deve-se às atividades normais do ramo. “É uma empresa que movimento muito dinheiro. Um empréstimo para garantir a produção em uma lavoura de café é de R$ 1 milhão, por exemplo”, afirmou.

Durante a oitiva, o sabatinado disse aos senadores que pode comprovar todas as transações, apesar de não ter declarado no Imposto de Renda os empréstimos feitos entre ele e o irmão.

As investigações da CPI no Senado têm como base o trabalho da Operação Zelotes, da Polícia Federal, que analisa denúncias de um esquema de manipulação de julgamentos no Carf, propiciando a redução de multas de sonegadores de impostos. O órgão atua como um tribunal, onde contribuintes, sejam empresas ou pessoas físicas, podem questionar cobranças da Receita antes de recorrer à Justiça comum.

Carlos Mota

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