Impeachment de Dilma é punição desproporcional, diz New York Times

Impeachment de Dilma é punição desproporcional, diz New York Times

New York Times: não há evidência que Dilma tenha abusado do poder para ganho pessoal, enquanto os políticos que orquestraram sua saída estão implicados em diversos escândalos Um dos principais jornais do mundo, o New York Times afirmou, em editorial publicado nesta sexta-feira (13), que o impeachment da presidenta Dilma é uma punição desproporcional para uma política que, ao contrário dos seus julgadores, não enfrenta acusações ou corrupção ou favorecimento pessoal.

“Não há evidências de que ela tenha abusado de seu poder para ganho pessoal, ao passo em que muitos dos políticos que orquestraram sua derrubada estão implicados em um imenso esquema de propinas e outros escândalos”, diz o texto.

O editorial afirma ainda que os esforços para tirar Dilma do poder têm mais a ver com o fato da presidenta não ter tentando obstruir as investigações da Operação Lava-Jato. O afastamento de Dilma, segundo o jornal, pode facilitar o retorno de velhas práticas condenáveis do toma-lá-dá-cá.

Veja, abaixo, a tradução do texto na íntegra:

 

Agravando a crise política no Brasil

Editorial do New York Times

Horas após senadores os senadores terem dado uma votação avassaladora em favor de seu afastamento do cargo por suposta manipulação fiscal, a presidenta Dilma Rousseff, do Brasil, denunciou o esforço para declarar seu impeachment como um golpe.

 “Posso ter cometido erros, mas nunca cometi crimes”, afirmou a Senhora Rousseff

Pode-se debater essa afirmação, mas Rousseff está certa em questionar os motivos e a autoridade moral dos políticos que tentam afastá-la. A presidenta do Brasil, que foi reeleita em 2014 para mais um período de quatro anos tem sido uma péssima política e uma liderança inexpressiva. Mas não há evidências de que ela tenha abusado de seu poder para ganho pessoal, ao passo em que muitos dos políticos que orquestraram sua derrubada estão implicados em um imenso esquema de propinas e outros escândalos.

A Suprema Corte do Brasil [o Supremo Tribunal Federal] decidiu, na semana passada, que Eduardo Cunha, o parlamentar veterano que liderou os esforços pelo impedimento de Dilma Rousseff, deve ser afastado do mandado para ser julgado por corrupção. O vice-presidente Michel Temer, que assumiu o governo do país na quinta-feira, pode estar inelegível por oito anos, punido pela Justiça Eleitoral por violação de limites de gastos de campanha.

Dilma Rousseff é acusada de usar dinheiro de bancos públicos para cobrir rombos orçamentários, uma tática que outros governantes brasileiros usaram no passado sem chamar muita atenção. Muitos suspeitam, porém, que o esforço para afastá-la do cargo tem mais relação com sua decisão de permitir que procuradores seguissem com a investigação sobre o esquema de corrupção na Petrobras, a estatal petrolífera brasileira.

Se o Senado condenar Rousseff por ilícitos ficais – o que é provável, já que ,55 dos 81 senadores votaram a favor do processo de impeachment—governantes brasileiros podem achar mais fácil restaurar as velhas práticas políticas de toma-lá-dá-cá. E isso seria indefensável.

O Brasil está às voltas com sua pior recessão desde 1930 e agora essa crise política vem abalando a confiança em sua jovem democracia.  Ao lado desses problemas, o governo se debate com uma epidemia de zika vírus às vésperas da realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

As recentes investigações de corrupção expuseram uma elite governante apodrecida e indignaram o País. Se o mandato de Dilma Rousseff for abreviado, os brasileiros deveriam ter a liberdade de eleger um novo governante. Uma nova eleição pode ser realizada em um curto espaço de tempo, se a Justiça Eleitoral concluir que dinheiro do escândalo da Petrobras foi usado na campanha de reeleição da presidenta, em 2014. Além disso, o Congresso pode aprovar uma lei convocando uma nova eleição.

Ainda que Dilma Rousseff não tenha sido competente no governo do País, os senadores que celebram seu afastamento precisam lembrar que a presidente foi eleita duas vezes. O Partido dos Trabalhadores ainda tem apoio popular considerável, especialmente entre os milhões retirados da pobreza nas duas últimas décadas.

A confiança em Dilma Rousseff e seu partido pode ter recuado, em meses recentes, mas está sendo cobrado um preço desproporcionalmente alto da presidenta por irregularidades administrativas, enquanto que muitos de seus mais ardentes detratores são acusados de crimes muito mais graves. Eles podem acabar descobrindo que muito da ira que vem sendo concentrada contra Dilma Rousseff pode, em breve, ser direcionada contra eles.

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