Impeachment é o cavalo de batalha de ambições individuais, avalia Paulo Paim

Impeachment é o cavalo de batalha de ambições individuais, avalia Paulo Paim

Paulo Paim: Não podemos vulgarizar o instituto do impeachment, sob pena de comprometer o futuro de nosso paísO senador Paulo Paim posicionou-se contra o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em artigo publicado na última segunda-feira (14) no jornal gaúcho Zero Hora. No texto, intitulado “Alucinados delírios do poder”, o parlamentar explica que as teses usadas para tentar justificar o impedimento de Dilma originam-se de uma confusão criada a partir de práticas comuns da contabilidade estatal brasileira há décadas. 

Paim ainda alerta para o “risco injustificável” desse golpe, uma vez que a falta de estabilidade política pode resultar em “um prejuízo internacional incalculável” para o Brasil. 

Confira a íntegra do artigo “Alucinados delírios do poder”: 

As questões orçamentárias e fiscais apontadas no pedido de impeachment de Dilma Rousseff não são suficientes para qualquer processo dessa natureza. Elas foram praticadas nos governos anteriores, inclusive nas gestões do PSDB. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. 

Affonso Arinos associou o conteúdo político do impeachment de Vargas “àquelas atitudes de desrespeito à organização geral do país que trazem prejuízos irreparáveis à polis, à cidade, ao conjunto do povo”. Atitudes que se traduzem pela “concepção geral, por aceitação tácita, por um ponto de vista global de que estes governantes se tornaram incompatíveis com a nossa nação”. 

É neste sentido que o impeachment é político, porém não no sentido raso da maioria parlamentar, como muitos se têm empenhado em divulgar. 

Na situação atual, ele transformou-se no cavalo de batalha de ambições políticas individuais, de alucinados delírios de poder. 

Onde está o compromisso com o bem público, o maior patrimônio que todo político deveria ostentar? Onde estão os escrúpulos da consciência de alguns dos principais homens públicos desta terra? 

Não podemos vulgarizar o instituto do impeachment, sob pena de transformar o Brasil na referência acabada das repúblicas de commodities latino-americanas. Com isso, comprometeremos o futuro de nosso país. Como nação teremos um prejuízo internacional incalculável. 

É preciso repensar o instituto do impeachment, rever o poder excessivo concentrado no presidente da Câmara, definir com clareza o rito processual, precisar em que medida questões fiscais e orçamentárias — prática comum da contabilidade estatal brasileira há décadas — podem ensejar a responsabilidade pessoal do Presidente da República, na definição de crime de responsabilidade. 

O país não pode ser sacudido, de tempos em tempos, por crises políticas desta envergadura, pois elas cobram um preço injustificável do nosso povo. 

O momento pede responsabilidade e espírito público da classe política nacional. Os políticos não podem se omitir. Sou contra o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. 

Nenhuma democracia sobrevive sem estabilidade política, sem previsibilidade legal, sem perspectivas de futuro, completamente desorientada. Precisamos reagir!

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