Mães de Maio pedem à CPI apoio a apuração das mortes de seus filhos

Mães de Maio pedem à CPI apoio a apuração das mortes de seus filhos

As Mães de Maio na CPI. Para a senadora Fátima Bezerra, Estado tem que estar à altura da coragem dessas mulheres, oferecendo respostas concretas A coragem das vítimas e dos familiares de vítimas da violência policial que levam adiante as denúncias e a cobrança de providências tem oferecido uma contribuição inestimável para revelar parte dessa chaga que aflige o País e exige, como contrapartida, que os poderes públicos ofereçam uma resposta à altura, avalia a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que na noite da última segunda-feira (24) acompanhou a audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado que investiga o assassinato de jovens no Brasil.

“Companheiras recebam a nossa solidariedade pela coragem de vir aqui, expor a dor, a indignação e a revolta de vocês. É um drama muito pesado ver um filho assassinado”, disse Fátima as mães de três vítimas de homicídios praticados por por policiais ouvidas pela CPI na sessão da segunda-feira. “É pior quando alguém vê seu filho ser morto, de maneira covarde, por aqueles, que, como agentes de Estado, deveriam nos dar proteção”.

Fátima reafirmou o compromisso de seu mandato e de toda a CPI de não poupar esforços na investigação desses casos e de oferecer ao País um relatório que possa contribuir com propostas concretas para estancar o verdadeiro genocídio contra os jovens brasileiros, principalmente a parcela excluída das periferias, visadas pela cor de sua pele e condição socioeconômica. A senadora também elogiou o trabalho de entidades como a Anistia Internacional e o Instituto Igarapé, que também falaram aos senadores na noite de segunda-feira.

A CPI sobre o Assassinado de Jovens ouviu a assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Renata Neder Farina de Souza, que citou dados do relatório Você Matou Meu Filho — Homicídios Cometidos Pela Polícia Militar na Cidade do Rio de Janeiro, recentemente divulgado, e Renata Avelar Gianinni, pesquisadora do Instituto Igarapé. Mas os depoimentos que emocionaram a comissão vieram de Débora Maria da Silva, Vera Lúcia Gonzaga dos Santos e Terezinha Maria de Jesus, integrantes do Grupo Mães de Maio, que reúne familiares de vítimas da violência policial.

Terezinha é mãe de Eduardo Jesus Ferreira, morto aos dez anos com tiro de fuzil na porta de casa durante operação policial no Complexo do Alemão, no Rio, um caso que chocou o País. Débora e Vera Lúcia perderam filhos em maio de 2006, quando o estado de São Paulo foi varrido por uma onda de assassinatos e “justiçamentos” em retaliação às mortes de policiais determinadas por uma organização criminosa, o Primeiro Comando da Capital (PCC). A filha de Vera Lúcia, Ana Paula Gonzaga dos Santos, grávida de nove meses, e seu genro, foram executados por encapuzados que ainda atiraram na barriga de Ana Paula para garantir que o bebê, uma menina que deveria nascer de uma cesariana no dia seguinte, não tivesse qualquer chance de sobrevivência. Débora perdeu o filho Rogério na mesma onda de terror. Os dois casos, como o de cerca de 600 outras vítimas, foram arquivados pelas autoridades paulistas.

“Eu sei que policiais do bem não entram em favela encapuzados. Entram encapuzados em favelas, atiram em pessoas inocentes. Não perguntam, matam primeiro. Eles são os verdadeiros bandidos fardados. Meu filho não merecia morrer do jeito que morreu”, revolta-se Terezinha, que sofreu ameaças, foi obrigada a deixar o Rio de Janeiro, o emprego e a casa própria que tanto batalhou para conquistar. “Sou vítima do Estado duas vezes”, resume. As explicações para a morte de Eduardo, que brincava na porta de casa com um celular branco nas mãos, já variaram muito: “Alegaram que acharam que o celular era uma pistola. Depois, que a arma caiu da escada e disparou. Depois, que [o policial] teve um surto psicótico. Tudo mentira. Eles são é covardes mesmo! Muito covardes!”, afirma a mãe.

Débora Maria da Silva é coordenadora e fundadora do Movimento Mães de Maio. O ativismo e a busca de respostas têm sido o recurso para vencer a profunda depressão resultante da morte do filho Edson Rogério Silva dos Santos, 29 anos. No dia 10 de maio de 2006, um ataque do crime organizado nas delegacias da Baixada Santista e da grande São Paulo. Na mesma data, o rapaz, que trabalhava como gari, havia extraído um dente siso. O ataque do PCC levou à decretação de um “toque de recolher” em Santos, mas Rogério foi à casa da mãe buscar um antibiótico para o dente inflamado e, na volta para sua casa, acabou assassinado.

“Meu filho foi assassinado! No velório dele, uma testemunha falou: ‘D. Débora, vou sumir porque eles viram a minha fisionomia. Eles vão me matar, porque eu sou testemunha ocular deles.” O velório de Rogério foi permanente acossado por um carro preto e por viaturas que passavam cantando pneu, contou ela. No dia seguinte, os jornais noticiavam a morte e referiam-se ao rapaz como “ex-presidiário”. Débora hoje luta pela federalização de crime, assim como dos outros 600 assassinatos, como única chance de ver alguma justiça ser feita. “Estamos entrando no segundo mandato do procurador-geral da República [Rodrigo Janot], passamos por dois mandatos, do ex-procurador [Roberto] Gurgel e não temos uma resposta”. Um dos compromissos assumidos pelos senadores Fátima Bezerra e Telmário Mota (PDT-RR), que presidiu a reunião da CPI, foi apoiar essa reivindicação.

Cyntia Campos

 

 

To top