Suplicy: “ Sou defensor da fidelidade partidária e Dilma é minha candidata”

O Valor Econômico desta sexta-feira (22/02) retoma a trajetória do senador petista Eduardo Suplicy (PT-SP), a quem atribui a alcunha de “O Quixote da renda mínima”. A principal bandeira política do primeiro senador eleito pelo partido é revisitada pelo jornal que relata o início do relacionamento entre o então professor de economia e um então “perigoso” líder sindical e que depois viria a se tornar o presidente do País: o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Isso foi no ano de 1976, o Brasil vivia sob ditadura militar e o tema em debate já era a má distribuição de renda entre os brasileiros.

Veja a íntegra da matéria:

Eduardo Suplicy terminara sua palestra para estudantes do 4º ano de economia da Fundação Santo André, quando Lula, na segunda fila de carteiras da sala de aula, levantou a mão e fez a primeira pergunta. Queria mais detalhes sobre a má distribuição de renda entre os brasileiros.

Do fundo da sala, um professor protestou: “O que é que o diretor da escola vai dizer quando souber que está aqui um perigoso líder sindical?”

Surpreso e embaraçado, naquele tempo ainda tímido, Lula se retira da sala. Estava na faculdade por sugestão de um aluno: “Vai falar aquele cara que escreve na “Folha”, um crítico da política econômica, todo mundo pode assistir”. Suplicy retoma a palavra: “Vocês estudam para ser economistas e eu queria lhes dizer que na hora de tomar decisões sobre política econômica é importante escutar os empresários e também os trabalhadores”.

Lula esperou Suplicy no pátio da fundação, centro da cidade de Santo André, região metropolitana de São Paulo. Apresentou-se, trocaram telefones e foi feito o convite: “Apareça no sindicato para conversar”.

Assim o economista Eduardo Matarazzo Suplicy, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), então colunista da “Folha de S. Paulo”, conheceu o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Luiz Inácio da Silva. Era 1976, Brasil sob a ditadura do general Ernesto Geisel. A partir dali trocaram muita conversa no sindicato.

Dois anos depois, Suplicy lançou o livro “Compromisso” e a Editora Brasiliense promoveu no calçadão em frente da sua livraria, no centro de São Paulo, um encontro entre o autor e o metalúrgico. Era uma espécie de entrevista, Lula e outros sindicalistas perguntavam e Suplicy respondia. Populares se aglomeraram ao redor, passaram a fazer perguntas também a Lula, e o ato se transformou numa manifestação pela democracia. O suplemento “Folhetim” da “Folha de S. Paulo” publicou texto com o título “Intelectual conversa com operários sobre brasileiros” e o jornalista Caio Túlio Costa publicou a íntegra do “poliálogo” no jornal literário “Leia Livros”.

O regime militar sobrevivia, Lula ainda não fundara o PT e Suplicy era candidato do MDB a deputado estadual – percorria o Estado num jipe velho emprestado por um amigo. A presença de Lula no ato era apoio implícito à candidatura. Suplicy foi descrito assim pelo sindicalista: “Intelectual e professor de economia que poderia estar do lado do sistema… [mas] tem dito muita coisa daquilo que o movimento sindical tem reivindicado”. Muito por alto, sem detalhes, Lula fez referência à necessidade de “a classe trabalhadora criar um partido político que a represente”.

De Cesare Battisti a Yoani Sánchez, mantenho a coerência de defender a justiça e a democracia

Lula parecia pronto para entregar-se à sua obsessão futura: o PT, Partido dos Trabalhadores. E Suplicy, embora falasse em desigualdade social, ainda não elaborara a própria, compulsiva, prioritária, redundante, obsessão: a “renda mínima”, que mais tarde chamaria de “renda básica da cidadania”. Lula e Suplicy, nas palavras do primeiro, estavam “afinados” e talvez essa tenha sido a sua temporada de melhor relacionamento ao longo dos 35 anos seguintes. Ambos não admitirão hoje que conviveram melhor antes de Lula fundar o PT e Suplicy estar entre os primeiros que o ajudaram a fundar.

Se questionado, Lula poderá lembrar que, quando Suplicy foi consultá-lo em São Bernardo sobre a possibilidade de ser seu adversário nas prévias que escolheriam o candidato do partido à Presidência, deixou-o à vontade para competir. “Vai lá no diretório nacional e se inscreva, você tem todos os direitos e méritos.” Realizou-se a prévia, em 17 de março de 2002. Foi a primeira e única que o PT realizou para escolher candidato a presidente; outros partidos ainda não se atreveram. Votaram 171 mil militantes em todo o país. Lula venceu com 84,4% dos votos válidos. Suplicy apoiou o vencedor e saiu em campanha pelo país. Mas ninguém ignora que, desde então, a aproximação é apenas protocolar. Seus encontros são raros e Lula não mais chamou Suplicy para discutir os rumos da economia.

Suplicy diz que agora está empenhado em ser novamente candidato do PT para um quarto mandato no Senado. Há apenas uma vaga em disputa e só uma hipótese de Suplicy desistir. “Se Lula quiser ser o candidato, eu abro mão. É a primeira vez que declaro isso à imprensa. Desistiria em sinal de respeito pelo presidente, respeito que envolve amizade e companheirismo desde aquele encontro na Fundação Santo André”, disse o senador num prolongado jantar no Mercearia do Conde, agradável restaurante da região dos Jardins, em São Paulo, que escolheu para este “À Mesa com o Valor”.

Suplicy convalesce de uma pneumonia que o deixou cinco dias no hospital. Por isso, vai tomar suco de laranja. O repórter pede uma taça de malbec Killka, da altitude de Mendoza, de regular estrutura e leve toque de baunilha. O “maître” sugere e o senador, conhecedor da casa, recomenda o risoto de abóbora com carne-seca, mandioquinha palha e mostarda refogada, compartilhado pelo entrevistado, o repórter e o fotógrafo Luis Ushirobira. O risoto é realmente saboroso. E o colorido agrada aos olhos. Como entrada, “bruschetta” mista.

A pneumonia deixou preocupados os três filhos, o pessoal do seu gabinete, os amigos, a namorada, a jornalista Mônica Dallari – estão juntos há uma década, mas moram em casas diferentes. No terceiro dia, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, sua ex-mulher, ligou para saber se tinha melhorado. Esta noite, Suplicy diz que está recuperado, quase não tosse. Mas a secretária Valéria, às 22 horas, telefona para perguntar se tomou o antibiótico na hora certa. E o filho João telefonaria à 1h08 para avisar que é hora de ir para casa.

– O que provocou a pneumonia?

– Foi a primeira em 71 anos e meio. A causa foi o excesso de atividades. E um pouco talvez de preocupação e tensão com fatos políticos. Terminei o ano com ótimas notícias e outras que me causaram preocupação.

– Fiquei curioso. Comece pelas ótimas…

Em seu conhecido estilo de relatar lenta e detalhadamente o que se passa, Suplicy diz que a primeira boa notícia partiu do prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, que incluiu a renda básica da cidadania em seu programa de governo.

Suplicy era um dos postulantes à candidatura pelo PT; os outros, além de Haddad, eram a senadora Marta Suplicy e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini. Para ouvir os pré-candidatos, o PT realizou 33 reuniões dos diretórios distritais, algumas com a presença de até 400 militantes, e a última num salão da Assembleia de Deus no bairro de Guaianazes, com 1.300. Faltando duas ou três semanas para o encerramento do processo das prévias, Lula fez um apelo a Marta, Tatto e Zarattini para desistirem em favor de Haddad. “Por alguma razão, não fui convidado para essa reunião”, diz Suplicy. Logo depois, a própria presidente Dilma Rousseff renovou o apelo a Marta, que, como os outros já haviam feito, aceitou retirar a candidatura e deixou a vice-presidência da mesa do Senado para ser ministra da Cultura. E desapareceram as chances de Suplicy ser o escolhido.

Na reunião final, Suplicy usou seus 15 minutos para a explicação – e a repetiu no jantar, quase literalmente – do avanço que representaria a adoção do programa da renda básica em São Paulo, pois, segundo ele, é ainda mais abrangente, simples e desburocratizado que o Bolsa Família. É universal e incondicional, dispensa fiscalização. “Os 13 milhões de habitantes de São Paulo, do Antônio Ermírio à dona Maria”, têm direito a um benefício básico, que Suplicy estima em R$ 70 per capita. De início, atingirá os mais necessitados, depois vai-se ampliando por etapas. O senador perguntou se os filiados do PT concordavam. A plateia toda levantou o braço. Haddad, orador que o antecedera, já anunciara a adesão à renda básica. Suplicy, então, retirou a candidatura. Haddad soubera na noite anterior, pelo deputado federal Paulo Teixeira, a que Suplicy condicionava seu apoio. E o senador agora está atento às declarações do prefeito à cata de prenúncios de que a promessa será cumprida.

A experiência mundial mais exitosa da renda básica está no Alasca, que Suplicy considera o “mais igualitário” Estado americano, e o seu introdutor foi um governador republicano, antecessor de Sarah Palin. Richard Nixon tentou estendê-la para o país inteiro, conseguiu a aprovação de 260 contra 150 na Câmara dos Representantes. No Senado, porém, o projeto foi sepultado na comissão de finanças. Um conservador fez a seguinte observação: “Dois vizinhos, um sai de casa todo dia para trabalhar; o outro passa o dia na cadeira de balanço em sua varanda, este também vai receber?” Como a resposta foi afirmativa, a proposta caiu por 10 a 6. Mas no Irã já existe renda básica e no Brasil é lei, desde 2004. Quando o presidente Lula a sancionou em solenidade no Planalto, chamou Suplicy de “Dom Quixote da renda mínima”. Apesar disso, só um município a pôs em vigor: Santo Antônio do Pinhal, 7 mil habitantes, a 170 quilômetros de São Paulo.

Outra alegria de Suplicy foi ter sido apontado como o senador do ano pelo site “Congresso em Foco”. Votaram 186 jornalistas para indicar os dez melhores senadores. Suplicy ganhou no quesito “defensor da democracia”. A partir daí, os internautas escolheriam o melhor entre os dez. Votaram 200 mil e Suplicy venceu. A entrega do prêmio, na base do “the winner is…”, foi num concorrido jantar. No discurso, Suplicy defendeu a realização obrigatória de prévias para escolha de candidatos aos pleitos majoritários em todos os partidos. E também o registro, na internet, das contribuições para a campanha eleitoral de todos os candidatos. “Registro em tempo real, imediato, como fiz na campanha de 2006.” O senador considera as propostas relevantes para a democracia. “Inclusive para nós, do PT, para darmos exemplo e corrigirmos eventuais problemas que motivaram a Ação 470, o chamado mensalão”.
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Na festa houve duas surpresas. Suplicy não falou de renda básica, e Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy, o performático roqueiro Supla, apareceu num telão, sem prévio aviso, para saudar o pai: “Então, pai, parabéns, é isso aí. (…) Você não tá preocupado com poder, poder, poder. (…) Você é um voluntário da pátria, tá ligado?”

A ligação entre Suplicy e os três filhos sempre foi estreita e aparentemente se fortaleceu depois que o pai se separou de Marta. O mais velho, André, é advogado e os outros dois, Eduardo (Supla) e João – que se separou no ano passado da atriz Maria Paula, ex-integrante do “Casseta e Planeta” – são cantores. O pai às vezes se junta e formam um trio de roqueiros. [O senador conhece outras músicas, além de “Blowin” in the Wind”, de Bob Dylan]. Na noite deste jantar com o Valor, que Suplicy fez questão de esticar até sua casa, às 2 horas -“Tenho que lhe dar dois livros sobre a renda básica” -, João ficou acordado na sala até o pai chegar. Na noite seguinte, iriam juntos ao estádio do Pacaembu assistir ao jogo do Santos. E levariam os mais crescidinhos dos cinco netos de Eduardo e Marta Suplicy.

A relação da família com a cidade de Santos vem do fim do século XIX, quando Luiz Suplicy fundou junto ao porto uma corretora de café. Em 1912, seu filho, Paulo Cochrane Suplicy, jogou no Santos na primeira partida que o time disputou. E o neto Eduardo recita escalações do Santos ainda antes da era Pelé, do goleiro Manga a Tite, ponta-esquerda.

– O senhor jogou futebol?

– Gostava de todos os esportes, mas aos 10, 11 anos, passei a preferir o boxe.

Praticava no porão de casa na alameda Casa Branca com alameda Santos. Dos 15 aos 20 anos frequentava academias, fazia luvas com lutadores mais experientes, profissionais. Em 1962, já com 21, decidiu disputar um torneio de estreantes patrocinado pelo jornal “Gazeta Esportiva”.

Amigos e amigas da elite paulistana foram à noite de estreia. No vestiário, o treinador Lúcio Cruz advertiu: “Não se assuste com o tamanho do negrão”. O adversário era realmente forte, mas não poderia ser muito maior que Suplicy, pois eram meio-pesados, categoria inferior a 79 quilos.

“Quando entrei no ringue, os amigos aplaudiram, eram uns 50. Mas o público era de 500 pessoas e elas gritavam pro meu adversário: “Acaba logo com esse filhinho da mamãe!”” O senador sorri: “De repente me vi no centro do furacão da luta de classes…”

No primeiro round, Suplicy leva um murro no queixo que o derruba. “Olho para o Lúcio e ele fala “calma, espera contar até oito e daí faz tudo o que você sabe””. No segundo round, Suplicy derruba o adversário duas vezes e ganha por nocaute. No dia seguinte, aparecem na contracapa da “Gazeta Esportiva” a foto do vencedor e a manchete: “Eduardo Matarazzo Suplicy sai da lona para ganhar por nocaute”.

A segunda luta foi num estádio para 5 mil pessoas, e até a TV Paulista transmitiu. O adversário se chamava Getúlio Veloso. Luta equilibrada, ninguém caiu. “Dois jurados votaram em mim e o outro no Getúlio.”

Passados dois dias, o presidente da federação de pugilismo diz que um dos jurados se enganou, queria votar em Getúlio e colocou o nome de Suplicy na papeleta – algo improvável, porque a papeleta deveria conter, também, a soma dos pontos em cada round. “Consideraram Getúlio vencedor.”

Derrotado no tapetão, Suplicy diz que resolveu “lutar por outras coisas na vida”. Já cursava administração na FGV e começava a interessar-se por economia e política. Exercitou-se nas luvas por mais alguns anos e ainda hoje mantém a forma, 1,83 m, 97 quilos, com corridas e caminhadas em Brasília e ginástica com uma treinadora pessoal na pracinha em frente da sua casa em São Paulo. Só não faz ginástica no domingo, dia de ir à missa.

Lula tinha razão: Suplicy poderia, mesmo, ser do “sistema”. Pelo lado da mãe, dona Filomena, hoje com 104 anos e bem de saúde, o senador é bisneto do legendário “conde” Francesco Matarazzo, o maior industrial do país na primeira metade do século passado, e, por parte do pai, pertence, com oito irmãos, à linhagem de grandes corretores de café em Santos. [Quando se casou com Marta Teresa, em 1964, houve a fusão com uma terceira dinastia: os Smith de Vasconcellos, barões (verdadeiros) em Portugal e no Brasil.] O adolescente Eduardo estava destinado a levar vida de playboy, clubes, festas, Guarujá, Campos do Jordão, fazenda em Bragança.

Aos 15 anos, convidou Dilson Funaro, seu cunhado, casado com Ana Maria, para padrinho de crisma. O futuro ministro da Fazenda deu-lhe de presente uma biografia de Galileu Galilei (1564-1642). O livro sobre o astrônomo italiano foi detonador de mudanças: “Percebi como é importante a busca da verdade, mesmo que se sofra por isso. Até minhas notas melhoraram, pois passei a levar a vida a sério. Essa foi a parte de que a família gostou”.

Parte da família não gostaria, anos depois, quando ele voltou de viagem ao Leste Europeu com “ideias de esquerda” – em verdade, estranhou o partido único e a ausência de liberdades civis, mas aprovou a distribuição de renda e “a existência de creches”.

Essa viagem, um convite para participar do Festival da Juventude organizado pelo Partido Comunista em Helsinque, Finlândia, com passagens por União Soviética, Polônia, a antiga Checoslováquia, Bulgária, Alemanha Oriental, propiciou a estreia de Suplicy na imprensa. Ricardo Amaral assinava a coluna “Jovem Guarda” no jornal “Última Hora”, em que a turma de Suplicy às vezes era citada. Quando soube que o estudante de administração na FGV iria para o mundo socialista, Jorge Miranda Jordão, diretor de redação da “UH” e então namorado de Maria Teresa Lara Campos, filha do primeiro casamento de Dona Filomena e meia-irmã de Suplicy, convidou-o a escrever sobre a viagem. Foram 15 reportagens numa série intitulada “Um jovem-guarda atrás da Cortina de Ferro”. Na volta do mundo socialista, consequência das muitas viagens, noites maldormidas e talvez – ele nega – excesso de brindes com vodca “pela paz e amizade entre os povos”, o boxeur de 21 anos teve um colapso nervoso na Suíça e enfrentou a socos seis seguranças no sanitário de um aeroporto. Alguns amigos passaram a acreditar que fora mesmo submetido a uma lavagem cerebral na URSS.

Nesse ambiente, em 1960 conheceu Marta. Casaram-se em 1964 e dois anos depois seguiram para East Lansing para mestrado de Suplicy na Michigan State University. Voltaram em 1968, quando Suplicy passou a lecionar na FGV, e estão em Michigan novamente em 1970 para Suplicy fazer o doutorado em economia e Marta, mestrado em psicologia. O regresso definitivo é em 1973. Suplicy leciona na FGV e passa a escrever artigos para jornais.

Era editor de economia da revista “Visão” quando seu ex-colega de redação Vladimir Herzog é assassinado nos porões do DOI-Codi. Suplicy e Marta têm viagem marcada para uma reunião da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), órgão da ONU. No aeroporto de Guarulhos, são detidos pela polícia e, em salas separadas, obrigados a despir-se totalmente. A polícia procurava uma entrevista do cardeal dom Paulo Evaristo Arns sobre a morte de Herzog, que a revista fez, mas não chegou a publicar. Um agente infiltrado no meio jornalístico fizera a denúncia ao Serviço Nacional de Informações (SNI) de que Suplicy levava a entrevista para entregá-la ao “The New York Times”. Como a acusação era mentirosa, o casal foi liberado e conseguiu viajar.

Suplicy vai trabalhar na “Folha” como repórter da editoria de economia e é um dos primeiros economistas a escrever para a seção “Tendências e Debates”, na página 3. Por aí começou a ser conhecido e abriu-se o caminho para sua notória carreira política. Deputado estadual pelo MDB em 1979, entra para o PT em 1980 e por essa legenda é deputado federal (1983-1987), vereador em São Paulo (1989-1990) e, desde 1991, senador em três mandatos consecutivos. Nestes 23 anos, acompanhou o partido em todas as votações consideradas importantes, além de ter sido, com o deputado José Dirceu, o autor do requerimento de criação da CPI que levou à renúncia do presidente Fernando Collor em 1990, além de assumir algumas altitudes insólitas, e, por isso, de repercussão midiática: foi de pijama de seda listrado participar de um acampamento de sem-terra e deu, da tribuna, cartão vermelho ao presidente do Senado, José Sarney. O esforço para aparecer na imprensa levou-o esta semana a Recife para receber a blogueira cubana Yoani Sánchez e envolver-se nos incidentes com um grupo de manifestantes a favor de Fidel Castro. Mas na semana anterior mandou carta ao presidente Barak Obama em que reitera o apelo para suspensão do embargo contra a ilha. E, em 2011, manifestou-se reiteradamente pela libertação de Cesare Battisti, acusado na Itália de assassinatos políticos em processo que Suplicy considerou uma farsa. “Sou coerente na defesa da liberdade”, diz.

No início desta conversa, o senhor falou de boas e más notícias recebidas no fim de 2012. Que más notícias foram essas?

– A primeira foi o Valor que publicou. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse ao jornal que o partido poderia abrir mão da candidatura própria ao Senado em 2014 para facilitar alianças. Ora, a preferência é minha, pretendo me reeleger. Foi uma desconsideração. “Você podia ter conversado comigo antes”, reclamei com o Rui. “Olha, Eduardo, também li uma entrevista sua em que você diz que ia ser candidato a governador, e não conversou comigo antes”, foi a resposta do Rui.

– E a outra preocupação?

– A bancada do PT no Senado rejeitou minha aspiração de ser presidente da Comissão de Economia, a CAE.

Já em 2011, Suplicy abriu mão da presidência da CAE em favor do senador Delcídio Amaral (MS), que lhe disse ser candidato a governador em 2014 e exercer a presidência da segunda mais importante comissão da Casa, nos primeiros dois anos da atual legislatura, ajudaria em sua campanha. “Tá bom”, teria respondido Suplicy. “Então fico no segundo biênio”. Em dezembro de 2012, Lindbergh Farias (RJ) procurou Suplicy para dizer que também pretendia ser governador. Propunha, então, ser o presidente neste ano e Suplicy o seria no próximo. Suplicy ponderou que, pelos seus conhecimentos de economia, e por ser o mais antigo senador do PT – foi o único senador petista eleito em 1991 -, seria justo presidir a CAE. Mas concordaria em ser presidente em 2014. Na reunião da bancada, foi lembrado o dispositivo regimental que estabelece que os cargos nas comissões têm duração de dois anos – os partidos, se quiserem, podem flexibilizar a exigência – e Lindbergh foi o escolhido para o biênio. “Somos 12 senadores do PT. Perdi por dez a dois. Só Paulo Paim [RS] votou em mim.”

– Qual foi sua reação?

– Fiquei muito entristecido. E pensando: será que é alguma diretriz do partido? Será que tem a ver com a eleição do ano que vem? O que aconteceu é que desde esse dia comecei a tossir muito. Diria até que a minha pneumonia teve a ver com isso. [Ri] O médico disse que ocorre às vezes no impacto da separação de casais. É a chamada “broken heart single”, síndrome do coração partido. No meu caso, pulmão.

– Pode ter sido uma segunda derrota no tapetão. Mas agora o senhor está sob o assédio da Marina…

– Da Marina Silva fui companheiro, amigo. Quando ela saiu por conta própria do PT, lhe disse que ficaríamos juntos, dialogando, lutando por propósitos comuns. Já sugeri a Marina que coloque a renda básica da cidadania nos objetivos de seu partido, é o que acontece com os Partidos Verdes da Europa. Quando a Heloisa Helena foi expulsa do PT, em 2005, votei contra a expulsão. Devo às duas também a gratidão por terem me oferecido conforto quando eu e Marta nos separamos, em 2001.

– Isso o leva a cair na Rede?

– Sou defensor da fidelidade partidária. Ingressei no PT por acreditar nos objetivos de construção de uma sociedade mais justa, com democracia, garantia de liberdade de expressão, pluralidade de partidos. É o que está no nosso manifesto de fevereiro de 1980. Quantas vezes ouvi pessoalmente do presidente Lula que para nós, do PT, a questão ética é fundamental! Continuo a lutar por isso e dentro do PT. Digo mais, já tenho candidato a presidente em 2014. É a presidente Dilma.

 

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