Leilão do território

Temer ameaça soberania com venda de terras ao estrangeiro

As iniciativas do governo, segundo a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), "são uma forte agressão à soberania nacional, com desdobramentos claros na soberania alimentar, na gestão estratégica de recursos naturais, da biodiversidade, da água e, inclusive, da proteção de nossas fronteiras"
Temer ameaça soberania com venda de terras ao estrangeiro

Foto: Divulgação

O ataque ao patrimônio nacional começou pelo petróleo, avançou para a engenharia e o parque industrial, atingiu o agronegócio e agora ameaça o território brasileiro. Um substitutivo a projeto que tramita na Câmara dos Deputados pretende alterar o limite de 100 mil hectares por investidor, com possibilidade de arrendamento de mais 100 mil hectares, previsto por lei. Fechado com o governo, o deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG), desengavetou o projeto – PL 4952/2012 – que trata da venda de terras a estrangeiros, em tramitação na Câmara em regime de urgência há cerca de um ano e meio.

O debate sobre a venda de terras não é de hoje, vem desde 1994, quando a AGU (Advocacia Geral da União) não acatou o §1º, da Lei nº 5.709, de 1971, no texto da Constituição Federal de 1988. A partir da interpretação da AGU, as empresas brasileiras controladas por capital estrangeiro foram liberadas das restrições previstas na lei, abrindo as portas para a venda ilimitada de terras a estrangeiros. O texto da lei regulamenta a aquisição de imóvel rural por estrangeiro residente no País ou pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil.

O objetivo do governo é rever a decisão da Advocacia-Geral da União (AGU)  que, em 2010,  reverteu a posição adotada anteriormente e suspendeu a venda de terras para estrangeiros. Na época,  o governo da presidenta Dilma Rousseff afirmou que pretendia “assegurar a soberania nacional em área estratégica da economia e o desenvolvimento”.  O parecer da AGU limitando a aquisição de terras agricultáveis de grande porte por estrangeiros voltou a considerar a Lei 5.709 de 1971.

[blockquote align=”none” author=””]Segundo o Banco Mundial (Bird), desde então (após a crise de 2008) mais de 65 milhões de hectares de terras dos países do continente sul-americano já foram “tomados” por bancos e empresas.[/blockquote]

A nova investida do governo golpista contra o território nacional ignora as advertências e organismos internacionais, como a FAO e o Banco Mundial, e aposta em vender terras sem qualquer controle nacional. Diante das novas ameaças predatórias de países e empresas estrangeiras, a biodiversidade, a terra e água assumem dimensões estratégicas que devem ser defendidas em todas as instâncias, alerta estudo da assessoria técnica da Bancada do PT no Senado. O Brasil detém 13% da água doce do mundo, terras agriculturáveis abundantes e cerca de 22% da biodiversidade planetária.

Diante desse quadro, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), solicitou a realização de Audiência Pública com representantes do Ministério da Defesa e dos Comandos Militares, com objetivo de debater a venda de terras a estrangeiros. As iniciativas do governo, segundo Gleisi, “são uma forte agressão à soberania nacional, com desdobramentos claros na soberania alimentar, na gestão estratégica de recursos naturais, da biodiversidade, da água e, inclusive, na proteção de nossas fronteiras”. A senadora ressalta que “na contramão da advertência dos organismos multilaterais, o governo Temer pretende agora vender terras a estrangeiros sem maiores regras prudenciais”,

A pressão pela venda de terras em diversas regiões do mundo, em especial na África e na América do Sul, cresceu a partir da crise financeira de 2008, com a reorientação do capital especulativo para esses ativos. Segundo o Banco Mundial (Bird), desde então mais de 65 milhões de hectares de terras dos países do continente sul-americano já foram “tomados” por bancos e empresas. A estratégia final é controlar o mercado de alimentos, a produção de novos medicamentos, as substâncias derivadas da biodiversidade e, também, assegurar acesso às reservas de água doce.

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