Tombini, no Senado, esvazia a tese de que economia estaria vulnerável

Presidente do Banco Central esclareceu dúvidas dos parlamentares e teve a oportunidade de reforçar, com dados e autoridade, a confiança na economia brasileira

Presidente do BC fez apresentação para
informar sobre a real situação do País
(Agência Senado)

O presidente do Banco Central, ministro Alexandre Tombini, participou na manhã desta terça-feira (18) de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), em atendimento a um requerimento feito pelo líder do Governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), para traçar um panorama da economia brasileira, informar sobre as perspectivas de crescimento da economia, sobre o controle da inflação e a sobre inserção do Brasil no cenário mundial cada vez mais competitivo. Tombini comentou sobre contas de cadernetas de poupança inativas por mais de uma década da Caixa Econômica Federal e minimizou um estudo – no mínimo suspeito – do banco central norte-americano, o Federal Reserve, que indicava o País como a segunda economia mais vulnerável após a Turquia. “É perda de tempo reagir”, afirmou.

Tombini iniciou sua apresentação dividindo-a em três partes: sobre a economia internacional, que ainda passa por um período de transição, embora dê sinais de recuperação; sobre a economia brasileira, cujo crescimento do PIB de 2,3% no ano passado surpreendeu – e calou – os pessimistas, enaltecendo que o desempenho teve motivação pelos investimentos numa maior escala, ante um movimento menor do consumo das famílias; e, por fim, sobre o comportamento dos preços. “Devemos manter o patamar de crescimento do ano passado, com melhoria do investimento em infraestrutura e da qualidade da mão de obra”, afirmou. No terceiro ponto, identificou que a inflação pode ficar pressionada por alimentos in natura, embora a tendência seja cada vez mais forte de ocorrer uma queda para níveis próximos ao centro da meta da inflação, de 4,5%, porque esses efeitos serão assimilados.

“Há um choque temporário que deve a ser revertido nos próximos meses, mas a política monetária continua vigilante”, afirmou o presidente do Banco Central ao explicar que as secas provocaram pressão nos preços dos grãos e as chuvas, por sua vez, afetaram os preços dos produtos in natura.

Vulnerabilidade
Tombini apresentou aos senadores os mesmos fundamentos que mostrou ontem ao secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jacob Lew, e que esvazia a tese de que o Brasil tem uma economia vulnerável. O presidente do BC disse que o estudo do FED tem vários problemas. “Tive a oportunidade de falar com o secretário do Tesouro. O estudo é frágil e as informações não ajudam. Certamente os mercados responderão na direção oposta. A moeda brasileira se comporta bem, temos redução do risco país e estamos recebendo investimentos estrangeiros”, comentou, acrescentando que somente 17% da dívida pública estão nas mãos de instituições de fora e o balanço de pagamentos é saudável por ser compatível com o financiamento vindo dos investimentos estrangeiros diretos.

“O fluxo de investimento direto em fevereiro foi de US$ 9,2 bilhões e nos primeiros oito dias úteis de março já chegou a US%$ 4,5 bilhões. O Brasil deve receber este ano US$ 65,3 bilhões em investimentos diretos. Esses fundamentos são sólidos e o Brasil tem respondido de forma clássica e apertando a política monetária para segurar a inflação. E temos usado colchões para suavizar os ajustes”, completou.

Segundo Tombini, a depreciação do real deverá propiciar um ganho para a indústria e para a agropecuária, setor cujo PIB cresceu 7% em 2013, enquanto que o setor de serviços tende a ser beneficiado com os eventos da Copa do Mundo e das Olimpíadas. “Tivemos uma inflexão e a produtividade da indústria aumentou por conta do resultado das políticas públicas. Por isso temos que aumentar a produtividade e a competitividade para aproveitar as oportunidades. Há, portanto, sinais de mudança na composição da demanda e da oferta agregada e a velocidade dessas mudanças dependem do fortalecimento da confiança das empresas e das famílias”, disse.

Ao falar da necessidade de aumentar a qualidade da mão de obra, Tombini citou o Pronatec, programa do governo federal de qualificação, sucesso absoluto, assim como o programa Ciência sem Fronteiras, marco pelo qual estudantes brasileiros da área de exatas agregam conteúdo pelo estudo nas melhores universidades do mundo. “O Brasil tem potencial de ganho de produtividade enorme e o governo tem criado as condições para que isso se concretize”, enfatizou.

Na área de crédito, o Banco Central também nota que a inadimplência mantém um ritmo de queda e há uma desaceleração da oferta de crédito para o consumo, em parte motivada pelos bancos, mais seletivos, e, em parte, motivada pelas famílias, que recorrem menos a esse instrumento. “Esse comportamento aponta a educação financeira das pessoas e a expansão do crédito ocorre com maior qualidade e menor aos tomadores”, disse.

Nas intervenções, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pediu a Tombini para explicar a diferença entre a dívida líquida do País, que caiu de 64% em dezembro de 2002 para 33% atualmente, e a dívida bruta. Segundo a parlamentar esse tema se tornou coqueluche recentemente entre os analistas que, conforme dizem, que estaria elevada. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), pediu ao presidente do BC que comentasse o projeto 99/2013, proposta que muda os indexadores das dívidas estaduais e municipais com a União, já que há um mês o governo apontou preocupação com a possibilidade de a alteração abrir espaço para o crescimento dos gastos públicos.

À senadora Gleisi Hoffmann, Tombini disse que a dívida líquida em relação ao PIB, que era de 49% em 2009, no auge da crise internacional, manteve a trajetória de queda e hoje está em 33,8%. No caso da dívida bruta, se for retirada do montante o volume de US$ 377 bilhões das reservas internacionais, haverá uma expressiva queda do percentual, que também não ultrapassa os 50% do PIB. “Temos um quadro bom para a dívida bruta também. Caiu muito em 2010, subiu em 2011 e 2012, e caiu no ano passado. O que se trata aqui é outra dimensão: a sustentabilidade da dívida o governo tem porque a política fiscal converge para a neutralidade”, disse. Ao senador Suplicy, o presidente do BC afirmou que a discussão do projeto que muda os indexadores não é de sua área – é do Ministério da Fazenda -, mas ele disse ter preocupação com o arcabouço montado no País nos três níveis de governo quando se fala de cumprimento de superávit primário de todas as esferas, estados e municípios, por exemplo.

Poupança
Ao senador Agripino Maia (DEM-RN), que questionou o encerramento de 496 mil contas de poupança irregulares na Caixa Econômica Federal. A pergunta seria resultado da publicação de reportagem em revista semanal, texto no qual constava a palavra confisco. O presidente do Banco Central lembrou que o procedimento é previsto e, inclusive, incentivado quando por um longo período não há movimentação por parte dos titulares. “O título da matéria é inadequado. Não houve o que a matéria informou até porque todas as determinações desse processo de saneamento e da reversão do que ocorreu lá atrás (2010) foram atendidas. O BC tomou providências como regulador e continua em função dos controles internos. Afirmo que não há prejuízo para qualquer depositante”, finalizou. O senador da oposição, Agripino, mostrou-se satisfeito com a explicação de Tombini e ainda elogiou: “o BC foi rápido e exemplar na correção de rumo”.

Marcello Antunes

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