Viabilidade do futebol brasileiro depende de profundas mudanças

Viabilidade do futebol brasileiro depende de profundas mudanças

Movimento Bom Senso, jornalistas esportivos e CBF discutiram propostas de reformulação do atual modelo de gestão da modalidade no País. 

Audiência discutiu alteração do atual
calendário e instituição do fair play fnaiceiro

Três dias após a reunião realizada entre a presidenta Dilma Rousseff e os representantes do movimento Bom Senso Futebol Clube, que propõe alterações e melhorias na estruturação do futebol brasileiro, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) realizou audiência pública para discutir duas das propostas apresentadas pelos jogadores: a alteração do atual calendário e a instituição do fair play financeiro.

Calendário
Duas das principais reivindicações dos jogadores do movimento em relação ao atual calendário das competições é o excesso de jogos para os maiores clubes do País, atualmente podendo atingir 85 jogos numa só temporada, e o número reduzido de compromissos dos clubes de menor expressão, podendo atuar apenas 15 vezes em um ano.

Como exemplo, o jornalista dos canais ESPN, Mauro Cezar Pereira apresentou a estrutura atual do campeonato inglês. Para ele, apesar de não existir um mundo ideal, essa seria a solução que mais se adequaria a realidade brasileira.

“O Brasil perdeu o bonde da história, quando, em 1987, teve a oportunidade de fundar a liga nacional, organizada pelos clubes, a partir da experiência da Copa União. Alguns anos depois a Inglaterra comprou a ideia e hoje serve de exemplo de gestão”, disse. Atualmente, a Premier League é a liga mais rica do mundo.

No atual formato, o futebol inglês funciona estruturado em oito divisões, sendo que, a FA, “CBF da Inglaterra”, gerencia as competições da quinta a oitava divisão, com competições organizadas de forma regional para baratear os custos logísticos dos clubes de menor porte. Todas as competições, da primeira a oitava divisões, possuem patrocínios.

Para o goleiro do Palmeiras, Fernando Prass, os atuais níveis de audiência das transmissões do futebol nacional e o baixo índice de lotação dos estádios demonstram claramente a necessidade de se alterar o rumo do futebol brasileiro. “O Bom Senso não propõe uma fórmula fechada para solucionar os problemas do futebol no País. A nossa intenção é estimular o debate”, disse.

Com relação ao excesso de jogos disputados por algumas equipes, uma das reclamações do movimento Bom Senso, o representante da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Vilson Ribeiro de Andrade, informou que, em 2013, o jogador que mais atuou no País, atuou 51 vezes. Como comparação, na temporada 2013/14, o Liverpool, vice-campeão da Premier League atuou 43 vezes. O último colocado da sétima divisão da Inglaterra, o Droylsden, atuou por 47 vezes. Na atual temporada, caso o Botafogo atingisse as finais de todas as competições previstas em seu calendário – Libertadores, Carioca, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro -, chegaria a 85 jogos ao final da temporada.

Em resposta ao representante da CBF, o goleiro Fernando Prass ressaltou que não se pode analisar friamente o número de jogos disputados informando por Vilson. Para ele, o importante é analisar o motivo dele ter disputado essa quantidade. “Por que esse atleta jogou apenas 51 partidas no ano? Por conta de lesões causadas pelo excesso de jogos?”, questionou.

Fair play financeiro
Outra proposta apresentada pelo Bom Senso e discutida pelos convidados foi criação de regras claras que possibilitem a criação de um sistema de controle das finanças dos clubes em que se cumprem requisitos de gestão orçamentários pré-definidos visando garantir a sustentabilidade do negócio para o bem-estar do desenvolvimento do mercado.

Um dos caminhos apontados é a aprovação de uma lei de responsabilidade fiscal para o esporte, com refinanciamento das dividas dos clubes. O texto do Projeto de Lei (PL 6753/2013), conhecido como Proforte, aguarda apresentação de novo texto para ser analisado na Câmara.

Uma das possibilidades é tornar obrigatório que clubes e entidades esportivas apresentem certidões negativas de débitos com a União para poderem participar de competições oficiais.

Sérgio Gomes Velloso, representante do Ministério dos Esportes, ressaltou que, apesar da disposição do governo em auxiliar nesta questão, os temas abordados são complexos e merecem cuidado na discussão e na implantação das mudanças. “Os resultados dessas alterações devem surgir no médio e longo prazo”.

Acerca do fair play financeiro, todos os convidados foram unanimes ao afirmar que o clube que não cumprirem os requisitos ou que mantiverem gestões temerárias, inclusive apresentando déficit em seguidas temporadas sejam punidos desportivamente.

Proposta de Suplicy ajudaria atletas

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Senador quer acabar com a
reeleição ilimitada de
dirigentes

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) explicou aos convidados, que uma Proposta de Emenda à Constituição, de sua autoria, poderia ajudar numa das demandas do Bom Senso. Ao final da reunião entre a presidenta Dilma e os representantes do Bom Senso, uma das demandas apresentadas foi a garantia de participação dos atletas nas assembleias das entidades, algo parecido com o que foi aprovado na Medida Provisória (MP 620/2013), que teve a senadora Ana Rita (PT-ES) como relatora.

A PEC 12/2012, de Suplicy, que se encontra na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), aguardando relatório do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), visa limitar a autonomia das principais entidades esportivas de acordo com os interesses da sociedade e tem como principal efeito acabar com a reeleição ilimitada de dirigentes e presidentes.

O senador também parabenizou a coragem do grupo e o nível de organização dos atletas que se uniram em busca de melhorias para um importante setor da economia brasileira.

“Eu cumprimento a iniciativa daqueles que fundaram o movimento Bom Senso e acredito que eles conseguiram o respaldo necessário para melhorar aquilo que é necessário para se garantir, em definitivo, o respeito aos atletas que trabalham no setor”, enfatizou.

Rafael Noronha

Conheça o texto da PEC 12/2012, do senador Eduardo Suplicy

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