2×1 para o BC contra a inflação de 2012 – Por Eduardo Campos

A substancial deterioração do cenário internacional é fato e está claro que os reflexos serão de longo prazo. O ponto que ainda desperta paixões e discussões acaloradas é a convergência da inflação em 2012.

O centro da meta de 4,5% não está no horizonte, mas cresce a chance de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar mais próximo dos 4,5% do que do teto de 6,5%.

Além dos ventos desinflacionários vindos do exterior, o comportamento das commodities agrícolas, dos preços administrados e até mesmo dos serviços também deve conspirar a favor da autoridade monetária.

O sócio da Platina Investimentos, Marco Franklin, acompanha de perto o preço dos bens agrícolas e aponta que a valorização que esse grupo mostrou entre o segundo semestre de 2010 e o começo de 2011 não voltará a acontecer.

De fato, diz Franklin, os principais produtos, como soja, trigo e milho, saíram de altas de 22% a 70% no comparativo anual para variações negativas ou elevações de preço bem menos significativas.

“O que foi um fator de pressão ao longo de 2011 será uma descompressão agora em 2012. E isso é fato”, diz o especialista.

Mas nem tudo é notícia boa no front de inflação em 2012.

O “caroço” inflacionário a ser digerido é o reajuste do salário mínimo, que em base real deve ficar ao redor de 7,5%.

“Essa crise vai ajudar o placar da inflação a não ficar no um a um, pois é possível que ela amplifique a queda nos preços agrícolas e pegue, também, os preços industriais, como minério de ferro”, diz Franklin.

Além desses dois fatos praticamente consumados, outros vetores favorecem a redução das pressões inflacionária ao longo do próximo ano.

As eleições municipais devem resultar em reajustes menores ou até manutenção de tarifas de transporte urbano.

Está prevista uma revisão do fator de produtividade no setor de energia. O que pode resultar em desconto nas contas de luz.

E agora no fim de novembro, lembra Franklin, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) promove uma revisão do orçamento familiar (POF), com possibilidade de mudança no peso de alguns núcleos de gastos.

O resultado esperado dessa reavaliação também é favorável à queda nos preços. Saúde e transporte ganham peso no orçamento, enquanto educação, que deve seguir com reajustes elevados, perde participação.

Tomando como base essas premissas, Franklin faz um exercício para mostrar como a inflação está mais inclinada a 5% do que a 6,5% em 2012.

A base é o IPCA-15 de outubro, que mostrou inflação de 7,11% no acumulado em 12 meses. Prevendo que o grupo alimentação suba 4,5% e não 9% como em 2011, essa leitura já cairia para cerca de 6%.

Se, além dos alimentos, a projeção levar em conta um menor reajuste de preços administrados – de 4%, contra os atuais 6,43% -, o índice em 12 meses recuaria a 5,4%.

Somando ainda a temida inflação de serviços, que recuaria de 8,9% para cerca de 8% (a queda projetada é menor justamente em função do ajuste do salário mínimo), o IPCA recuaria para a casa de 5,12%.

“Esse comportamento dos preços ajuda o BC, que no fim das contas toma as decisões corretas. O mercado avalia que a crise existe e será mais prolongada. Dentro desse quadro não tem mais ninguém reclamando do plano dele”, nota Franklin.

O IPCA fechado para o mês de outubro, que seria divulgado hoje, vazou ontem no site do IBGE – ficou em 0,43%. Segundo, a instituição, uma falha no sistema de publicação permitiu que alguns usuários tivessem acesso antecipado aos dados.

No mercado de juros futuros, os contratos tiveram breve ajuste de alta, mas o aceno da curva ainda é de Selic de um dígito em 2012. Para um operador, o mercado está preso em uma “armadilha”. Ainda faltam três semanas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o que abriria espaço para algum ajuste de alta mais firme.

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No entanto, diz o especialista, com esse cenário de grande incerteza abarcando a Europa, não dá para jogar contra o viés de baixa dos juros futuros.

Em meio a todo nervosismo real, um episódio no mínimo curioso adicionou tensão indevida ontem aos mercados. A agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou e elevou a nota “AAA” da França em questão de minutos. O site da instituição “piscou” um corte de rating, mas logo na sequência a S&P desmentiu.

De acordo com a agência, a disseminação de tal nota sobre a França foi um “erro técnico” e as causas desse erro estão sendo investigadas. Será que tem alguém com o dedo no gatilho?

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