As previsões sobre a “morte” e o “declínio” do PT começaram já em 1980, ano da fundação do partido.
Na época, os “analistas” da grande imprensa vaticinavam que a “agremiação quixotesca” teria vida curta. Onde já se viu? Fundar um partido dos trabalhadores em plena ditadura militar? “Não vai dar certo”, afirmavam com toda segurança. Entretanto, o PT não só não morreu, como começou a crescer cada vez mais, atraindo para o seu campo trabalhadores, intelectuais, artistas, estudantes e todos aqueles que queriam democracia e uma nova perspectiva política para o Brasil.
Como o PT não morria e só crescia, apesar da torcida e da campanha contrária das oligarquias e da mídia, passaram a dizer que ele seria sempre um partido minoritário. Seria um partido que atrairia, no máximo, uns 20% do eleitorado e jamais chegaria o poder. “Não passa disso”, diziam os “analistas”. Mas aí o PT chegou ao poder. Então, disseram que o PT fracassaria de forma monumental. Seria como “catapora, que só dá uma vez”. Será um “desastre”, afirmaram os “formadores de opinião”. Porém, para desgosto e frustração das oligarquias brasileiras, o PT fez o melhor governo da História recente do Brasil e conseguiu ganhar as eleições 4 vezes seguidas, façanha política que nenhum partido conseguiu. Precisaram de um golpe de Estado para tirar o PT do poder.
Agora, como sempre, voltam a dizer, como fazem desde 1980, que o partido está em “declínio”, em “crise” ou praticamente morto.
Tudo porque nessas últimas eleições do dia 9 para o PED (Processo Eleitoral Direto) do PT, “apenas” 250 mil militantes votaram, ao passo que, em 2013, esse número chegou a 400 mil. Ora, em primeiro lugar, comparar 2013 com 2017 é comparar alhos com bugalhos. Em 2013, vivíamos outro momento político no Brasil. O partido lutava em defesa dos legados de Lula e Dilma e se articulou para combater os intensos ataques ao governo e ao partido naquele momento histórico de mobilizações gerais pelo país, que se faziam com o apoio de parte da mídia. Estávamos apenas no início da campanha que resultou no golpe de 2016.
Neste ano, depois de um golpe de estado; depois do mais intenso ataque aos seus principais quadros políticos, como o ex-presidente Lula; depois de enfrentar a mais intensa campanha midiática da imprensa brasileira contra um governo democraticamente eleito pelo povo; depois de resistir à maior campanha de desconstrução da imagem de um partido político no Brasil; depois de se contrapor aos interesses maiores do capitalismo nacional e internacional; depois de ver uma aliança política se desfazer por interesses menores; e depois de presenciar o vice-presidente da chapa eleita trair acintosamente a presidenta honesta para assumir o seu cargo, retirando o apoio de seu partido que dava sustentáculo ao governo e liderando o processo de impeachment sem crime de responsabilidade, ainda tivemos 250 mil votos.
Trata-se, nas circunstâncias atuais, de uma façanha extraordinária. Há de se lembrar que a Lava a Jato, que sempre atuou seletivamente contra Lula e o PT, inclusive com escutas e conduções coercitivas ilegais e uma sórdida campanha de difamação baseada em meras convicções de procuradores e juízes partidarizados, faz, com o auxílio da mídia neoudenista, estragos constantes e injustos à imagem do partido que mais combateu a corrupção no Brasil.
Porém, sabemos que a questão principal não é essa. A questão essencial é: que outro partido consegue reunir 250 mil militantes para eleger diretamente a sua direção? Resposta: nenhum.
Na realidade, todos os outros grandes partidos do Brasil acompanham as limitações e características negativas do sistema político brasileiro.
Com efeito, as grandes agremiações políticas brasileiras foram formadas “de cima para baixo” e têm escasso grau de inserção orgânica na sociedade, bem como reduzido nível de definição política-ideológica. Trata-se, na realidade, de grupos políticos criados para atender, de forma muitas vezes imediatista e segmentada, interesses específicos de pessoas ou grupos de pessoas. No Brasil, os partidos são, em geral, estruturas frágeis, com baixo nível de enraizamento social, que buscam a inserção no aparelho de Estado (não a inserção social) para sobreviver e obter a representação de seus interesses imediatos.
Contudo, o PT se constitui numa notável exceção a essa regra.
Ao contrário de muitos partidos brasileiros, que foram criados por grupos políticos dominantes cujos interesses já estavam incrustados no aparelho de Estado, o Partido dos Trabalhadores tem a sua origem na luta específica da classe operária por melhores condições de vida e na luta mais abrangente de resistência à ditadura e pela redemocratização do Brasil, que reuniu diferentes organizações políticas e militantes de movimentos sociais.
Essa formação histórica única lhe conferiu algumas características diferentes.
A primeira tange à pluralidade. Com efeito, o PT sempre abrigou muitas e distintas organizações e tendências político-ideológicas, que nele ingressavam e ao longo do tempo acabaram por considerá-lo seu partido estratégico, bem como os diversos interesses de sindicatos e movimento sociais. Inicialmente, esse conjunto de forças tinha como denominador comum a luta contra a ditadura e uma plataforma democrática (as eleições livres e diretas, a convocação de uma assembleia constituinte, o fim da repressão política, censura e a reconstrução do estado de direito democrático). Paralelamente, as lutas sindicais e populares e os novos movimentos sociais sempre foram uma dimensão fundamental do novo projeto partidário, especialmente em um país que carregava uma das piores padrões de distribuições de renda de toda economia internacional. Em um período histórico posterior, o denominador comum foi a resistência à implantação do neoliberalismo tardio no Brasil.
Essa pluralidade tornou o PT um partido de muitos debates, que sedimentava as suas posições fundamentais a partir das discussões que se davam em suas bases.
A segunda característica diz respeito ao compromisso com a democracia e seu aprofundamento. De fato, o amálgama que uniu e estruturou o PT foi justamente a luta contra a ditadura e pela democratização do país. Por isso, o PT definiu-se, desde o início, como um partido socialista e democrático, que buscava não apenas uma democracia institucional, mas uma democracia substantiva que assegurasse, a todos os cidadãos, o pleno usufruto dos direitos políticos, sociais e econômicos. É por tal razão também que, desde 2001, o partido faz eleições diretas para eleger os seus quadros dirigentes.
Mas a principal característica diferenciadora do PT tange ao fato incontestável que o PT é o partido que sempre está ao lado do povo, ao contrário dos outros grandes partidos do Brasil.
Agora mesmo, é o PT que, junto com seus aliados, como o PCdoB, PDT, parte do PSB, etc., está liderando a luta pela restauração da democracia do Brasil, atingida pelo golpe de 2016, e pela manutenção dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores do Brasil, fortemente ameaçados pela agenda ultraneoliberal e ultraconservadora do governo ilegítimo.
É por esse motivo que o PT e seu candidato (Lula) não param de crescer nas pesquisas de opinião, ao passo que os golpistas antipovo definham cada vez mais. Na luta pela democracia, contra a extinção dos direitos dos trabalhadores, contra a extinção, na prática, das aposentadorias, contra a venda do pré-sal e do Brasil, o PT, não tenham dúvidas, tende a aumentar muito mais a sua popularidade até 2018. Mesmo com toda campanha sórdida contra esse grande partido do povo, a população saberá reconhecer, no próximo pleito, quem ficou do lado dela e quem a desprezou e agrediu, quem tentou desfazer o Brasil para Todos que o PT fez pela primeira vez na história do país.
O coração do PT bate no mesmo ritmo do coração do povo. Não há campanha de desinformação que conseguirá separá-los. No firmamento político do Brasil, haverá sempre a grande estrela brilhante de esperança chamada PT.
250 mil é um bom número. No final de 2001, um ano antes de assumir o poder, o PT realizou suas primeiras eleições diretas para a escolha de seus dirigentes. Resultado: 250 mil votos.
Em 2018, ou antes disso, serão, como em 2002, dezenas de milhões de votos para o partido mais querido do Brasil. Até lá, o PT, o partido da democracia popular, estará ganhando por “apenas” 250 mil votos.
250 mil a zero.
* Wilmar Lacerda é Membro do Diretório Nacional do PT, suplente de senador e, atualmente, exerce a Chefia de Gabinete da Liderança do PT no Senado