O escândalo da “Abin paralela”, esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência, teve mais um capítulo divulgado nesta sexta-feira (2/2). Uma reportagem do Jornal da Band informou ter obtido os nomes de parlamentares e autoridades monitoradas de forma criminosa, entre eles os senadores do PT Humberto Costa (PE) e Rogério Carvalho (SE).
Ambos fizeram parte da CPI da Covid, em 2021, que revelou uma série de crimes cometidos no governo Bolsonaro durante a pandemia.
Além deles, também teriam sido vítimas da arapongagem outros senadores e senadoras que participaram do colegiado, todos opositores de Bolsonaro: Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Simone Tebet (MDB-MS) e Soraya Thronicke (na época, União Brasil-MS).
Nas redes sociais, Rogério Carvalho destaca que denunciava estar sendo vítima de espionagem já naquela época.
“Durante a CPI da Covid, denunciei no plenário do Senado que estava sendo vítima de espionagem. Hoje, a imprensa divulga lista dos parlamentares espionados e lá está o meu nome conforme eu havia denunciado. Agora, que ocorram as punições para que fatos dessa natureza jamais se repitam”, disse o parlamentar.
Já Humberto Costa gravou um vídeo dizendo ter recebido a informação com “absoluta indignação” e pede que todas as informações sobre os parlamentares espionados sejam enviadas ao Congresso Nacional.
“Até porque, além de um processo desses representar um crime contra a privacidade e liberdade individual, é um crime, acima de tudo, contra o exercício democrático do mandato parlamentar. Irei até as últimas instâncias na Justiça para que seja esclarecido todo esse processo de espionagem e responsabilizadas todas as pessoas que deram causa a essa situação”, disse.
Segundo as agências de notícias, dossiês e documentos produzidos pela Abin paralela teriam sido impressos e entregues ao Palácio do Planalto durante o governo Bolsonaro, de acordo com as provas obtidas pela Polícia Federal (PF).
As investigações apontam que o monitoramento ilegal, feito por meio do programa Firstmile, era comandado pelo agora deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), delegado da PF e ex-diretor da Abin. Mas a cabeça do esquema seria Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro e filho do ex-presidente. Ambos foram alvos de operações recentes de busca e apreensão.
Outros monitorados
A reportagem da Band aponta que os investigadores da Polícia Federal têm sido minuciosos. Segundo a emissora, eles tiveram acesso aos números dos telefones rastreados, não diretamente aos nomes dos espionados. Por isso, esse levantamento é demorado: foram mais de 60 mil acessos pelo programa espião.
Governadores também foram alvos da Abin paralela, como João Doria (na época, do PSDB), eleito com o apoio de Bolsonaro no estado de São Paulo, e Camilo Santana (PT), que governou o Ceará e atualmente é ministro da Educação e senador licenciado.
Segundo fontes da apuração, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso – hoje, presidente da Corte – também foi monitorado. Dessa forma, ele se soma a outros dois ministros da Corte na lista: Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes.
Além deles, também foram monitorados o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e os ex-deputados Rodrigo Maia (então presidente da Câmara) e Alexandre Frota.
Outras autoridades espionadas incluem até mesmo aliados de Bolsonaro, como os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação), Anderson Torres (Justiça) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e o antecessor dela, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.