A Polícia Federal confirmou que Bolsonaro promoveu reuniões com assessores e comandantes das Forças Armadas nos dias 19 de novembro e 7 e 9 de dezembro para revisar e finalizar a minuta do golpe, mantendo nela a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a convocação de novas eleições. Bolsonaro não só sabia da existência da minuta do golpe como também fez ajustes no texto, confirmando a trama golpista que culminou com os fracassados atos terroristas dia 8 de janeiro em Brasília. O ex-presidente teve participação ativa nos atentados contra a democracia.
As conclusões da PF se deram a partir da checagem de registros de presença no Palácio da Alvorada e também de dados de celulares na Estações Rádio Base (ERB). O cruzamento de todas essas informações permitiu a confirmação da delação premiada, homologada pelo STF, feita pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente coronel Mauro Cid, o mesmo que, segundo a PF, mandou mensagens a um oficial do Exército evidenciando a “anuência de militares com manifestações antidemocráticas” na frente de quartéis.
Em resposta a um oficial do Exército que disse estar preocupado com a recomendação do procurador da República, Fabiano de Moraes, para que fosse desmontada a estrutura usada por manifestantes golpistas que acampavam em frente a uma unidade do Exército em Caxias do Sul (RS), Cid escreveu:
“Cara, vou ser bem sincero contigo. Tá recomendado… manda se foder! Recomenda… está recomendado. Obrigado pela recomendação (…) Eles [o MPF] não podem multar. Eles não podem prender. Eles não podem fazer porra nenhuma. Só vão encher o saco. Mas não vão fazer nada, não“, disse Cid em áudio transcrito pela PF, obtido e divulgado pelo blog.
Todas as informações foram reveladas quarta-feira, 14, pela jornalista Andreia Sadi em seu blog no site G1, que teve acesso a documentos da PF cujas investigações confirmam que o ex-presidente promoveu reuniões de apresentação do decreto golpista a militares, também investigados por tentativa de golpe de Estado.
“A casa caiu: PF confirma dados de Cid sobre minuta do golpe com registros no Alvorada e celulares”, postou no X o deputado federal Rubens Otoni (PT-GO), junto com matéria do site Diário do Centro do Mundo (DCM).
O documento foi “discutido com Bolsonaro na residência oficial do então presidente da República, após a derrota nas eleições de 2022. Em áudio, ex-braço-direito de Bolsonaro Mauro Cid advertiu o comandante do Exército Freire Gomes que, sem ‘incendiar a força’, o ‘status quo’ se manteria”, escreveu a jornalista.
“Incapaz de refutar a montanha de provas de sua ação golpista (…) Bolsonaro é pai da mentira, filho do ódio, é veneno que só a verdade, a justiça e a democracia podem neutralizar”, postou a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) sobre uma entrevista ‘encomendada’ pelo ex-presidente à TV Record.
Cronologia da tentativa de golpe
De acordo com a publicação de Andreia Sadi, a PF confirmou que no dia 19 de novembro, exatamente dois dias após o segundo turno da eleição de 2022, a minuta foi apresentada a Bolsonaro no Palácio do Alvorada, onde deram entrada, na mesma data, o assessor da presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, o advogado Amauri Saad e o padre José Eduardo de Oliveira e Silva. Os nomes dos três constam nos registros de controle e de saída do Palácio e os dados dos celulares deles aparecem no histórico da Estação Rádio Base (ERB) da região.
A minuta, segundo a PF, detalhava diversos “fundamentos dos atos a serem implementados” a partir do que consideravam “interferência do Judiciário no Poder Executivo”. Mauro Cid delatou à PF que “nesse encontro, Bolsonaro teria determinado a Martins alguns ajustes na minuta deste decreto, permanecendo apenas a prisão de Moraes e a realização de novas eleições”, revelou o G1.
No dia 7 de dezembro Filipe Martins voltou ao Alvorada com a minuta com ajustes feitos a pedido de Bolsonaro. A nova versão, segundo o documento da PF divulgado pelo G1, “excluía as prisões de Gilmar Mendes e Rodrigo Pacheco, mas mantinha a de Alexandre de Moraes, além da ordem de realização de novas eleições”.