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Beto: inflação sob controle, mas atenção para a carestia

Senador petista defende diálogo entre instituições, governo do Estado do Pará e governo federal para impedir eventuais riscos para a segurança alimentar da população

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Beto: inflação sob controle, mas atenção para a carestia

"IPCA da alimentação no domicílio apontou que não podemos relaxar na atenção aos riscos latentes de carestia no Brasil", diz senador Beto Faro

Ao divulgar os resultados da inflação de janeiro, medida pelo IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IBGE deu uma boa notícia e outra nem tanto aos brasileiros. O índice geral, de 0.42%, representou queda de 25% em relação ao IPCA de dezembro de 2023. Uma ótima notícia.

Porém, se na média, o comportamento dos preços ao consumidor confirma que a economia brasileira pode e deve contar com uma taxa de juros básicos compatível com a estabilidade dos preços, especificamente o IPCA da alimentação no domicílio apontou que não podemos relaxar na atenção aos riscos latentes de carestia no Brasil. Esta foi a notícia que preocupa, em especial, as camadas mais vulneráveis da nossa população.

Com efeito, o IBGE informou que os preços dos alimentos (nos domicílios) tiveram alta média de 1.8%. Essa taxa, de aparência “inofensiva”, principalmente para quem viveu o longo período da hiperinflação ou para quem acompanha o que ocorre com nossos vizinhos argentinos e venezuelanos, é verdadeiramente preocupante. Suponhamos a manutenção dessa taxa por 12 meses. Teríamos, então, uma inflação da comida em 2024, de 24%, com uma enorme erosão na renda das populações mais pobres. Ademais, preocupa o potencial de contaminação/dispersão dos efeitos dessa taxa nos preços da economia, em geral.

E, por representar a oscilação média dos preços de uma cesta grande de produtos, a taxa oculta a assimetria existente entre esses preços que, no caso, envolveu discrepância impactante nos preços de alimentos essenciais da nossa dieta. Por exemplo, batata, arroz e feijão figuraram na lista dos campeões na variação dos preços ao consumidor em janeiro. Para a batata, cuja inflação em janeiro foi de 29.4%, podem ser alegados fatores associados à sazonalidade. Mas, as variações elevadas nos preços do arroz e feijão, a dupla, por séculos, mais famosa, essencial e democrática dos nossos hábitos alimentares, provavelmente indiquem problemas estruturais na oferta dos produtos, tema já tratado em edições anteriores nesta coluna.

O certo é que demos estar alertas para o fato de a inflação do alimento em janeiro ter sido 4.3 vezes maior que o índice geral da inflação no mês, e 2.7 vezes maior que o acumulado nos últimos 12 meses da própria taxa da inflação do alimento (0.67%). Desde 2016 não se observava índice da inflação da alimentação no domicílio, nos meses de janeiro, maior ou igual ao 1.8%. A questão é: foi um fenômeno circunstancial, de sazonalidade, fora da curva, ou a manifestação de algo mais grave no sistema da oferta agroalimentar do país?

Se os números do IPCA de janeiro reavivaram preocupações com os riscos de carestia para a população brasileira, as notícias do IBGE foram ainda mais preocupantes para a população do Pará ou, mais exatamente, para a população da RM de Belém.

A inflação da comida na região metropolitana de Belém em janeiro foi de 3.3%. Mantida essa taxa em 12 meses teríamos uma inflação da comida em Belém, de 48% no ano de 2024.

Ainda mais desproporcional do que ocorreu no plano nacional, esse resultado foi 9 vezes maior que a inflação da comida em Belém no acumulado dos 12 meses até janeiro.

Pelo menos até 2007 onde pesquisamos no IBGE, não houve taxa da inflação da comida para o mês de janeiro, na RM de Belém, que se aproximasse da observada em janeiro passado. Destaque-se, ainda, que essa taxa de 3.3% superou em 4,4 vezes o índice geral do IPCA na RM de Belém em Janeiro (0.75%); e em 8 vezes o IPCA nacional.

Alimentos básicos para os paraenses como o açaí, arroz e feijão tiveram variação nos preços em janeiro, respectivamente, 5, 3 e 3 vezes maiores que a variação do IPCA da alimentação no domicílio. No caso da batata os preços cresceram 13 vezes mais.

Em suma, avaliamos que as instituições setoriais e da área econômica do governo do estado, deveriam proceder a uma análise aprofundada do quadro da oferta alimentar no estado; adotar as medidas cabíveis na esfera das competências do estado; e entabular diálogo urgente com o governo federal para impedir eventuais riscos para a segurança alimentar da nossa população.

Artigo originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 19 de fevereiro de 2023

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