Poder jovem – Marta Suplicy – Folha de S.Paulo
Treze anos e já é notícia no “Le Monde”. Isadora Faber, de Florianópolis, é um novo símbolo da época global, mostrando possibilidades de melhorar o nosso dia a dia por meio da internet.
Dias atrás, a história da menina que decidiu reclamar dos problemas de sua escola pública no Facebook repercutiu na imprensa e foi parar no “Fantástico”. Em menos de uma semana, sua página passou de 2.000 para quase 200 mil “curtir” na rede social.
Inicialmente, Isadora falava de problemas estruturais, como ventiladores e bebedouros quebrados. As denúncias levaram a uma reforma no prédio. Mais tarde, postou um vídeo mostrando a falta de preparo do professor de matemática – o que levou ao afastamento do docente. A iniciativa de Isadora uniu pais, alunos e professores e tem servido de inspiração para jovens e crianças de todo o país.
Há alguns meses, após a divulgação de um estudo sobre inclusão digital da Fundação Getulio Vargas, Marcelo Neri, economista, hoje presidente do Ipea, lembrou, nesta Folha, que o último dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU para 2015 discute parceria entre governos, setor privado e sociedade civil. Neri lembra que “a internet é a maior guardiã da promessa de alinhar a aldeia global, de colocar todos na mesma página”. E de mobilizar ou, pelo menos, de questionar, como ocorreu nos eventos recentes na Europa e em países árabes.
O caso de Isadora é exemplar no seu bom resultado. Ao denunciar as mazelas de sua escola, a menina criou um desafio para os educadores brasileiros: lidar com a avaliação pública feita por quem usa.
A rede mundial de computadores multiplica a potencialidade dos anseios das pessoas. Se pode ser palco para o linchamento digital, dando um novo poder inclusive para os anônimos, ela pode fazer uma iniciativa a princípio solitária, a exemplo da menina de Florianópolis, virar uma manifestação contundente e com resultados positivos para além de sua casa.
Coincidência ou não, a cidade de Isadora foi apontada pelo último “Mapa da Inclusão Digital” como a capital mais incluída e líder em banda larga. Há dez anos, o estudo da FGV era chamado de “Mapa da Exclusão Digital”. À época, 8% dos domicílios brasileiros tinham internet. Hoje, são 33% deles. O número coloca o país em 63º lugar entre os 154 países mapeados. É muito pouco e, analisado minuciosamente, o mapa comprova, também no campo da inclusão digital, o abismo de desigualdade que assola nosso país.
Hoje comemoramos o Dia Internacional da Alfabetização. O Brasil abriga analfabetos que não sabem ler e escrever, analfabetos funcionais e digitais. E milhares de Isadoras entrando para questionar e exigir.