ARTIGO

Emergência climática e agricultura, por Beto Faro

Para líder do PT no Senado, a eclosão de eventos climáticos catastróficos “fulminou as convicções até dos negacionistas mais idiotizados”

Mayke Toscano/Gcom-MT

Emergência climática e agricultura, por Beto Faro

Agricultura é uma das atividades que mais sentirá os efeitos do aumento da temperatura no Brasil

Desde logo, as nossas homenagens à população paraense no ensejo da 232ª celebração anual do Círio de Nazaré que culminará com a procissão do próximo dia 13. Pedimos à Nossa Senhora, proteção para todas e todos, e as suas bênçãos para que sigamos firmes no curso de esperanças e progresso iniciado em 2023. Impressiona termos logado a perenização de uma profissão da fé católica, que transcendeu essa dimensão e a própria religiosidade para se converter em raro fenômeno ecumênico e cultural, de grande magnitude, com efeitos na formação da identidade de toda uma população.

Que a proteção de Nossa Senhora de Nazaré se estenda às lideranças políticas mundiais para que se movam pela busca da paz entre os povos, pela superação da fome e pela minoração das vergonhosas e absurdas desigualdades em todos os cantos desse mundo. Em especial, que a padroeira dos paraenses opere o milagre de transformar a COP 30 num Ato que efetivamente repercuta na salvação do planeta do desastre climático global.

A propósito, as recentes temperaturas records e a eclosão de eventos climáticos catastróficos ou atípicos por todas as regiões do planeta, incluindo até a inundação no Saara, provam o conservadorismo das previsões anteriores do IPCC instância da ONU que fornece as avaliações regulares sobre a mudança do clima e suas consequências. A realidade fulminou as convicções até dos negacionistas mais idiotizados, e não autoriza mais as previsões de aumento da temperatura média limitada a 1.5°C. Tampouco teremos um ‘tempinho’, até o fim do século, para os cenários extremos; a crise climática está ai!

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O IPCC prevê, na atualidade, elevação média da temperatura da terra acima dos 3ºC. Para termos ideia da gravidade desse quadro, a ciência sustenta que o incremento acima dos 2°C nos levará a um mundo desconhecido e imprevisível. Sem uma grande e convergente reação da humanidade, cada vez mais teremos fenômenos climáticos catastróficos com efeitos assustadores como a elevação dos níveis do mar; migração e proliferação de pragas e doenças na agricultura; surgimento de novas espécies de insetos, bactérias, fungos; redução da disponibilidade de água. A diminuição das chuvas na Amazônia alcançará até 45%.

Duas atividades, em especial, sentirão com mais intensidade os efeitos do aumento da temperatura no Brasil: a produção de energia de fontes hídricas e a agricultura. No caso agrícola, temos o lamentável atraso do Brasil na efetivação da transição energética e descarbonização na agricultura, e na desconcentração regional da atividade. Isso, graças à oposição absurda por parte de setores dos ruralistas, o que finda bloqueando a viabilização de um padrão de agricultura no país, capaz de coexistir nas situações de estresse climático.

Observe-se que, por ‘sorte’, a calamidade ocorrida no Rio Grande do Sul que concentra mais de 70% da produção nacional de arroz, ocorreu no final da colheita do produto. Não obstante essas falhas inaceitáveis, o Departamento de Agricultura dos EUA estima para 2033 um contexto de brutal concentração das exportações agrícolas, com o elevado protagonismo do Brasil. Constatando-se tais previsões, o mundo todo estará exposto a uma condição de risco severo ao acesso a alimentos estratégicos, posto que tais projeções certamente não incorporam os efeitos da emergência ambiental.

Assim, por exemplo, as projeções, em Céu de Brigadeiro do USDA, afirmam que as exportações de carne bovina, lideradas pelo Brasil, estarão concentradas, em 68%, em cinco países; as de milho, também lideradas pelo Brasil, estarão 87% concentradas em 4 países. Carne de porco, 88% concentradas em 4 países, EUA à frente; carne de aves, 80% em 4 países, Brasil liderando; soja, 86.3% em 2 países (BR e EUA).  Atuemos para que a COP 30, em Belém, livre a humanidade dos piores cenários associados à emergência do clima!

Artigo originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 13 de outubro de 2024

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