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![O impacto da IA chinesa e o papel do Brasil no cenário tecnológico global](https://ptnosenado.org.br/wp-content/uploads/2025/02/deep.jpg)
Startup chinesa Deepseek balançou o mercado mundial de IA
“Balança de poder” é um conceito complexo das Relações Internacionais que se refere à ideia de distribuição de poder entre países e à capacidade de cada um deles influenciar o sistema internacional. Isso envolve a capacidade militar, econômica, tecnológica cada país. A balança de poder pode ser avaliada através do equilíbrio de poder, que é a situação em que as potências nacionais estão em competição, mas de forma equilibrada. Quando a balança de poder é quebrada, é provável que ocorra um conflito e a depender da dimensão, guerra. A teoria do equilíbrio de poder costuma resultar em diferentes corridas armamentistas que buscam pendular e chacoalhar a balança e aumentar a probabilidade de conflitos.
Em 20 de janeiro, a startup chinesa DeepSeek lançou o modelo de IA DeepSeek-R1, que rapidamente superou o ChatGPT em downloads, atingindo o setor tecnológico e causando perdas de até US$ 1 trilhão em ações de grandes empresas nos EUA e Europa. A Nvidia, empresa norte-americana e líder na fabricação de chips para IA, também sofreu perdas significativas. Esse avanço chinês representa uma ameaça à liderança ocidental em tecnologia e reflete uma batalha geopolítica em torno da inteligência artificial.
Os semicondutores, fundamentais para a tecnologia moderna, são majoritariamente produzidos na China e no Leste Asiático. Em resposta ao crescimento da China, os EUA impuseram restrições internacionais para limitar exportações de semicondutores avançados e tecnologias de desenvolvimento. Outros países, como Itália, Austrália e Coreia do Sul, seguiram essa tendência. Recentemente, um projeto de lei nos EUA foi apresentado para impedir o uso do DeepSeek, citando sua ligação com o Partido Comunista Chinês, embora a mesma preocupação não tenha sido expressa em relação ao ChatGPT em outros países, o que não é justificável, afinal, nenhuma empresa de tecnologia é politicamente neutra.
A China, sob a liderança de Xi Jinping, tem buscado autossuficiência no setor de semicondutores, com a estatal SMIC avançando no mercado e um investimento significativo em pesquisa e desenvolvimento. Apesar da posição dominante da Nvidia, muitos concorrentes estão explorando oportunidades para oferecer soluções mais eficientes e de custo mais baixo.
Foi esta a grande disrupção que a IA chinesa, DeepSeek, parece ter provocado, desafiou a ideia de que apenas chips avançados e caros podem sustentar uma IA de ponta, oferecendo uma plataforma gratuita e de código aberto que permite a desenvolvedores do mundo a criarem versões ainda mais avançadas a partir do modelo inicial. Em outras palavras, o modelo chinês colocou em xeque a hegemonia das bigtechs norte-americanas e dos bilionários da tecnologia. Agora os EUA se movem para “reequilibrar” a balança, buscando um alinhamento ocidental contra as ameaças da Ásia.
O Brasil na Balança
No Brasil, o papel do país na indústria de semicondutores foi discutido em audiência pública no Senado, destacando acordos com nações asiáticas e a necessidade de retomar a produção nacional. É preciso lembrar que em 2021, em plena pandemia, Jair Bolsonaro privatizou o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), estatal criada por Lula em 2008 e que era a única produtora de chips e semicondutores na América Latina. Foi o decreto feito no primeiro ano de Lula III, em 2023, que reverteu a decisão, reconhecendo a importância de ter uma indústria forte no setor.
As perspectivas para o mercado de semicondutores são promissoras, com vendas projetadas para alcançar US$ 245 bilhões em 2025, conforme a UBS Global Wealth Management. Em setembro de 2024, o presidente Lula sancionou a Lei Brasil Semicon, que prevê incentivos de R$ 7 bilhões por ano para impulsionar a indústria de semicondutores, promovendo a inserção do Brasil nas cadeias globais de tecnologia.
Uma IA brasileira
A IA Generativa (IAGen), funciona como um bate-papo (chat) e tem encontrado uma receptividade significativa no Brasil. Uma pesquisa da Ipsos e Google revelou que o país é o quarto no mundo em acessos ao ChatGPT, com 54% da população utilizando IA generativa em 2024, acima da média global de 48%. O otimismo em relação à IA é alto, com 65% dos brasileiros acreditando em seus benefícios.
O Brasil possui potencial para se tornar um protagonista em IAGen, conforme apontado por especialistas. Quatro frentes prioritárias foram identificadas para seu avanço: 1) letramento digital (compreensão e análise crítica sobre a tecnologia); 2) regulamentação do setor; 3) viabilização econômica e planos de negócios; 4) prontidão social para lidar com as implicações sociais, éticas e legais da tecnologia.
Há muitas perguntas que ainda tem de ser respondidas, mas, o desenvolvimento tecnológico não aguarda as respostas, ele as fornece. Em 2026, é provável que muitos brasileiros busquem a ajuda de assistentes de IA para questões cotidianas, como: “Em quem eu devo votar para presidente?”
Mariana Jacob é formada em Relações Internacionais, mestre em Poder Legislativo e assessora da Liderança do PT no Senado