A onda negativista que recebe atenção especial de uma parte da mídia elegeu o câmbio para espalhar pânico como forma de mostrar que a economia vai mal, que há descontrole nas contas do governo. Nessa estratégia, que esconde um viés político, velhas raposas são chamadas a opinar sobre a alta especulativa do dólar nos últimos dias e aproveitam para fazer profecias como se o Brasil fosse quebrar amanhã. Notícia verídica mesmo se vê em poucos veículos da imprensa, e o fato é que até o momento o Brasil não gastou um só centavo de suas reservas cambiais para conter as cotações do dólar. O Banco Central, ao contrário de outros países, como Índia, Turquia e Indonésia, está oferecendo liquidez por meio de operações no mercado de derivativos. Esses países, por sua vez, estão vendendo dólares de suas reservas para evitar uma desvalorização. No caso brasileiro, as reservas vão bem obrigado. No dia 16 de agosto, somavam US$ 373,954 bilhões, até acima do fechamento do mês de julho: US$ 373,673 bilhões.
É bom lembrar e não custa nada. As reservas cambiais no começo do governo Lula, em janeiro de 2003, correspondiam a quase US$ 30 bilhões e esse valor já acrescia mais um daqueles empréstimos draconianos que o Brasil era obrigado a fazer com frequência na banca do Fundo Monetário Internacional (FMI). No segundo ano de mandato, o governo brasileiro não só quitou sua dívida e hoje, por incrível que pareça, é o FMI quem vem pedir empréstimo para o Brasil.
Mas diante da especulação e da onda criada pelos rentistas e disseminada por uma parte da mídia, a recomendação antiga de ex-presidentes do BC é a mesma do passado, ou seja, o correto é ter um forte ajuste fiscal e, diante das incertezas, deve-se, ainda, aumentar os juros.
Só que o Banco Central não adotou esse receituário já conhecido. Na quinta-feira, por exemplo, anunciou um programa de leilões de câmbio até dezembro para dar proteção aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio. Vai oferecer de segunda à quinta-feira US$ 500 milhões e, nas sextas-feiras, realizará um leilão de venda com compromisso de recompra, no valor de US$ 1 bilhão.
Ao optar por essa sistemática, as reservas cambiais tendem a ficar no patamar de US$ 370 bilhões e até aumentar um pouco. Na revista Carta Capital desta semana, o ex-ministro Delfim Netto elogia a política adotada e cita mensagem do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que, incisivo, sinalizou: “os movimentos recentes observados nas taxas de juro de mercado incorporam prêmios excessivos”, e, em relação ao câmbio, alertou para “o risco de perdas para os que apostam em movimentos unidirecionais da moeda”. Na linguagem que os especuladores entendem, a mensagem quer dizer que aqueles que apostarem na alta do dólar e na desvalorização do real poderá perder nesse jogo. E a perda nesse mercado pode significar alguns bilhões.
Delfim Netto afirma em seu artigo não acreditar que o Brasil irá sofrer o impacto do reajuste global do câmbio, iniciado pelos Estados Unidos que está injetando algumas dezenas de bilhões de dólares em sua economia como forma de sair da crise. Ele recomenda “manter uma política cambial adequada que dê sustentação aos investimentos nos setores da atividade econômica de vocação exportadora, pois é de onde se pode esperar a retomada do desenvolvimento com mais rapidez e dinamismo.?Houve uma mudança importante na cultura do governo, tanto na esfera política quanto na área econômica. Desvios foram corrigidos”, diz ele.
Falando sobre esse tema, a edição de hoje do Valor Econômico destaca que “o mercado de câmbio brasileiro vem sofrendo com a turbulência causada pela injeção de dólares do governo americano, mas enquanto bancos centrais da Indonésia, Índia e Turquia usam suas reservas internacionais para conter a pressão contra as moedas locais, a autoridade monetária brasileira segue sem gastar um dólar desse colchão” (reservas internacionais), justamente porque optou pelo chamado mercado derivativo para oferecer liquidez e não pela venda física dos dólares mantidos em reserva.
Enquanto os profetas dizem que as contas estão ruins, novamente o fato é que há ingresso líquido
Com informações do jornal Valor Econômico
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