Alessandro Dantas

Há poucos dias, em uma atividade com empresários e trabalhadores da indústria americana, o presidente Trump se empolgou e, de supetão, anunciou que iria aumentar, de 25% para 50%, as tarifas sobre o aço e, também, sobre o alumínio importados por aquele país. As novas tarifas passaram a valer praticamente no dia seguinte e assim afetando severamente as vendas de países como o Brasil.
A rigor, se com 25% já era quase impossível exportar para os EUA, com 50%, Trump excluiu o seu país do mapa do comércio desse insumo estratégico burlando compromissos, investimentos e relações com empresas e países. O caso parece exemplar da conduta volátil, desrespeitosa e caótica do presidente americano nas definições e vaivéns do recente “pacote” tarifário que vem erodindo a confiabilidade e estabilidade do sistema econômico multilateral.
Em meu juízo, ressalvados os excessos midiáticos e do desprezo ao resto do mundo, fruto do ego e dos arroubos do presidente, o ‘tarifaço’ americano, mais do que a reindustrialização dos EUA e a tentativa de resolução, com recursos alheios, da dívida pública estratosférica do país, tem como propósito real tentar barrar a ascensão incontornável da China, que atualmente já molda o sistema internacional. A extensão quase global das tarifas constitui meio para disfarçar esse objetivo fundamental.
Mesmo com as suas desigualdades e contradições crescentes, dívida pública acima de 37 trilhões de dólares e perda de credibilidade das suas instituições, não considero que os EUA caracterizem um “império em queda”. Afinal, com supremacia militar incomparável e capacidades econômicas, científicas e tecnológicas superlativas conquistadas com a contribuição do resto do mundo, a eventual debacle americana seria evento de muito longo prazo. Porém, o conforto e a arrogância dos tempos de uma posição hegemônica global absoluta, simplesmente já acabaram. Para o bem do mundo, em especial, do sul global, há um deslocamento do centro de poder do atlântico norte, para o pacífico.
A emergência da China como potência global, com práticas não colonialistas, amistosas e de maior cooperação com os seus parceiros constitui evento singular promissor para o enfrentamento das desigualdades e dos obstáculos impostos pelo “ocidente” ao desenvolvimento das nações pobres. Um parêntesis para destacar que desde a guerra do ópio (1840) a china também foi vítima de agressões por todas as grandes potências ocidentais. No século XX a resistência da China à invasão pelo Japão resultou na morte de mais de 30 milhões de chineses.
Assim, o fenômeno China reflete o êxito de estratégias estruturais, desde Mao Tsé-Tung, traduzidas em políticas que aquele líder chinês denominou como de revitalização ou rejuvenescimento da nação chinesa. Fato é que, na atualidade, em termos de produção bruta, a China tem uma participação mundial três vezes maior que a dos EUA, seis vezes maior que a do Japão e nove vezes maior que a da Alemanha. A economia chinesa representa 20% da economia global em termos de Paridade de Poder de Compra (PPC); detém o segundo maior ativo financeiro do mundo e responde pelo segundo maior Investimento Direto no Estrangeiro. Em que pese as dificuldades, o PIB da China ultrapassou os 18 trilhões de dólares com taxa de crescimento para 2025 prevista em 5%.
Em suma, a China lidera as relações comerciais com 123 dos 193 países membros das Nações Unidas. Maior indústria do planeta, deixando nada ou muito pouco a desejar na disputa pela fronteira tecnológica com o ocidente, e com práticas construtivas de cooperação com as economias pobres e emergentes, a China é a maior esperança para um mundo menos assimétrico, mais cooperativo e harmonioso. Mudar o curso da história desse jeito, não funcionará!