ARTIGO

Um novo mundo é possível novamente, por Rogério Carvalho

Alessandro Dantas

Um novo mundo é possível novamente, por Rogério Carvalho

Tem algo novo no ar. É como se uma esperança que esteve sufocada durante quase 10 anos finalmente começasse a ganhar forma e urgência, como uma imposição dos tempos, a história seguindo o seu curso.

Há pouco mais de uma semana, milhares de brasileiros voltaram às ruas para defender não uma agenda negativa, como vimos tantas vezes nos últimos anos, mas uma causa civilizatória, como a derrubada da PEC da Blindagem, tão ostensivamente hedionda que ficou conhecida como PEC da Bandidagem. 

Os brasileiros voltaram a exercer o direito de fazer sua voz ser ouvida, e se reencontraram com o exercício da cidadania. Ver todas aquelas pessoas nas ruas, defendendo a dignidade do nosso país, me lembrou momentos que vi e vivi anos atrás, como o reencontro do país com a democracia no movimento pelas Diretas Já, o movimento dos Carapintadas em 1992, e a militância no movimento estudantil. Lembrou-me também o sonho que nos movia, e que ainda nos faz lutar pelos interesses comuns da nação.

E não é exagero ver nisso o início de um reencontro do país consigo mesmo, com os valores fundamentais que o definem enquanto sociedade. As pautas progressistas, que passaram anos sufocadas em meio a um avanço inédito do ódio e da intolerância, voltando a se fazer ouvir.

Os sinais estão em todos os lugares. Conseguimos enterrar no Congresso a PEC da Bandidagem, aprovamos também o Imposto de Renda zero para quem ganha até R$ 5 mil, um passo importante para garantir justiça tributária no país. O fim da escala 6×1, que pode vir a ser a maior conquista dos trabalhadores brasileiros desde a criação da CLT, está entrando em pauta e promete mobilizar o país.

Tudo isso em meio ao impacto mundial causado pelo pronunciamento do presidente Lula na Assembleia da ONU, em que o Brasil não se acanhou em dar um recado firme sobre temas importantes como o combate à fome, a luta pela justiça social, a chantagem tributária do presidente americano, Donald Trump, a tragédia humanitária em Gaza, e a defesa do multilateralismo hoje sob ameaça. 

Lula estabeleceu uma nova pauta diante do mundo, recolocando entre as prioridades valores caros ao campo progressista, como humanismo, fraternidade, justiça social e soberania. É o Brasil voltando a ter orgulho de si, do seu papel no mundo, e do seu compromisso com o seu povo.

É ainda apenas o início de um tempo novo. Mas, aos poucos, começamos a perceber na sociedade brasileira os sinais de um possível amadurecimento sofrido e, consequente, resultado do enfrentamento a um período difícil e obscuro ao qual, não sem grandes perdas, conseguimos sobreviver. 

A polarização extrema começa a dar lugar a um ambiente mais aberto ao debate de ideias e à escuta das diferenças. Há sinais de que a população está mais disposta a valorizar princípios que sempre foram bandeiras inegociáveis do campo progressista. 

As pessoas parecem mais sensíveis à importância de políticas públicas inclusivas, ao respeito à diversidade e à retomada de causas tão caras a milhões de trabalhadores brasileiros, tanto àqueles em empregos formais quanto aos que se inserem no novo mundo do empreendedorismo.

Essa abertura alimenta a esperança de que o Brasil possa avançar, resgatando valores muitas vezes ofuscados pela retórica agressiva dos últimos anos. E isso vale também para Sergipe. Todo esse clima, essa volta da esperança e de abertura de novas perspectivas, também parece estar se instalando aqui. 

Pode vir a ser parecido com o que o Estado viveu 20 anos atrás, quando deu um salto à frente inspirado pela liderança de Marcelo Déda, e que hoje, em uma situação muito diferente – e, inegavelmente, melhor -, pode inspirar uma visão renovada e reforçada de progresso, marcada por uma distribuição mais igualitária do desenvolvimento por todo o Estado, participação popular, políticas sólidas de inclusão e fortalecimento dos direitos sociais, sempre valorizando o diálogo, o respeito e a construção coletiva de soluções, mostrando que é possível promover avanços mesmo diante de adversidades, e construir, juntos, um Sergipe cada vez mais forte.

São perspectivas que esse novo tempo anuncia, e precisamos estar atentos a elas. Os caminhos estão abertos, porque como eu disse lá em cima, a história constrói uma nova realidade. Cabe a nós, agora, começar a construir esse novo mundo possível. Porque, como dizia o escritor francês Victor Hugo, nada é mais poderoso que uma ideia cujo tempo chegou.

To top