Diego Campos/Secom-PR

Haddad: “Todo aumento de benefício tem que vir acompanhado de compensação, senão viola a Lei de Responsabilidade Fiscal.]”
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (7/10) ao programa Bom Dia, Ministro, que a proposta de redução do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil “ganhou mentes e corações” e deve ser votada pelo Senado ainda em outubro.
“Ficou muito difícil um deputado, uma deputada apertar o botão contra essa proposta”, disse.
Ele destacou a aprovação unânime na Câmara, com 493 votos positivos e nenhum contrário, e ressaltou que o desenho garante neutralidade fiscal ao atrelar a desoneração à criação de um imposto mínimo para “quem tem rendimento expressivo”. Segundo Haddad, a medida também reduz o IR de rendimentos até cerca de R$ 7.300.
“A ideia de um imposto de renda mínima, que é o que deu sustentação para a promessa de campanha de isentar os trabalhadores que ganham até R$ 5.000 por mês, realmente ganhou corpo. Ganhou a opinião pública. A ideia de que todo mundo que tem um rendimento expressivo pague um imposto de renda mínima e que essa arrecadação seja utilizada para isentar, desonerar. Quem ganha até R$ 5.000 e diminuir o imposto de quem ganha até R$ 7.300, essa ideia realmente foi muito muito muito inovador”.
Veja a íntegra da entrevista:
Haddad contou que a arquitetura do projeto levou quase um ano de trabalho interno com a Receita Federal e secretarias da massa. “A força da ideia se fez notar e eu penso que não vai ser diferente no Senado”, afirmou.
“Todo aumento de benefício tem que vir acompanhado de compensação, senão viola a Lei de Responsabilidade Fiscal.”
“O que a gente está fazendo é mostrar que tem privilégios tributários que não fazem mais sentido. E quando um privilégio tributário não faz sentido, ele tem que ser cortado. Porque está fazendo falta para alguém que está precisando mais do que aquele empresário. E tem muitas pessoas que estão precisando mais do que o empresário desse valor.”
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Tributação de aplicações financeiras
Questionado sobre a Medida Provisória 1303, que trata da tributação de aplicações financeiras, o ministro disse que as negociações com o Congresso continuam e que, em democracia, “nada sai do jeito que a gente encaminhou”.
Ele indicou disposição para calibrar trechos do texto. “Você não vai para uma mesa de negociação se não puder abrir mão de nada. Eu estou confiante que vamos chegar a uma equação que feche um orçamento adequado para o ano que vem.”
Haddad avaliou que o Congresso tem sido sensível à pauta de corte de privilégios tributários desde 2023, embora os debates sejam complexos.
No balanço macroeconômico, o ministro afirmou que o governo Lula deverá entregar inflação, desemprego e resultado primário melhores do que nos dois governos anteriores, de Bolsonaro e Temer, com crescimento superior.
Ao comentar juros, reforçou que a Selic está “excessivamente restritiva” em sua visão, preservando o respeito à autonomia do Banco Central.
“Nosso papel é fazer chegar informações para que as decisões sejam as mais técnicas e benéficas possíveis.”
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Tarifaço
Sobre o “tarifaço” anunciado pelos Estados Unidos (EUA), Haddad disse que a majoração de 40 pontos percentuais “é eminentemente política” e relatou que o governo abriu o programa Brasil Soberano para apoiar, com liquidez, empresas mais afetadas enquanto busca solução diplomática.
Ele relatou expectativa de distensão após telefonema recente entre os presidentes e possíveis encontros bilaterais nos eventos do FMI, Banco Mundial e G20. “Dá para ter uma agenda ganha-ganha no continente”, afirmou.
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Metanol e tarifa zero
Durante a entrevista, Haddad também comentou sobre os casos de intoxicação por metanol no país, o papel da Receita Federal no processo, e questões sobre transporte público como a tarifa zero.
“A Receita Federal controla quantidade e preço, não a qualidade do que é envasado. Repressão a produto adulterado é papel da vigilância sanitária e, quando houver aduana, do Ministério da Agricultura.”
Sobre tarifa zero no transporte público, disse que a Fazenda conduz uma “radiografia” do setor como custos, subsídios, vale-transporte e gargalos tecnológicos para avaliar alternativas de financiamento.
Haddad também citou prioridades microeconômicas com potencial de aumentar a produtividade, como o crédito ao trabalhador por meio de mercado de consignado privado (“juros cadentes pela concorrência bancária”), além de projetos maduros no Congresso em áreas como infraestrutura bancária, falências e inteligência artificial.
Sobre especulações eleitorais em São Paulo, negou pretensão de candidatura em 2026. “Posso ajudar o presidente Lula de outras maneiras.”
“Para 2026, vamos entregar uma inflação mais baixa, vamos entregar um desemprego mais baixo e vamos entregar um crescimento maior. Então, o objetivo da pauta econômica é esse, olhar para esses indicadores. E também entregar um país menos desigual”, afirmou o ministro.
Quanto à COP30, em Belém, o ministro destacou a proposta brasileira de um fundo internacional para serviços ambientais (TFFF), com aporte inicial anunciado pelo Brasil para remunerar países que protegem florestas tropicais em pé.
“É um mecanismo muito inovador. Se for bem-sucedido, favorecendo o Sul Global e ajuda a manter os pulmões do planeta”, afirmou.