ARTIGO

Agricultura: mapa do caminho, por Beto Faro

Para que se mantenha os atributos de produtividade da agricultura, são mandatórias medidas urgentes para a adaptação da atividade às situações de estresses ambientais

Alessandro Dantas

Agricultura: mapa do caminho, por Beto Faro

Entramos na reta final e decisiva da COP 30 em Belém. Obviamente, dificuldades e impasses são esperados num evento com extensa e complexa agenda de negociação cujas decisões requerem o consenso entre 194 países.

O importante é que a consciência coletiva sobre o imperativo do enfrentamento das ameaças à humanidade com as mudanças do clima, se imponha aos interesses específicos dos países. Acreditamos nisso, pois, ademais de o mundo não ter escolha, contamos com a expertise da nossa diplomacia. Assim temos a expectativa de que a COP de Belém resulte num grande pacto político global que efetivamente comprometa as instituições e a sociedade de todo o mundo com os esforços para se evitar os piores cenários da crise climática. Que o Acordo de Belém amplie, consolide e efetive o Acordo de Paris.

Nesse contexto, vale considerar alguns desafios para a agricultura brasileira, no caso, atividade naturalmente exposta a riscos climáticos, mas que, neste momento, alimenta com intensidade e já está sendo muito afetada pelos distúrbios do clima em face do aquecimento do planeta. Para que se mantenha os atributos de produtividade da agricultura de modo a garantir-lhe as suas funções estratégicas para a segurança alimentar, interna e global, são mandatórias medidas urgentes para a adaptação e mitigação da atividade às situações de estresses ambientais.

Ainda no caso brasileiro, suponho que a viabilidade de uma base técnica para a agricultura, em conformidade com o novo normal socioambiental não esbarra em eventuais incapacidades tecnológicas e científicas. Nosso problema real para esse avanço decorre das resistências políticas a mudanças de qualquer natureza pelas ‘frações bolsonaristas’ do campo, minoritárias, mas representadas de forma desproporcional nas nossas instituições. Esses segmentos são herdeiros de uma tradição que ao longo da nossa história introjetou e consolidou condutas fundiárias, socioambientais e trabalhistas minimamente decentes, como custos restritivos dos seus ganhos imediatos e predatórios.

Portanto, lidamos com um paradoxo: desafortunadamente, a agricultura está sob ameaça do clima; porém, afortunadamente, o pressuposto para a salvação da atividade é a superação ou profunda mitigação dos seus indicadores socioambientais clássicos.

Segundo a Embrapa (Visão de Futuro do Agro Brasileiro) incrementos de produtividade deverão estar associados à diminuição da pegada de carbono, à conservação da água, à manutenção dos nutrientes do solo, ao uso controlado de antimicrobianos e de agrotóxicos, e condições adequadas de emprego e renda no campo. A sustentabilidade em seus três aspectos (econômicos, sociais e ambientais), portanto, é a principal força motriz da megatendência transformadora da agricultura brasileira, segundo a Embrapa.

Na hierarquização das oito megatendências traçadas pela Embrapa para a agricultura do futuro no Brasil, a sustentabilidade, nos seus três aspectos, e a adaptação às mudanças do clima, são as duas mais importantes.

Esse mapa do caminho para a agricultura que não recomenda as unidades produtivas de mega escala em razão de vários fatores além dos requisitos da diversidade genética indica o imperativo da transição ecológica da atividade e aponta para um upgrade na participação da agricultura de pequena escala na economia agrícola do país. Ou a forças do passado se atualizam ou terão que mudar de ramo. Este é o mapa!

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