Os trabalhos na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), destruída por um incêndio em fevereiro, serão retomados pelo governo brasileiro nos próximos quatro meses – período do verão na região. E já está no mar a 31ª Operação Antártica (Operantar), que mobiliza 200 pesquisadores e cinco navios – numa ação dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Meio Ambiente (MMA) e Defesa.
Além de finalizar o desmonte das 700 toneladas de aço da base operacional e instalar os 29 módulos emergenciais provisórios, os cientistas darão continuidade aos 19 projetos de pesquisa, coordenados pelo MCTI e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI). “O Programa Antártico Brasileiro vem promovendo a investigação científica de nível internacional na região sob jurisdição do Tratado da Antártica, garantido papel ativo do Brasil nas decisões sobre a gestão ambiental e o futuro político do continente e do oceano Austral”, avalia o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI, Carlos Nobre.
No último dia 3, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lançou uma boia meteo-oceanográfica de grande porte numa baía do arquipélago das Shetland do Sul. A boia pesa aproximadamente 700 kg e possui 2 metros de diâmetro, abrigando vários sensores oceanográficos e meteorológicos e uma plataforma que permite o recebimento dos dados medidos em tempo quase real. “O sistema foi completamente construído e integrado por uma empresa brasileira”, diz diretor do Inpe, Leonel Perondi.
Navio
Os pesquisadores brasileiros estão no navio Almirante Maximiniano, responsável por abrigar grande parte dos laboratórios que serão aproveitados nesta edição da operação e também nos refúgios (denominação utilizada para os abrigos dos pesquisadores em localidades distantes da estação) e na Estação Antártica Escudero, do Chile, localizada na ilha Rei George. Há pesquisadores também na Base Militar Cámara, da Argentina, localizada na ilha Media Luna. Segundo o contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, essa é a maior Operantar em termos de logística e tomou proporção ainda maior devido ao acidente de fevereiro. “Após o incêndio, retiramos os materiais tóxicos e perecíveis, para não poluir o ambiente, e lacramos a Comandante Ferraz.
Agora, após a definição desta operação, embarcaremos todos os equipamentos necessários para as três ações desta Operantar, faremos a limpeza da área e o reestabelecimento das comunicações”, explicou o contra-almirante.
Base
A estação Comandante Ferraz ficava em frente à baía do Almirantado,
na ilha Rei George. Nesta operação, será implantado o Plano de Remoção de Escombros, em que a infraestrutura afetada pelo incêndio será removida. Já a limpeza da área será acompanhada por um estudo, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, sobre os impactos ambientais.
Por conta do incêndio, o MCTI investiu R$ 4,3 milhões para repor os
equipamentos perdidos. Dessa forma, os 19 projetos serão desenvolvidos
de forma plena, o que inclui iniciativas que têm como países parceiros Chile, Uruguai, Argentina, Equador, Peru, Espanha e Polônia, entre outros.
Módulos
Os Módulos Antárticos Emergenciais (Maes) provisórios terão capacidade para abrigar cerca de 70 pessoas, que contarão com dormitórios, banheiros, refeitórios, cozinha, laboratórios, enfermaria e geradores, além de estações de tratamento de esgoto e área de armazenamento de resíduos sólidos.
Eles têm parede externa de PVC, que resiste à ação de raios ultravioleta, e
podem suportar ventos de até 200 quilômetros por hora. Ficarão no heliponto da base brasileira situada na ilha Rei George.
Equipe científica é multidisciplinar
Os temas que serão abordados durante as pesquisas na Operantar 31 são multidisciplinares e envolvem mudanças globais atuais e futuras, ecossistemas, biodiversidade e impactos antrópicos, evolução, observação e modelagem do oceano e da dinâmica do gelo e ambientes de subgelo. A coordenadora-geral para Mar e Antártica da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped/MCTI), Janice Trotte, diz que 16% das pesquisas desenvolvidas no continente foram afetadas diretamente pelo incêndio na estação. Os danos, porém, não acarretaram na perda total dos dados de nenhum projeto. “Vale ressaltar que são 30 anos de trabalhos científicos ininterruptos”, afirma.
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