Em entrevista ao Valor Econômico, o senador, disse ser “natural” surgir uma pré-candidatura dentro base aliada, já que a oposição está “enfraquecida” no país.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o senador Jorge Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, falou da política nacional, da campanha eleitoral de 2014 e do governo Dilma. Ele considera natural uma possível candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à Presidência da República, pois na sua avaliação a oposição está enfraquecida. Viana ainda defendeu maior diálogo dos ministros com a sociedade e ressaltou o trabalho da presidenta Dilma para a economia brasileira retomar o crescimento sustentável.
Veja a íntegra da entrevista:
“Governador não pode ser visto como inimigo”
Por Cristiane Agostine | De São Paulo
Um dos senadores mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jorge Viana (PT-AC) diz que a pré-candidatura à Presidência do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, é para valer e pondera que o dirigente não pode ser tratado como inimigo. Para o senador, é “natural” surgir uma pré-candidatura dentro base aliada, já que a oposição está “enfraquecida” no país. “Campos pode até ser adversário, mas há afinidades que vão nos manter juntos no futuro. Essa movimentação está muito mais vinculada a 2018 do que a 2014”, diz Viana ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.
Viana afirma que a presidente Dilma Rousseff tem agido para conter a insatisfação dos empresários com seu governo e, dessa forma, tenta evitar a migração do apoio do setor produtivo para a pré-candidatura de Campos.
O senador, no entanto, afirma que o governo ainda é muito centralizado e que os ministros precisam ter mais liberdade para falar e percorrer o país para divulgar as ações da presidente.
Primeiro vice-presidente do Senado, Viana vê a desistência do PSD de assumir um ministério antes de 2014 como um sinal do possível retorno do ex-governador José Serra (PSDB) à disputa eleitoral. O petista compara o movimento do ex-prefeito Gilberto Kassab com o que aconteceu em 2012: depois de um longo namoro entre PSD e PT na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o partido presidido por Kassab recuou da aliança petista para apoiar Serra.
Em 2014 serão julgados os quatro |
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Valor: Dilma tem tomado medidas que beneficiam a atividade empresarial, como a redução dos juros, a valorização do câmbio, a desoneração da economia e a redução da tarifa de energia. Por que não consegue conter a insatisfação?
Jorge Viana: Não creio que essa insatisfação esteja vinculada diretamente ao processo partidário, eleitoral. O governo precisa melhorar sua interlocução com o empresariado. Até o ano passado tinha pouco diálogo e a agenda não estava adequada. A assinatura de grandes contratos não é condição suficiente para um ambiente de satisfação do setor produtivo. Isso às vezes se resolve com mais diálogo. Dilma já corrigiu isso este ano, está conversando mais com o setor produtivo, andando mais pelo país. A presidente não é só uma gestora. É uma líder do país. E quanto mais fala, anda pelo país, mais ela rompe esse mal-estar.
Valor: A um ano e sete meses da eleição, há tempo para reverter perdas tanto na base empresarial quanto na base política, em uma campanha que foi antecipada?
Viana: Apesar do crescimento econômico aquém da expectativa, o Brasil está se saindo bem na crise mundial. O importante é não perder este ano. Só vamos ter sucesso se tivermos um bom 2013. Tem que voltar a crescer acima de 3%. É a isso que Dilma está se dedicando. O que ainda não está resolvido – e é necessário – é que os ministros também dialoguem mais. Eles são líderes e deveriam ajudar Dilma na interlocução com o país.
Valor: Os ministros temem repreensão da presidente?
Viana: Se isso é por decisão do Planalto, é um grande equívoco. Se eles falassem mais, isso dividiria a carga de trabalho da presidente. Em um governo de coalizão como o nosso, as opiniões ficam mais diversificadas e nos ajudam a enfrentar cobranças. Isso ainda não foi corrigido. Os ministros precisam escrever artigos, dar opinião e, para isso, dependem de uma posição da presidente. É bom que ela adote isso agora, porque no ano de eleição seria um equívoco.
Valor: A que o senhor atribui as mudanças na condução do governo?
Viana: No ano passado muitos parlamentares, dirigentes partidários reclamaram do governo. Uns falaram com a presidente, outros com Lula, com ministros, interlocutores. Todos pediram que a presidente partilhasse mais seu tempo, que recebesse mais empresários, políticos, movimentos sociais e que andasse pelo país. Houve um encontro de Lula com Dilma em dezembro. Ele sempre tem ajudado Dilma, colocando o sentimento que está fora do governo, como esse de que ela precisava ouvir mais, andar pelo país. Melhorou muito. Agora ela sai de Brasília toda semana, fiscalizando obra. O fato de Lula ter explicitado publicamente que ela é a candidata tirou alguns problemas. Com isso feito, a presidente ficou mais à vontade.
Valor: A campanha presidencial foi antecipada pelo PT e Lula lançou Dilma à reeleição. Isso não prejudica o andamento do governo?
Viana: O ato de comemoração dos dez anos do PT no governo federal, [quando Lula lançou Dilma à reeleição] foi pensado e estimulado por Lula. Ele aproveitou esse ato para resolver um problema interno do PT. Era para acabar com a dúvida de quem seria o candidato. E Lula disse: a candidata é Dilma. O encontro era um ato para o partido. Quem está no governo tem que trabalhar, prestar conta. A presidente só vai ser julgada em 2014 e seria péssimo trocar o trabalho de quem está no governo pelo debate eleitoral antecipado. A antecipação só interessa à oposição.
Valor: A candidatura de Eduardo Campos já está concretizada?
Viana: O PSB e Campos já deram os sinais que poderiam ser dados de que estão procurando viabilizar uma candidatura. Vamos respeitar, ver com naturalidade. A oposição está muito fragilizada e tem se mostrado incompetente ao apontar um projeto alternativo. Radicaliza nas críticas e fica parecendo uma ação contra o país. Por isso a oposição não cresce. Com a inviabilidade da oposição, é absolutamente natural encontrar problemas dentro de uma base tão ampla quanto a nossa. A candidatura de um líder da base não pode ser vista como algo tão absurdo.
Valor: Como deve ser a relação com Campos para não afetar a governabilidade e, ao mesmo tempo, não deixar que a candidatura se torne um risco para o PT?
Viana: Tem que ser vista com naturalidade. Campos não pode ser visto como inimigo. Pode ser até adversário, mas há afinidades que vão nos manter juntos no futuro. Essa movimentação está muito mais vinculada a 2018 do que a 2014. Às vezes a gente tem candidaturas que são lançadas e vão disputar uma eleição, mas no fundo estão de olho na outra eleição. As condições que o governo da presidente Dilma e o PT reúnem hoje são muito favoráveis. E ainda tem a eventual candidatura de Marina.
Valor: Campos atrai o empresariado com críticas à economia e os políticos com a defesa da Federação. O que Dilma vai fazer para enfrentar esse discurso, que é de Aécio?
Viana: Se uma das plataformas dele for a questão federativa, vai ter que se entender com Aécio, porque ele também está tentando se pendurar nessa tese. Normalmente a gente vê essa discussão sendo levantada quando se está fora do governo. Acho que Dilma e Lula deram mais do que demonstração do respeito à Federação. A presidente tem feito atos contínuos com prefeitos, com governos dos Estados, dando suporte para o financiamento, estabelecendo parcerias para investimentos com todos municípios e os Estados de maneira republicana. É reconhecido até pelos adversários, como foi feito recentemente pelo governador de Alagoas e o de Minas. Esse tema da Federação tende a perder força. É usado neste momento mais para aglutinar forças para uma aliança eleitoral do que como base para um futuro governo.
Valor: Como o senhor vê a candidatura de Marina?
Viana: A candidatura de Marina traz temas que fogem ao rame-rame de situação e oposição. Ela é problema mais para oposição do que para Dilma, porque consegue aglutinar críticos e a juventude em cima de uma plataforma não convencional da política. A oposição terá que disputar esse público que não votaria na gente, mas que está ancorando seus sonhos na candidatura dela.
Valor: O PSD recuou da possibilidade de assumir um ministério e decidiu não participar do governo antes de 2014. Como o senhor analisa esse movimento?
Viana: Não sei se isso está ligado à volta da militância de Serra. Na eleição de 2012 em São Paulo estava sendo encaminhada uma aliança do PSD com o PT. Serra se colocou como candidato e o Kassab deu meia volta. Agora estava se encaminhando uma chegada do PSD no governo, com possibilidades concretas, e de última hora Kassab disse que não vai. Coincidentemente na mesma semana em que Serra, que é muito próximo de Kassab, disse voltar à política.
Valor: Sua hipótese é que Serra sairá do PSDB e entrará no PSD?
Viana: O PT no ano passado foi muito bem onde estava unido e foi péssimo onde estava desunido. Isso na política é uma regra clássica para ganhar ou seguir ganhando. Tem que estar bem, internamente e com seus aliados. O PSDB talvez esteja se transformando em um projeto mais eficiente de não se transformar em alternativa de poder porque não se entende internamente.
Valor: Lula deve voltar em 2018?
Viana: Lula voltou à política. Mas a pessoa mais importante para 2014 será a presidente Dilma. É o governo, a agenda, as atitudes dela que serão julgados. Não significa que Lula não terá papel importante. Terá influência muito grande nas disputas regionais, nos Estados. Mas em 2014 serão julgados os quatro anos da presidente Dilma. Vamos pedir para ficar 16 anos no governo.
*Entrevista publicada no jornal Valor Econômico do dia 21/03