A exatos nove dias da data marcada para a votação do relatório que definirá seu futuro político no Senado Federal, o ex-líder do Democratas, Demóstenes Torres (GO), decidiu emergir. Na tentativa de evitar a perda do mandato, o senador goiano pediu perdão aos colegas e anunciou, na tribuna do plenário, que fará discursos diários para tentar convencer seus pares de que as denúncias contra ele são falsas, injustas e ardilosas. “Tenham a certeza, sou inocente. Obrigado, senhor presidente, amanhã estarei aqui de novo”, disse Demóstenes.
A um plenário quase vazio – apenas quatro senadores acompanharam o pronunciamento. Mas não houve apartes.
Entre os presentes, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que sucedeu Demóstenes na tribuna e PedroTaques (PDT-MT), que é o relator do parecer sobre o caso Demóstenes na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Coube a ele analisar se o parecer que pede a cassação do mandato do senador goiano, apresentado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) atendia aos preceitos de judicialidade e constitucionalidade. “Não se trata de perdão, mas de fatos”, declarou Taques ao afirmar que não poderia fazer juízo de valor, pois ainda relatará o processo na CCJ.
Demóstenes abandonou a oratória poderosa que o notabilizou e fazia dele um parlamentar destacado na defesa das melhores práticas políticas e legislativas. Em vez disso, o senador, em vias de perder seu mandato, apelou para um discurso previamente elaborado, cheio de frases de efeitos e apelos emocionais. “Estou em pleno cumprimento da pena mais cruel que pode ser infringida a uma pessoa. A pena de se saber íntegro e não ter como reagir”, começou. Prosseguiu queixando-se que o que mais pesa para ele é “carregar pelo isolamento dos corredores o isolamento dos holofotes”, disse ele ao apresentar-se como vítima no episódio, mas sem apresentar qualquer emoção.
Ainda nas palavras do ex-líder Democrata, todas as acusações contra ele não passam de “aleivosias destinadas a implodir vagarosamente o edifício da probidade construída em anos de dedicação”. Ele admitiu, porém, ter sido amigo de Carlinhos Cachoeira, mas negou ter colocado sem mandato a serviço do contraventor ou ter recebido vantagens indevidas – apesar das evidências em contrário demonstradas no parecer de Humberto Costa. “Nunca tive negócios legais ou ilegais com ele. Não tive sociedade ou participação em delitos investigados pelas operações Veja e Monte Carlo. Não, eu não coloquei meu mandato a serviço de Cachoeira e sim a serviço das forças produtivas do meu estado e do meu Brasil.”
Disse ainda que as escutas feitas pela Polícia Federal são ilegais, não foram periciadas, e que sua defesa notou que há discrepâncias entre as gravações e as transcrições. O senador também afirma que o vazamento do material foi seletivo, para prejudicá-lo, e que está com a “consciência tranquila”.
No final, pediu desculpas a cada um dos senadores que o apartearam em seu pronunciamento do dia 6 de março, quando disse ter apenas “relações familiares” com Cachoeira. E prometeu voltar ao plenário na sessão desta terça-feira (03/07)
O julgamento de Demóstenes na comissão está marcado para quinta-feira (4) e no dia 11 será julgado no plenário. Antes de chegar ao plenário, o processo terá que aguardar um intervalo de cinco sessões ordinárias do Senado, caso seja aprovado na votação de quinta-feira na CCJ.
Diante dessa exigência regimental, a Mesa Diretora do Senado decidiu convocar sessões ordinárias para hoje e para a próxima segunda-feira (9). O esforço é para que o julgamento de Demóstenes ocorra antes do recesso parlamentar, previsto para começar em 17 de julho.
Para cassar o mandato de Demóstenes, são necessários 41 dos 81 votos dos senadores. A votação em plenário é feita de forma secreta.
Giselle Chassot