Três meses após a presidenta Dilma Rousseff ter renovado, no encontro pessoal com o presidente dos EUA, Barack Obama, uma antiga reivindicação de produtores brasileiros, a comercialização da aguardente de cana brasileira com o nome de cachaça – e não mais como “rum brasileiro” – ganha não só mais mercado como reportagens nos mais influentes jornais dos EUA. Na última quinta-feira, sob o título “Cachaça: muito além do samba de uma nota só”, o jornal The New York Times destacou o crescimento da popularidade do destilado brasileiro nos EUA.
O tom da reportagem do NYTimes, um dos principais jornais do mundo, é bem diferente do que foi adotado pela grande imprensa brasileira quando Brasil e EUA firmaram o acordo que garantiu a denominação cachaça. Na época, venceu o espírito derrotista que o escritor, jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues, chamou de “síndrome do vira-lata”. Mais uma vez, a realidade se impôs à notícia nos jornais brasileiros. “Os americanos descobriram a caipirinha e gostaram (fácil)”, diz o jornal nova-iorquino. “Depois aprenderam a pronunciar caipirinha (um pouco mais difícil). Agora, aprendem a pronunciar cachaça (bem mais difícil: essa cedilha é um osso duro…)”.
O NYTimes lembra que o maior entrave à popularização da cachaça entre os americanos é exatamente a forte conexão com a caipirinha, situação quem vem se alterando com a utilização do destilado em novas receitas criadas em bares do país e reconhece o contínuo crescimento das vendas do nos Estados Unidos, ao longo dos últimos cinco anos. “A cachaça pode estar pronta para seu segundo ato”, afirma a reportagem, a respeito dessa redescoberta da bebida pelos barmen americanos.
O fator que estaria contribuindo para esse “Segundo Ato” seria o acordo firmado por Dilma e Obama, no último mês de abril, que vai assegurar o reconhecimento da cachaça como uma bebida única. Até então, as regras comerciais vigentes obrigava à rotulagem da cachaça nos EUA como um sucedâneo brasileiro do rum, produto típico do Caribe e também destilado da cana de açúcar. A contrapartida será o reconhecimento do Brasil ao Bourbon e ao uísque do Tenessee, vendidos no País com a classificação genérica de “uísque”.
Além disso, o investimento de gigantes americanas do setor de bebidas — como a Diário, que recentemente comprou a Ypióca por US$ 470 milhões—e as atenções que o Brasil despertará com a realização da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016 contribuirão para um “boom da cachaça” nos Estados Unidos, como avalia um dos entrevistados do NYTimes, Martin Cate, dono do tiki-bar* Smuggler’s Cove, em San Francisco, Califórnia.
*Tiki-bar: Estabelecimentos especializados em “drinks exóticos”, geralmente à base de rum e de “inspiração polinésia”. São uma instituição americana desde a Década de 30 do século passado.
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