A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT – SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Srªs Senadoras e Srs. Senadores, vocês ouvintes da Rádio Senado e espectadores da
Ontem, nós tivemos aquele acidente horrível no Metrô. Não foram 33 feridos, foram mais de 100 feridos. E o que temos a dizer? Olha, sabe que as cenas que a gente viu na televisão – claro, guardadas as devidas proporções – remetem, lembram até atentados terroristas em estação de metrô, como a gente viu, em julho de 2005, em Londres, ou, em 2004, em Madrid, ou, em 2003, em Moscou: gente em pânico, porta que demorava 15 minutos para abrir para a população, desesperada, sair de dentro; energia cortada, aumentando o sentimento de insegurança; janelas de emergência quebradas, gritos, correrias. Olha, e não era atentado terrorista nenhum, graças a Deus. Mas era uma coisa muito grave. Se não é falha humana, como colocaram, o que você tem, como conclusão? Falta de manutenção. Quer dizer, um desprezo gigantesco pela população que usa transporte público no Estado de São Paulo, na cidade de São Paulo.
Nós vimos a maior cidade brasileira, a cidade mais rica brasileira, onde os investimentos foram realmente mínimos em relação ao que podia ter sido feito, em comparação às cidades semelhantes desse porte no mundo. E aí não adianta vir dizer que você foi prefeita de São Paulo e não investiu no metrô.
Eu quero que vocês respondam: quem, recebendo uma prefeitura depois do Maluf e do Pita, consegue algum recurso para investir no metrô de São Paulo, gente? Eu investi no que é prioridade primeira para um prefeito. Uma prefeitura tem como prioridade o transporte público ônibus. É a primeira coisa em que ela investe, porque é a primeira responsabilidade. Porque era um caos na cidade de São Paulo, fora ser dominada por uma máfia, que eu tive que usar colete de proteção contra a ameaça deles por meses, para tentar arrumar, e arrumei.
Agora, o recurso que poderia já ter sido colocado no metrô pelo Prefeito de São Paulo, Kassab, que trabalha com três vezes o orçamento que eu trabalhava – eu trabalhava com por volta de R$13 bilhões; ele trabalha com R$35 bilhões e deixa sete no banco –, esse dinheiro poderia ir para o metrô.
Agora, saiu, semana passada, que não pode porque o metrô não está com suas contas
Então, a gente vê que o resultado do caos em que hoje se encontra a cidade tem pouco a ver com planejamento. Tem a ver com desprezo pelas pessoas que usam transporte público, por ignorar a prioridade, primeiro, de uma prefeitura que teria que ter investido, isso sim, em corredores de ônibus. Nós fizemos cinco corredores com muitos quilômetros e deixamos 269 corredores planejados. Não fizeram. Agora falam que é um caos, que é isso… O caos existe. Mas por que não foram feitos investimentos? Não foi feito. E o pior é que não foi feito tendo dinheiro. Isto é o que me deixa mais revoltada: tem dinheiro para fazer. Mas não fizeram.
E no metrô de São Paulo é outra história, porque o PSDB está no metrô de São Paulo, está no Governo de São Paulo e tem responsabilidade por esse metrô há quantas décadas, há muito tempo, e não fizeram o investimento devido.
E, quando se compara com a China, dizem: mas é um regime autoritário e tal. Mas vejam o México. Foi começado o seu metrô junto com o da cidade de São Paulo; foi no final da década de 60. Eles têm duzentos e sessenta e poucos quilômetros e nós temos setenta e poucos. Então, nós vemos que os países com dificuldade, países que são chamados em desenvolvimento, países que não têm autoritarismos, países outros muito parecidos conosco, eles têm essa noção de que o povo precisa de transporte.
Não há sentido,
Então, essa questão me parece a mais séria que hoje enfrentamos na maior cidade brasileira, o transporte público, a falta de prioridade, é isso, porque recurso sempre tivemos.
Agora eu vou voltar para o que aconteceu ontem
As imagens correram mundo, sempre acompanhadas da informação de que o acidente ocorrera na linha que levará torcedores ao Itaquerão para o jogo de abertura da Copa de 2014. Quer dizer, não foi em qualquer linha; foi naquela linha que, nós sabemos, as pessoas vão ter que usar para ir a um jogo de futebol, o Itaquerão, que é um lugar distante do centro. Aí deveriam ser feitos investimentos. O básico, porque não é investimento para jogo de futebol, nem para o Itaquerão, é investimento para uma região de São Paulo que é a Zona Leste, onde mora quase a metade da população, uma região de – 11 milhões é a população da capital – quatro milhões e pouco moram na Zona Leste e usam esse metrô. Isso tem que ser tratado como uma jóia. Os ônibus correspondentes também são um deus nos acuda para pegar, fora que estão caindo aos pedaços, as pessoas chegam sujas ao trabalho, as mulheres sofrem bulinação. Vocês querem pensar numa situação difícil, pensem o que é o transporte na cidade de São Paulo.
Não fosse a perícia do jovem condutor do trem, que acionou o freio de emergência, o número de feridos seria muito maior do que as mais de 100 pessoas que foram atendidas nos hospitais públicos.
O acidente vem se somar ao grande número de ocorrências graves registradas nas linhas do transporte ferroviário na cidade. Porque não é a primeira; tem sido uma sequência. Desde 2007, ano em que sete pessoas morreram nas obras da linha 4-Amarela, foram quase 100 panes nas linhas do metrô e 124 nas linhas ferroviárias da CTPM.
Parece muito claro: há algo muito sério ocorrendo. Se você tem, desde 2007, essas quase 100 panes, dá para perceber que alguma coisa está mal estruturada, ou está mal organizada, ou tem pouco recurso. Mas não interessa o que seja, interessa que tem que ter solução. Tem que ter solução, porque as pessoas que usam esse transporte dependem dele. O patrão não está querendo saber se ele chegou vinte minutos atrasado porque o metrô estava tão cheio que ele não entrou ou que o metrô teve uma pane. Ninguém está interessado nisso, gente.
Essa questão de quem mora longe a gente já resolveu com o bilhete único, porque, antes, o patrão tinha que pagar para uma pessoa que mora na periferia duas a três conduções. “Onde você mora?” Se a pessoa falasse Itaim Paulista, que é bem longe, ela tinha mais dificuldade de arrumar emprego, porque o patrão ia ter que dar três conduções para essa pessoa. Com o bilhete único, isso foi sanado. Foi sanado, mas as pessoas estão arrumando mais trabalho, a economia está melhor, as pessoas estão saindo da Zona Leste, porque também não foi feito planejamento para levar trabalho para a Zona Leste, porque o bom é quando a pessoa consegue trabalhar perto de casa. Não tem planejamento nessa direção. Então as pessoas têm que ir para o centro, e aí acontece o que está acontecendo.
Então, nós sabemos que a situação do transporte público
Peço mais um minuto para concluir, Srª Presidente Ana Rita.
Em 2011…
(Interrupção do som.)
A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT – SP) – Em 2011, dos 4,5 bilhões previstos para a expansão do metrô, o Governo do Estado executou somente 1,2 bilhão. Olha aí! Eu estava falando que é falta de investimento. Olha o dado! Eu não estou inventando da minha cabeça. Eu estou dando um dado concreto. Tinha 4,5 bilhões para por na expansão do metrô; o Governo pôs somente 1,2 bilhão. E eu sei porque. Porque eles não conseguem agilizar a licitação, não conseguem fazer planejamento. Eu sei que, quando eu era Prefeita, eu queria por o recurso que nós conseguimos pelo aumento de uma verba vendendo espaço aéreo na Avenida Paulista, no metrô do Largo da Batata. Não tinha projeto executivo e nós não pudemos por o recurso no metrô. Isso, quando conseguimos, quase que num passe de mágica, arrumar o dinheiro para colocar.
Quer dizer, é falta de planejamento, falta de competência para fazer esse transporte da cidade funcionar.