Ao contrário do que está sendo propagado, como o preconceituoso editorial do jornal O Globo desta terça-feira, não há uma divisão entre os brasileiros. Por mais que a opinião do dono da organização que controla um dos principais tentáculos do oligopólio de mídia seja dita e repetida por todas as emissoras de rádio e tevê controladas pela organização. O que há, sim, é muito ódio e preconceito – sentimentos de quem não se conformou com o recado das urnas. O pensamento do jornal e do grupo que o controla é rasteiro: o Norte-Nordeste é atrasado porque deu maioria de votos ao PT, enquanto as regiões Sul, Sudeste-Sul e Centro-Oeste, mais evoluídas, votaram com a oposição. “Fica evidente que o país que produz e paga impostos – pesados, ressalte-se – deseja o PT longe do Planalto, enquanto aquele Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais – não só o Bolsa Família -, financiados pelos impostos, não quer mudanças em Brasília, por óbvias razões”.
É essa a baliza que orienta um dos órgãos de informação mais poderosos do Brasil. Mas sua consistência é flácida – como mostram os números do TSE. Neles, se vê que as regiões brasileiras que o jornal diz serem mais evoluídas deram 29,9 milhões de votos a Dilma Rousseff, enquanto que a região Norte e Nordeste, juntas, deu 24,6 milhões. Portanto, olhando os números, não há divisão, só na cabeça e no desejo dos derrotados. Dos 27 estados brasileiros, Dilma venceu em 15 e seu opositor em doze.
A tese do jornal fluminense é frágil ao ponto de constar entre os mitos que foram derrubados nas eleições deste ano, segundo reportagem do O Estado de S. Paulo. Não há nexo na afirmação de que o Nordeste garantiu a vitória de Dilma. O que é fato é que Dilma Rousseff venceu com o apoio de eleitores dos estados mais populosos das regiões Sul e Sudeste.
Marcello Antunes