Debatedores manifestam preocupação com ‘órfãos do ebola’

A cooperação internacional e a ajuda humanitária têm que ser reforçadas para garantir o controle da nova onda epidemiológica do vírus ebola na África, concordaram debatedores que participaram nesta terça-feira (16) de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH), presidida pela senadora Ana Rita (PT-ES). Os convidados manifestaram preocupação com o aumento dos casos de abandono de órfãos e de crianças desacompanhadas por suspeitas de infecção pelo vírus.

De acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) a epidemia provocou cerca oito mil mortes entre os mais de 18 mil casos registrados desde o início do ano, em oito países. Entre eles Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, são os mais atingidos. Ao menos cinco mil crianças desses países perderam um ou ambos os pais por causa do vírus, segundo estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“Dados que recebemos mostram que pais e mães afetados pela doença acabam morrendo e crianças ficam praticamente abandonadas É preciso que haja, além da procura dos parentes, solidariedade internacional. Queremos que o Brasil se some cada vez mais aos outros países nessa cruzada internacional em defesa da vida”, disse o senador Paulo Paim (PT-RS).

Vizinha de Guiné-Conacri e Senegal, a Guiné-Bissau não registrou nenhum caso da doença, mas, segundo a embaixadora do país no Brasil, Eugênia Pereira Saldanha Araújo, tem se mantido vigilante com relação ao surto. Ela também esta preocupada com a situação das crianças abandonadas e afirmou que não apenas os países africanos, mas todo o mundo deve se unir para ajudá-las.

“Acho que as pessoas ficaram com medo do contágio e têm agido com muitas precauções em relação a essas crianças. É conveniente que a opinião pública internacional se mobilize para termos uma reposta para essas crianças, que precisam de um apoio, não só material, mas afetivo. Do contrário, vai ser muito complicado garantir o futuro dessa geração”, apontou Eugênia.

Brasil preparado
Desde que o surto ganhou repercussão mundial, o Ministério da Saúde reforçou o monitoramento de viajantes vindos de países da África Ocidental afetados pelo ebola, relatou Cláudio Maierovitch, do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da pasta. Segundo ele, são “muito pequenas” as chances de o vírus chegar ao país.

Conforme o técnico, o Brasil está preparado para enfrentar o vírus e tem apoiado os países afetados. O governo doou R$ 25 milhões a agências das Nações Unidas para ações humanitárias.

“Todas as medidas tomadas dão segurança bastante razoável do ponto de vista doméstico, no entanto, a nossa preocupação é também com a solidariedade internacional”, acrescentou Maierovitch.

Para o representante do Ministério da Saúde, a epidemia poderia não ter se tornado realidade caso os países ricos tivessem investido em pesquisas e desenvolvimento de medicamentos e vacinas.

“Era uma doença considerada exótica, de populações pobres e isolada, que pouco ameaçava os países centrais”, assinalou.

Indranil Chakbararti, do Ministério do Reino Unido para o Desenvolvimento Internacional, também defendeu maior apoio internacional aos países africanos.

“Esse não é um desafio apenas para Guiné, para Serra Leoa, para a África Ocidental, mas para o mundo inteiro. A crise não passou ainda. Essas infecções estão aumentando, por isso a resposta internacional tem que aumentar”, afirmou.

Origem
Identificado pela primeira vez em 1976, no Zaire (atual República Democrática do Congo), o vírus ebola tem produzido desde então vários surtos no continente africano.

A doença do vírus ebola conta com uma taxa de letalidade que pode chegar até a 90% e afeta os seres humanos e primatas não humanos (macacos, gorilas e chimpanzés). A infecção ocorre por contato direto com o sangue ou outros fluidos corporais ou secreções (fezes, urina, saliva, sêmen).

O debate promovido pela CDH atendeu pedido dos senadores Paulo Paim e Eduardo Suplicy (PT-SP).

Com informações da Agência Senado

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